A pornochanchada é uma espécie de “gênero maldito” do cinema
brasileiro, talvez o único que ainda não foi plenamente redimido tal como
aconteceu com as chanchadas dos anos 30 e 40 ou o Cinema Marginal. A
pornochanchada tinha esse nome por misturar narrativas eróticas, sexuais e
carregadas de nudez com um quê de comédia popular, tal como as antigas
chanchadas, daí o termo “pornochanchada”. O documentário Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava tenta restaurar a memória
desse gênero maldito e examinar o que eles tinham a dizer.
A diretora Fernanda Pessoa fez um enorme trabalho
arquívistico em coletar uma quantidade enorme de filmes do período e vai
montando cenas dos filmes pesquisados para mostrar os diferentes e recorrentes
temas que apareciam nas produções do gênero. A ideia parece ser demonstrar a
importância da preservação desses filmes ao mostrar o quanto eles refletiam a
sua época, para o bem e para o mal, lembrando que mesmo a mais a arte
considerada por muitos como “baixa” (e coloco o termo entre aspas por não crer
que exista essa separação entre alta ou baixa arte e cultura) pode ser um
veículo para compreendermos um momento da nossa história.
Assim, o documentário nos mostra o inerente machismo desses
filmes, que tratava toda e qualquer mulher como uma prostituta em potencial,
bastando oferecer-lhes dinheiro para elas começassem a tirar a roupa. Frases
como “se eu tivesse uma bunda daquelas ia viver de renda” denotam a visão
objetificante que esses filmes tinham do corpo feminino, como se as mulheres
existissem apenas enquanto brinquedo sexual para os homens.
As cenas mostram como muitos desses filmes reproduziam um
certo olhar colonizado, reproduzindo a visão estrangeira do Brasil como esse
lugar exótico, cheio de mulatas boazudas (a mulher negra é ainda mais
objetificada que a branca) dispostas a transar com qualquer um que apareça, uma
população indolente, malandra, que sempre tenta tirar vantagem.
Por outro lado, alguns filmes também exibem certa
preocupação de abordar os problemas sociais do país, o fato dos ricos estarem
sempre explorando os pobres e das linhas implícitas que claramente separam as
fronteiras entre “casa grande” e “senzala”, revelando como condutas da época da
escravidão ainda sobreviviam (e sobrevivem ainda hoje). Esse olhar é por vezes
pontuado por humor, mas não deixar de demonstrar que esses filmes tem, de fato,
algo a nos dizer sobre o Brasil. Do mesmo modo, também falam da exploração do
trabalhador e da paranoia anticomunista que tomava conta do país durante a
ditadura.
Por vezes o filme soa redundante, retornando a temas que
achávamos que ele tinha esgotado e dando a impressão de que estamos assistindo
a uma playlist no modo aleatório, mas
no geral o trabalho de montagem é bastante eficiente em fazer cenas de filmes
bem diferentes “conversarem” entre si.
Histórias Que Nosso
Cinema (Não) Contava é um ótimo argumento sobre a preservação do cinema
brasileiro e a importância dessa memória para entendermos nossa produção e
nosso país.
Nota: 7/10
Trailer
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