quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Crítica – Homem-Aranha no Aranhaverso


Análise Crítica – Homem-Aranha no Aranhaverso


Review – Homem-Aranha no Aranhaverso
A ideia da Sony fazer uma animação baseada nas múltiplas versões do Homem-Aranha parecia apenas uma estratégia caça-níqueis do estúdio para lucrar com o personagem sem precisar ceder o controle à Marvel como em Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017). Não esperava muita coisa, mas o que encontrei foi, talvez, o melhor filme do aracnídeo desde Homem-Aranha 2 (2004) do Sam Raimi.

A trama acompanha Miles Morales (Shameik Moore) que, tal como aconteceu com Peter Parker (Chris Pine), também é mordido por uma aranha radioativa e ganha poderes especiais. As coisas se complicam quando um colisor de partículas usado pelo Rei do Crime (Liev Schrieber) abre um portal para múltiplas dimensões trazendo versões do Homem-Aranha de diferentes universos. Assim, Miles precisará trabalhar com esses outros heróis, como Peter B. Parker (Jake Johnson), um Aranha fora de forma e em fim de carreira, a Gwen Aranha (Hailee Steinfeld), o Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage), Peni Parker (Kimiko Glen), uma menina japonesa dentro de um robô aracnídeo, e o Porco-Aranha (John Mulaney), um porco antropomórfico que também tem poderes de aranha.

A animação tenta emular um visual de quadrinhos em movimento, usando muitos efeitos, filtros e retículas que vemos constantemente nas páginas além de balões de pensamento ou caixas de texto contendo narrações ou textos de onomatopeias aparecendo a cada golpe ou impacto. É colorido, vibrante e cheio de personalidade, além de misturar alguns estilos diferentes de animação a partir dos diferentes personagens, como o fato de Peni remeter a uma personagem saída diretamente de um anime ou toda a movimentação do Porco-Aranha parecer com os desenhos dos Looney Toons, incluindo uma piada envolvendo o também porco Gaguinho e seu bordão “Por hoje é só pessoal”.

Apesar de toda a maluquice com a ideia de multiverso e várias versões do Homem-Aranha, a trama dá seu tempo para desenvolver Miles e o aprendizado em dominar suas novas habilidades. Seria fácil recorrer ao clichê da montagem de treinamento rapidamente mostrando o aprendizado do protagonista sob a tutela de Peter B. Parker, mas ao invés disso, o filme permite que vejamos o passo a passo disso e o desenvolvimento da relação entre os dois personagens.

Como um herói veterano e que já passou por sua cota de decepção Peter não tem muita paciência com Miles e prefere encerrar sua missão com a ajuda dos demais heróis do que ensinar o novato. Já Miles precisa passar por todo o aprendizado sobre poder, responsabilidade e família que os heróis de outra dimensão já passaram. Mesmo com o arco de Miles parecendo familiar demais, ele funciona justamente com o tempo dedicado a desenvolver a relação entre ele, o pai, Jefferson (Brian Tyree Henry), e o tio Aaron (Mahershala Ali) que possuem uma complicada relação familiar. O resultado desse cuidado e falta de pressa é uma narrativa que consegue fazer rir e emocionar em iguais medidas, já que de fato ficamos investidos no círculo familiar de Miles.

É um texto que realmente entende o que significa ser o Homem-Aranha e reverbera isso nas muitas versões do personagem, como a relação entre Peter e a tia May (Lily Tomlin) ou na dor de Gwen em ter deixado o Peter de seu universo morrer. Até mesmo o vilão Rei do Crime tem uma motivação compreensível para suas ações, embora, claro, não chegue à mesma complexidade de sua contraparte de carne e osso na série Demolidor, e essa humanidade construída nele permite que ele se torne ainda mais ameaçador por sabermos do desespero e urgência que ele tem para atingir seus objetivos. Os outros personagens podem não ter tanto desenvolvimento, mas também tem seus momentos marcantes, com Nicolas Cage acertando no tom áspero e sombrio do Homem-Aranha Noir enquanto que o Porco-Aranha diverte sempre que está em cena.

Vibrante, enérgico, divertido e encantador, Homem-Aranha no Aranhaverso é uma afetuosa homenagem ao universo (ou melhor, multiverso) do amigão da vizinhança e um dos melhores filmes do personagem em muito tempo.

Nota: 9/10

Trailer

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