O primeiro trailer de Titãs
não me deixou nem um pouco interessado na série. Assim como os recentes filmes
do Zack Snyder no universo DC, a prévia parecia confundir a exibição de
violência e sombras com sinônimo de maturidade quando violência ou palavrões
por si só não tornam nada complexo ou maduro. Felizmente o produto final não
chega a ser o que a divulgação dava a entender e esta primeira temporada é
razoavelmente aproveitável.
A temporada começa com Dick Grayson (Brenton Thwaites),
agora um policial, chegando à cidade de Detroit e tendo que lidar com o seu
afastamento de Bruce Wayne/Batman, assim como a possibilidade de deixar o manto
de Robin. Enquanto isso, a jovem Rachel (Teagan Croft) tem dificuldade em
controlar seus recém descobertos poderes e começa a ser caçada por um estranho
culto. Ela começa a ter visões envolvendo Dick e pensa que ele pode ajuda-la.
Ao mesmo tempo, Kory Anders (Anna Diop) acorda de um acidente de carro sem
memória de quem é e a única coisa que tem consigo é uma foto de Rachel, assim
ela tenta encontrar a garota na esperança de descobrir sua própria identidade.
Apesar de alguns excessos como a tortura de Kory no sétimo
episódio ou a infame frase “foda-se o
Batman” no episódio piloto, a violência ou linguagem gráfica raramente soa
despropositada e os personagens constantemente são confrontados com as
consequências de seu comportamento e ponderam sobre essas repercussões,
diferente do que acontecia, por exemplo, nos filmes do Zack Snyder, no qual o
fato do Superman matar Zod em O Homem de Aço (2013) nunca causa qualquer efeito no personagem.
Boa parte da violência vem de Dick, o único do grupo que é
um super-herói experiente, e que questiona o quanto sua vida com Bruce
contribuiu para que ele se tornasse quem é ou quanto disso é seu próprio lado
sombrio. Dick acaba sendo o personagem melhor desenvolvido da temporada, tendo
tanta atenção da narrativa que por vezes seus conflitos soam redundantes. As
alucinações dele no sétimo episódio, por exemplo, tem pouco a desenvolver seu
conflito interno que o episódio anterior não tenha feito ao explorar a relação
de Dick com Jason Todd (Curran Walters), que é basicamente o que Dick seria se
não tivesse uma bússola moral.
A complexidade da relação entre Dick e Bruce também emerge
do encontro com Jason, mostrando Dick surpreso pelo Batman já ter conseguido um
novo parceiro, se comportando como uma pessoa que descobre que a ex-namorada
engatou uma nova relação pouco depois do término. A atitude de Dick mostra o
quanto ele ainda é ligado a Bruce, por mais que se ressinta dele.
Rachel, que os fãs dos quadrinhos sabem que se tornará a
heroína Ravena, é outra personagem bem desenvolvida, trabalhando seu senso de
isolamento por desconhecer sua origem e o medo a respeito de seus poderes. Kory,
por outro lado, fica presa ao clichê da amnésia e tem pouco a fazer além de
funcionar como um contraponto à atitude sorumbática de Dick graças a sua
personalidade direta e seu senso de humor, ajudando a humanizar o hesitante
Robin. Gar (Ryan Potter) acaba tendo pouco espaço, recebendo apenas algumas
interações significativas com Rachel e uma cena com Kory quando viajam em um
trem.
Gar é ainda prejudicado pelos efeitos especiais irregulares
que dão vida à sua forma animal, que nunca parece pertencer ao mesmo nível de realidade
de todo resto. Kory e Rachel também são prejudicadas por efeitos especiais
pouco convincentes, com o visual dos poderes de Rachel parecendo algo saído de
algum filme de terror ruim, nunca soando sinistro ou assustador como o texto
pretende. Na verdade, os poderes dela tem mais impacto quando usados com
sutileza como quando ela abre uma ferida na garganta de um personagem. As coreografias de luta das cenas protagonizadas por Dick e outros heróis sem poderes, no entanto, são muito bem executadas e ajudam a enxergarmos o Robin como um combatente imponente e bruto.
Outro problema constante é a falta de foco da trama, que por
vezes tergiversa em episódios que existem mais para introduzir novos
personagens com potencial de terem suas próprias séries do que para desenvolver
os protagonistas. Isso acontece tanto nos dois episódios focados na dupla
Rapina (Alam Ritchson) e Columba (Minka Kelly) quanto no da Patrulha do
Destino. Algumas introduções, entanto, conseguem integrar melhor a construção
do universo com a da trama, a exemplo do já citado episódio com Jason Todd e
também a introdução de Donna Troy (Conor Leslie), que funciona como uma irmã
mais velha de Dick.
O final da temporada falha em amarrar as muitas pontas
soltas, nunca soando como um desfecho propriamente dito (o final do penúltimo
episódio funcionaria melhor como final de temporada) ao explorar a realidade
ilusória na qual Dick é preso por Trigon. O primeiro problema é que tem pouco a
acrescentar sobre o conflito do personagem, podendo ter sido abreviado para
explorar o que acontecia com os demais. O segundo problema são as interações
entre Dick e Bruce/Batman.
Eu entendo que a decisão de nunca vermos ou ouvirmos Bruce
provavelmente não foi da equipe criativa da série e sim dos figurões da
Warner/DC (que não faz muito sentido, considerando que temos um Flash nas
séries e outro no cinema), mas se Bruce vai ser alguém com quem os personagens
interagem diretamente e com o qual precisamos ficar investidos emocionalmente,
ele não pode ser uma silhueta nas sombras ou ficar constantemente mudo e fora
de foco. Não conseguimos nos importar com o conflito entre Dick e Bruce porque
Brenton Thwaites está o tempo todo contracenando com o vazio e supondo o que
Bruce está pensando já que ele nunca fala nada. Se a série vai continuar a
colocar Bruce para aparecer, ele precisa ser interpretado por alguém, nem que
seja ao menos a voz, para que o percebamos como um sujeito real.
Assim, a primeira temporada de Titãs é um começo promissor para a equipe de jovens heróis, ainda
que prejudicada por irregularidades no fluxo narrativo e no desenvolvimento de
personagens.
Nota: 6/10
Trailer
Um comentário:
Concordo com o relator... hehehe o episódio com a Patrulha do Destino eu até gostei pq foi natural. O de Rapina e Columba não acrescentou nada à trama central... e realmenre Bruce deveria falar. Já ta na hora de colocar Batman ali.. adinal, ali é outro universo. E, além de Flash, que vc citou, temos o Superman na Supergirl... e aquela cena pós-crédito? Mais um herói para a 2a temoorada (ou dois, já que tem o Supercão)
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