Adolescência é um período de insegurança, de transformação
constante, de olhar para o espelho e não se reconhecer refletido ali. Nesse
sentido, a ideia de um filme de terror no qual o medo vem do reflexo no espelho
parece ser uma promissora metáfora sobre os problemas de autoimagem e
autoestima que permeiam essa fase da vida.
A narrativa é protagonizada por Maria (India Eisley) uma
adolescente introvertida e com poucos amigos que também se sente inadequada por
não atender ao padrões de perfeição de seu exigente pai, Dan (Jason Isaacs).
Aos poucos, ela percebe que seu reflexo no espelho se move de maneira autônoma
e começa a conversar com Maria, se identificando com Airam (Maria ao contrário,
sacaram?). Airam é tudo que Maria queria ser, confiante, segura de si, sem se
deixar se abalar pela cobrança dos pais, então a garota vai cada vez mais dando
ouvidos ao seu próprio reflexo.
Tudo isso poderia render um bom suspense psicológico, com a
personagem cedendo aos seus piores impulsos internos na tentativa de provar a
todos que não é a garotinha frágil que todos imaginam e literalmente fazer as
pazes com o que vê no espelho. O desenvolvimento, porém, descamba para um slasher genérico no qual Airam vai
matando uma a uma todas as pessoas que maltrataram Maria.
Essa abordagem podia até ser divertida pela violência, gore ou criatividade das mortes, mas a
verdade é que tudo é conduzido de maneira morosa e os atos de vingança em si
carecem de impacto. A única exceção talvez seja a morte de Lily (Penelope
Mitchell), na qual a protagonista usa o orgulho da amiga contra ela, mas de
resto ela simplesmente vai até seu alvo e o mata sem muita cerimônia. Não ajuda
que tudo seja cinzento e monocromático, fazendo tudo parecer desprovido de
identidade.
A jovem India Eisley é eficiente em construir as duas
facetas de sua personagem e as torna diferentes ao ponto em que é possível
diferenciá-las pelo tom de voz e linguagem corporal. Já o restante do elenco
fica preso em papéis unidimensionais e que por vezes pendem para o caricato,
como o cirurgião plástico interpretado por Jason Isaacs. O filme parece ter
algo a dizer sobre gaslighting e o
modo como Dan constantemente deixa a esposa dopada de remédios apenas para
mantê-la sob controle e incapaz de perceber suas traições, mas nada disso é
desenvolvido ao ponto de render algum argumento sobre a questão.
Não Olhe acaba
desperdiçando uma boa premissa com uma execução pouco inspirada, preferindo ser
um slasher derivativo e esquecível do
que a examinar os temas que propõe.
Nota: 4/10
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