O Peso do Passado é
daqueles filmes que seria bastante esquecível se não fosse protagonizado por
uma ótima atriz. O filme mais recente da diretora Karyn Kusama, responsável
pelo excelente O Convite (2016), não
tem nada que já não tenhamos visto em outros dramas criminais e se apoia quase
que exclusivamente no trabalho de Nicole Kidman.
Na trama, a detetive Erin Bell (Nicole Kidman) encontra um
cadáver não identificado que parece trazer em si pistas que o ligam a um caso
antigo de Erin e que deixou marcas profundas na policial. Ao perceber que
finalmente pode ser capaz de encerrar a investigação que a assombra por tanto
tempo, Erin inicia uma desesperada e inconsequente corrida contra o tempo para
deter o criminoso que ela deixou escapar no passado.
É uma típica história da policial devastada por um trauma do
passado e desesperada para tentar se redimir dos problemas. A maquiagem ajuda a
dar à protagonista o aspecto de uma pessoa mal cuidada, que não dorme ou se
alimenta direita há anos, mas é o trabalho de Kidman que convence da degradação
interna de Erin. Com um olhar constantemente cansado e desiludido, um caminhar
arrastado e uma fala rouca, a sensação é que estamos praticamente diante de uma
zumbi, uma morta-viva, alguém que literal e metaforicamente se tornou um mero
espectro de si mesma.
A degradação de Erin fica ainda mais evidenciada quando a
vemos no passado através de flashbacks
e aprendemos sobre seu tempo disfarçada ao lado do agente do FBI Chris
(Sebastian Stan), ambos infiltrados na gangue do assaltante de banco Silas
(Toby Kebbell). Esses flashbacks
irrompem a todo momento, como se a personagem revivesse essas memórias
continuamente e servem para nos mergulhar no estado mental da personagem.
Os traumas de Erin afetam tanto sua própria vida quanto a
das pessoas ao seu redor, como sua filha, Shelby (Jade Pettyjohn), ou seu
ex-marido, Ethan (Scoot McNairy). Ausente por boa parte da vida da filha, Erin
tenta convencê-la a não abandonar a escola, mas tem dificuldade em se comunicar
com a garota para quem é praticamente uma estranha.
O problema é que tudo que não diz respeito a Erin carece de
impacto ou desenvolvimento. Silas deveria ser um criminoso elusivo e feroz, mas
Toby Kebbell exagera tanto em suas tentativas de fazê-lo cruel que o personagem
descamba para uma caricatura. O texto também nunca permite que o vejamos como
qualquer coisa além de um bandidinho banal, nunca justificando a complicada
operação disfarçada do FBI para pegá-lo.
Ocasionalmente o filme também pesa a mão em tentar fazer seu
universo soar sombrio e degradante criando situações que berram sem qualquer
sutileza o quanto aquelas pessoas são amorais ou corrompidas, mas sem que isso
dê qualquer complexidade moral aos acontecimentos. Um exemplo é a cena em que
Erin masturba um informante para obter informações ou quando Silas pede a um
comparsa para brincar de roleta russa, cenas que existem meramente para tentar
chocar o espectador e mais nada.
Incomoda também a tentativa de criar várias reviravoltas ao
final, em especial a revelação de recontextualizar temporalmente a primeira
cena para tentar criar algum tipo de surpresa e aquela sensação de “Rá! Te
peguei!” em quem assiste. O problema é que a revelação é desonesta, já que nada
até então dava qualquer pista dessa possibilidade, e também desnecessária, pois
a história poderia ser contada normalmente sem esse flashfoward inicial e ainda assim tudo funcionaria igual.
Com esses problemas e uma trama criminal banal, O Peso do Passado só envolve por conta
da entrega de Nicole Kidman como a protagonista.
Nota: 6/10
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