segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Crítica – O Peso do Passado


Análise Crítica – O Peso do Passado


Review – O Peso do Passado
O Peso do Passado é daqueles filmes que seria bastante esquecível se não fosse protagonizado por uma ótima atriz. O filme mais recente da diretora Karyn Kusama, responsável pelo excelente O Convite (2016), não tem nada que já não tenhamos visto em outros dramas criminais e se apoia quase que exclusivamente no trabalho de Nicole Kidman.

Na trama, a detetive Erin Bell (Nicole Kidman) encontra um cadáver não identificado que parece trazer em si pistas que o ligam a um caso antigo de Erin e que deixou marcas profundas na policial. Ao perceber que finalmente pode ser capaz de encerrar a investigação que a assombra por tanto tempo, Erin inicia uma desesperada e inconsequente corrida contra o tempo para deter o criminoso que ela deixou escapar no passado.

É uma típica história da policial devastada por um trauma do passado e desesperada para tentar se redimir dos problemas. A maquiagem ajuda a dar à protagonista o aspecto de uma pessoa mal cuidada, que não dorme ou se alimenta direita há anos, mas é o trabalho de Kidman que convence da degradação interna de Erin. Com um olhar constantemente cansado e desiludido, um caminhar arrastado e uma fala rouca, a sensação é que estamos praticamente diante de uma zumbi, uma morta-viva, alguém que literal e metaforicamente se tornou um mero espectro de si mesma.

A degradação de Erin fica ainda mais evidenciada quando a vemos no passado através de flashbacks e aprendemos sobre seu tempo disfarçada ao lado do agente do FBI Chris (Sebastian Stan), ambos infiltrados na gangue do assaltante de banco Silas (Toby Kebbell). Esses flashbacks irrompem a todo momento, como se a personagem revivesse essas memórias continuamente e servem para nos mergulhar no estado mental da personagem.

Os traumas de Erin afetam tanto sua própria vida quanto a das pessoas ao seu redor, como sua filha, Shelby (Jade Pettyjohn), ou seu ex-marido, Ethan (Scoot McNairy). Ausente por boa parte da vida da filha, Erin tenta convencê-la a não abandonar a escola, mas tem dificuldade em se comunicar com a garota para quem é praticamente uma estranha.

O problema é que tudo que não diz respeito a Erin carece de impacto ou desenvolvimento. Silas deveria ser um criminoso elusivo e feroz, mas Toby Kebbell exagera tanto em suas tentativas de fazê-lo cruel que o personagem descamba para uma caricatura. O texto também nunca permite que o vejamos como qualquer coisa além de um bandidinho banal, nunca justificando a complicada operação disfarçada do FBI para pegá-lo.

Ocasionalmente o filme também pesa a mão em tentar fazer seu universo soar sombrio e degradante criando situações que berram sem qualquer sutileza o quanto aquelas pessoas são amorais ou corrompidas, mas sem que isso dê qualquer complexidade moral aos acontecimentos. Um exemplo é a cena em que Erin masturba um informante para obter informações ou quando Silas pede a um comparsa para brincar de roleta russa, cenas que existem meramente para tentar chocar o espectador e mais nada.

Incomoda também a tentativa de criar várias reviravoltas ao final, em especial a revelação de recontextualizar temporalmente a primeira cena para tentar criar algum tipo de surpresa e aquela sensação de “Rá! Te peguei!” em quem assiste. O problema é que a revelação é desonesta, já que nada até então dava qualquer pista dessa possibilidade, e também desnecessária, pois a história poderia ser contada normalmente sem esse flashfoward inicial e ainda assim tudo funcionaria igual.

Com esses problemas e uma trama criminal banal, O Peso do Passado só envolve por conta da entrega de Nicole Kidman como a protagonista.


Nota: 6/10

Trailer

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