Em 1892 o pai e a madrasta de Lizzie Borden foram
brutalmente assassinados a machadadas. As suspeitas recaíram sobre Lizzie e a
empregada, Bridget Sullivan, as únicas duas pessoas na casa, mas ninguém foi
preso e o crime nunca foi resolvido, ficando no imaginário popular da cultura
dos Estados Unidos.
O caso já rendeu vários filmes, livros e séries de televisão
que tentavam entender o que aconteceu e inspiraram tantas outras obras como Alias Grace da escritora Margaret Atwood
(autora de O Conto da Aia) que tinha
uma premissa bem similar aos eventos reais e foi transformada em minissérie
pela Netflix. Este Lizzie é a
tentativa mais recente de examinar o caso e imaginar o que aconteceu, mas tem
pouco a dizer que já não tenha sido explorado antes.
Na trama, Lizzie (Chloe Sevigny) é uma jovem mulher
pertencente a uma família de alta classe que percebe que o tio está tentando
tomar os negócios do pai que, por sua vez, não acredita nas acusações de
Lizzie. Ao mesmo tempo, a protagonista se aproxima de Bridget (Kristen
Stewart), a nova empregada de sua casa, e as duas começam a desenvolver um
relacionamento.
Sevigny faz de Lizzie uma mulher que se vê como igual ao
homens, não tendo qualquer problema ou reserva em questionar o pai ou o tio e é
exatamente essa audácia que a faz ser vista pelos homens como uma mulher
instável e agressiva, já que eles não estão acostumados a prestarem satisfações
a mulheres.
O arco de Lizzie e Bridget ajuda a mostrar o machismo da
época (e que permanece ainda hoje), o modo como as mulheres eram tratadas como
inferiores, indignas e meros objetos. A questão é que a narrativa não faz muito
além de apontar esses problemas e muito disso já foi explorado (e melhor) em
outras versões dessa história ou tramas inspiradas por ela, como o caso de Alias Grace.
O texto ajuda a compreender o romance entre Lizzie e
Bridget, ambas sentindo-se isoladas, incompreendidas e abusadas, assim como a
crescente frustração de Lizzie com a família que eventualmente serviria de
força motriz para o violento crime. A questão é que o filme nos conduz a todos
esses momentos de maneira muito calculada e racional para algo que desemboca em
uma raiva tão violenta.
Não ajuda também a estrutura escolhida para contar a
história, cheia de idas e vindas no tempo. A trama começa no momento do crime,
depois volta para mostrar os eventos que levaram ao assassinato, pula para o
que acontece depois do crime para só então voltar e mostrar como as mortes
aconteceram.
Como até mesmo o material de divulgação já concebe Lizzie
como a assassina, a maioria do público já entra na sala de cinema imaginando
que ela é a responsável e, dessa forma, todo o esforço de ocultar o crime até o
último minuto soa como uma complicação desnecessária que só esvazia o peso do
que é mostrado, pois até chegarmos nesse momento já temos uma ideia do que
sucedeu.
No fim das contas, a despeito do bom trabalho de Chloe
Sevigny, Lizzie acaba tendo pouco a
acrescentar à discussão de um caso que já foi tantas vezes explorado pela
ficção.
Nota: 5/10
Trailer
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