Green Book: O Guia é
o tipo de filme que sempre ganha evidência durante a chamada “temporada de
premiações” (como Oscar, Globo de Ouro, etc). Um filme que trata de um problema
social complexo de maneira acessível (e por vezes rasa), mas que trabalha para
mandar seu público para casa se sentindo bem após a sessão, mesmo confrontado
com problemas sociais sérios.
A narrativa é baseada na história real de Tony “Lip”
Villalonga (Viggo Mortensen) que, durante a década de 60, passa a trabalhar de
motorista para o pianista negro Don Shirley (Mahershala Ali) durante uma turnê
pelos estados do extremo sul dos Estados Unidos que ainda mantinham leis de
segregação racial.
É basicamente Conduzindo
Miss Daisy (1989), mas com a dinâmica étnica invertida e desde os primeiros
minutos sabemos que os dois protagonistas forjarão uma grande amizade na qual
aprenderão valiosas lições um com o outro. Tony irá aprender a ser menos
malandro e mais sensível enquanto que Don vai aprender a ser menos rígido e
certinho.
Tony também vai aprender as consequências de seu racismo.
Digo “seu” porque no começo do filme o personagem é inquestionavelmente
racista, jogando no lixo os copos usados por dois trabalhadores negros que
estão trocando o piso de sua casa. Durante a viagem Tony percebe como essa
conduta estimula a exclusão e humilhação da população negra, como também acaba
justificando a violência gratuita contra essas pessoas.
Viggo Mortensen pega um personagem que poderia ser
facilmente desprezível (afinal ele é claramente racista) ou uma caricatura, mas
Mortensen evita reduzir Tony a uma mera imitação de Joe Pesci em Meu Primo Vinny (1992). É um personagem
bem diferente ao que estamos acostumados a ver Mortensen fazer e o ator dá a
Tony um carisma malandro e um afeto genuíno pela esposa, por mais que ele tenha
dificuldade em externar esse sentimento, o que ajuda a dar humanidade ao
personagem e contribui para que não o detestemos de imediato.
Já Mahershala Ali faz de Don um sujeito altivo e sereno,
sempre com a fala calma e controlada mesmo em situações de discriminação. O
ator também traz um senso de isolamento para o personagem, alguém que não sabe
ou tem dificuldade em interagir completamente com outras pessoas, seja pessoas
negras ou brancas. Ali também é hábil em nos convencer do alto talento musical
de Don, já que muitas de suas performances são filmadas em planos abertos,
permitindo que vejamos o ator realmente tocando o piano. Juntos, Ali e
Mortensen tem uma boa química e é graças a ela que investimos do
desenvolvimento da relação dos dois personagens, mesmo quando tudo segue por
caminhos previsíveis.
É curioso que o filme enquadre o conflito principal do filme
como apenas uma questão de raça, quando existem problemas relacionados a classe
social e sexualidade envolvendo Don. O texto simplifica demais a complexidade
das interações entre essas três variáveis e a própria questão racial acaba
reduzida ao lugar comum da necessidade de diálogo, que, claro, é importante,
mas resolver o racismo é muito mais complicado do que isso. Talvez esse seja o
grande problema, a empáfia que o material tem de achar que solucionando
completamente uma demanda social persistente com meia dúzia de platitudes
manjadas sobre o tema.
Se sustentando pelo talento da dupla principal, Green Book: O Guia peca por simplificar
questões complexas e pelo excesso de lugares comuns.
Nota: 6/10
Trailer
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