No papel A Vingança
Perfeita tinha tudo para dar certo: uma estilosa história de vingança com
um elenco cheio de intérpretes carismáticos como Margot Robbie e Simon Pegg. Na
prática, no entanto, o resultado é um filme vazio e cheio de afetações que não
levam a lugar algum.
Na trama, a assassina Bonnie (Margot Robbie) oferece seus
serviços para um misterioso chefão do crime. Para trabalhar com ele, porém, ela
precisa se mostrar superior aos seus concorrentes. Ao mesmo tempo, Bill (Simon
Pegg), um professor com uma doença terminal, vaga pela cidade enquanto
contempla a possibilidade de suicídio.
O texto se pretende a uma reflexão sobre violência, loucura,
vida e morte, cheio de citações literárias a obras como Alice no País das Maravilhas, construindo longos diálogos
verborrágicos com a certeza de que está fazendo algo digno de Quentin Tarantino
ou Guy Richie quando, na verdade, está bem longe disso. A verdade é que a
maioria dessas conversas nunca produz nenhuma reflexão ou insight sobre os temas abordados e as falas parecem mais
estruturadas para gerar frases de efeito “impactantes” ou “descoladas” do que
para produzir um argumento interessante a respeito de qualquer um dos assuntos.
Claro, Margot Robbie traz uma energia insana à sua assassina que impede que
tudo mergulhe no completo tédio, mas nem mesmo ela consegue salvar um texto tão
equivocadamente raso.
A trama ainda exibe (principalmente em seu terço final) uma
série de reviravoltas que claramente foram pensadas para soar surpreendentes e
convencer o público de que estamos assistindo uma trama extremamente
inteligente. A questão é que praticamente todas essas reviravoltas variam entre
o extremamente previsível, como a revelação da identidade do tal gênio do
crime, e o inútil, como o momento em que descobrimos que uma determinada
personagem tem uma irmã gêmea, sem que isso altere muita coisa do resultado
final ou transforme os personagens de alguma maneira. O roteiro parece
confundir surpresa com esperteza, achando que basta jogar qualquer coisa
inesperada de qualquer maneira para encantar o espectador.
Visualmente o filme trabalha construindo contrastes entre
sombras e intensas luzes em tons de neon, criando visuais que remetem a “neon-noirs” semelhantes aos trabalhos do
diretor Nicolas Winding Refn como Drive (2011)
e Só Deus Perdoa (2013) ou mesmo ao
que é feito pela série Riverdale.
Assim, mais uma vez a despeito de tudo ser filmado com a extrema convicção de
que está apresentando à sua audiência algo incrivelmente criativo, o filme
apenas costura referências que foram melhor executadas por outras pessoas.
Na verdade esse acaba sendo o principal problema de A Vingança Perfeita. Uma mistureba
frustrante, vazia, sem alma e sem personalidade de um conjunto amplo de
referências que nunca é costurado de maneira coesa ou singular apesar de ser
embalado com a certeza de ser algo diferente, estiloso e inovador.
Nota: 3/10
Trailer
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