Inicialmente essa primeira temporada de Sex Education parece uma versão um pouco mais cômica de Skins, série britânica sobre os
relacionamentos e descobertas sexuais de um grupo de jovens. Bem, na prática é
quase isso mesmo, mas alcança um ótimo equilíbrio entre drama e humor,
compreendendo os anseios da juventude ao mesmo tempo em que brinca com as
situações insólitas dessa fase da vida.
A narrativa é centrada no jovem Otis (Asa Butterfield), que,
por algum tipo de bloqueio, não consegue se masturbar. Otis é filho de Jean
(Gillian Anderson), uma terapeuta sexual, e pela convivência com a mãe acabou
adquirindo parte do conhecimento dela sobre como ajudar as pessoas com
problemas sexuais. Quando a colega de escola Maeve (Emma Mackey) descobre as
habilidades de Otis, ela propõe que eles montem uma “clínica” na escola para
aconselhar os demais colegas. Atraído por Maeve, Otis aceita a proposta para se
aproximar dela e começa a aconselhar os colegas apesar dele mesmo ter problemas
sexuais.
O mais interessante é como a série constantemente se recusa
a encaixar seus personagens em estereótipos de narrativas adolescentes e mesmo
quando eles inicialmente parecem unidimensionais, aos poucos o texto vai dando
a eles algumas camadas de complexidade. Se Adam (Connor Swindells) parece um
típico valentão de escola, aos poucos vamos acompanhando sua vida doméstica e
descobrimos que sua atitude agressiva com os outros vem da atitude agressiva
que recebe do pai e falta de afeto que tem em casa.
Do mesmo modo, se as críticas do pai de Eric (Ncuti Gatwa)
às roupas do filho parecem inicialmente motivadas por homofobia, conforme o
relacionamento deles se desenvolve descobrimos que ele é motivado mais por
preocupação com o filho e medo que ele sofra algum tipo de violência do que por
não aceitar quem ele é. O diálogo entre os dois na entrada do baile do colégio
é inclusive um dos momentos de maior emoção da temporada quando o até então
silencioso e estoico pai de Eric põe para fora seus sentimentos.
Maeve inicialmente parece a típica rebelde durona e a atriz
Emma Mackey (que parece uma jovem Margot Robbie) é ótima em construir a atitude
petulante e mordaz da garota ao mesmo tempo em que sutilmente vai dando
indicações da vulnerabilidade da personagem. O texto e o trabalho da atriz
permitem que percebamos que muito do comportamento dela tem a ver com compensar
uma baixa autoestima e o sentimento de que ela é alguém sem valor por vir de
uma família pobre e disfuncional.
Para além de todo o drama, a série também extrai uma boa
dose de humor das aventuras sexuais dos personagens, como a busca de Lily
(Tanya Reynolds) em perder a virgindade a qualquer custo ou os namorados
esquisitos que Aimee (Aimee Lou Wood) arruma. Otis tem sua parcela de momentos
cômicos conforme a trama explora o desconforto dele com a naturalidade com a
qual a mãe fala de sexo ou sua falta de traquejo em tentar se aproximar das
garotas de sua escola.
Na verdade, Jean acaba sendo o elo fraco da temporada. Não
por culpa de Gillian Anderson, divertidíssima no modo como ela desfia com
naturalidade um imenso vocabulário sobre situações sexuais embaraçosas, mas no
fato do texto reduzi-la ao clichê da terapeuta que é ótima em dar conselhos aos
outros, mas incapaz de aconselhar o próprio filho. Constantemente violando a
confiança e os limites do filho, a conduta dela é pouco crível para alguém tão
experiente, principalmente quando ela começa um trabalho de pesquisa em cima
das disfunções de Otis. A série faz questão múltiplas vezes de mencionar as
titulações acadêmicas de Jean e é difícil crer que uma pessoa que passou por um
doutorado (e digo por ter passado por um) não tenha consciência dos problemas
éticos e de pesquisa (afinal ela não é uma observadora neutra do fenômeno) que
escrever sobre o filho sem sequer informá-lo acarretam.
Ainda assim, a primeira temporada de Sex Education é uma jornada divertida e cheia de sensibilidade
sobre os problemas da juventude e as dificuldades de amadurecer.
Nota: 8/10
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