sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Crítica – Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava


Análise Crítica – Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava


Review Crítica – Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava
A pornochanchada é uma espécie de “gênero maldito” do cinema brasileiro, talvez o único que ainda não foi plenamente redimido tal como aconteceu com as chanchadas dos anos 30 e 40 ou o Cinema Marginal. A pornochanchada tinha esse nome por misturar narrativas eróticas, sexuais e carregadas de nudez com um quê de comédia popular, tal como as antigas chanchadas, daí o termo “pornochanchada”. O documentário Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava tenta restaurar a memória desse gênero maldito e examinar o que eles tinham a dizer.

A diretora Fernanda Pessoa fez um enorme trabalho arquívistico em coletar uma quantidade enorme de filmes do período e vai montando cenas dos filmes pesquisados para mostrar os diferentes e recorrentes temas que apareciam nas produções do gênero. A ideia parece ser demonstrar a importância da preservação desses filmes ao mostrar o quanto eles refletiam a sua época, para o bem e para o mal, lembrando que mesmo a mais a arte considerada por muitos como “baixa” (e coloco o termo entre aspas por não crer que exista essa separação entre alta ou baixa arte e cultura) pode ser um veículo para compreendermos um momento da nossa história.

Assim, o documentário nos mostra o inerente machismo desses filmes, que tratava toda e qualquer mulher como uma prostituta em potencial, bastando oferecer-lhes dinheiro para elas começassem a tirar a roupa. Frases como “se eu tivesse uma bunda daquelas ia viver de renda” denotam a visão objetificante que esses filmes tinham do corpo feminino, como se as mulheres existissem apenas enquanto brinquedo sexual para os homens.

As cenas mostram como muitos desses filmes reproduziam um certo olhar colonizado, reproduzindo a visão estrangeira do Brasil como esse lugar exótico, cheio de mulatas boazudas (a mulher negra é ainda mais objetificada que a branca) dispostas a transar com qualquer um que apareça, uma população indolente, malandra, que sempre tenta tirar vantagem.

Por outro lado, alguns filmes também exibem certa preocupação de abordar os problemas sociais do país, o fato dos ricos estarem sempre explorando os pobres e das linhas implícitas que claramente separam as fronteiras entre “casa grande” e “senzala”, revelando como condutas da época da escravidão ainda sobreviviam (e sobrevivem ainda hoje). Esse olhar é por vezes pontuado por humor, mas não deixar de demonstrar que esses filmes tem, de fato, algo a nos dizer sobre o Brasil. Do mesmo modo, também falam da exploração do trabalhador e da paranoia anticomunista que tomava conta do país durante a ditadura.

Por vezes o filme soa redundante, retornando a temas que achávamos que ele tinha esgotado e dando a impressão de que estamos assistindo a uma playlist no modo aleatório, mas no geral o trabalho de montagem é bastante eficiente em fazer cenas de filmes bem diferentes “conversarem” entre si.

Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava é um ótimo argumento sobre a preservação do cinema brasileiro e a importância dessa memória para entendermos nossa produção e nosso país.

Nota: 7/10

Trailer

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