quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Crítica – Green Book: O Guia


Análise Crítica – Green Book: O Guia


Review – Green Book: O GuiaGreen Book: O Guia é o tipo de filme que sempre ganha evidência durante a chamada “temporada de premiações” (como Oscar, Globo de Ouro, etc). Um filme que trata de um problema social complexo de maneira acessível (e por vezes rasa), mas que trabalha para mandar seu público para casa se sentindo bem após a sessão, mesmo confrontado com problemas sociais sérios.

A narrativa é baseada na história real de Tony “Lip” Villalonga (Viggo Mortensen) que, durante a década de 60, passa a trabalhar de motorista para o pianista negro Don Shirley (Mahershala Ali) durante uma turnê pelos estados do extremo sul dos Estados Unidos que ainda mantinham leis de segregação racial.

É basicamente Conduzindo Miss Daisy (1989), mas com a dinâmica étnica invertida e desde os primeiros minutos sabemos que os dois protagonistas forjarão uma grande amizade na qual aprenderão valiosas lições um com o outro. Tony irá aprender a ser menos malandro e mais sensível enquanto que Don vai aprender a ser menos rígido e certinho.

Tony também vai aprender as consequências de seu racismo. Digo “seu” porque no começo do filme o personagem é inquestionavelmente racista, jogando no lixo os copos usados por dois trabalhadores negros que estão trocando o piso de sua casa. Durante a viagem Tony percebe como essa conduta estimula a exclusão e humilhação da população negra, como também acaba justificando a violência gratuita contra essas pessoas.

Viggo Mortensen pega um personagem que poderia ser facilmente desprezível (afinal ele é claramente racista) ou uma caricatura, mas Mortensen evita reduzir Tony a uma mera imitação de Joe Pesci em Meu Primo Vinny (1992). É um personagem bem diferente ao que estamos acostumados a ver Mortensen fazer e o ator dá a Tony um carisma malandro e um afeto genuíno pela esposa, por mais que ele tenha dificuldade em externar esse sentimento, o que ajuda a dar humanidade ao personagem e contribui para que não o detestemos de imediato.

Já Mahershala Ali faz de Don um sujeito altivo e sereno, sempre com a fala calma e controlada mesmo em situações de discriminação. O ator também traz um senso de isolamento para o personagem, alguém que não sabe ou tem dificuldade em interagir completamente com outras pessoas, seja pessoas negras ou brancas. Ali também é hábil em nos convencer do alto talento musical de Don, já que muitas de suas performances são filmadas em planos abertos, permitindo que vejamos o ator realmente tocando o piano. Juntos, Ali e Mortensen tem uma boa química e é graças a ela que investimos do desenvolvimento da relação dos dois personagens, mesmo quando tudo segue por caminhos previsíveis.

É curioso que o filme enquadre o conflito principal do filme como apenas uma questão de raça, quando existem problemas relacionados a classe social e sexualidade envolvendo Don. O texto simplifica demais a complexidade das interações entre essas três variáveis e a própria questão racial acaba reduzida ao lugar comum da necessidade de diálogo, que, claro, é importante, mas resolver o racismo é muito mais complicado do que isso. Talvez esse seja o grande problema, a empáfia que o material tem de achar que solucionando completamente uma demanda social persistente com meia dúzia de platitudes manjadas sobre o tema.

Se sustentando pelo talento da dupla principal, Green Book: O Guia peca por simplificar questões complexas e pelo excesso de lugares comuns.


Nota: 6/10

Trailer

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