Nossa coluna de textos curtos fala hoje de dois filmes
lançados diretamente para televisão. Brexit
é uma produção da HBO sobre os bastidores do referendo que levou à decisão da
Inglaterra deixar a União Europeia. Já Velvet
Buzzsaw é um terror produzido pela Netflix protagonizado por Jake
Gyllenhaal.
Brexit
A narrativa é centrada em Dominic Cummings (Benedict
Cumberbatch), a mente por trás da campanha pela saída da União Europeia durante
a votação do referendo do Brexit. A trama mostra como Cummings usou dados
coletados em rede sociais de maneira nunca vista antes graças à ajuda de
empresas como a Cambridge Analytica, também envolvida na campanha de Donald
Trump nos EUA e supostamente na do atual presidente do Brasil.
De posse dos dados e modelos de comportamento, Cummings faz
uma campanha feita para apelar para as frustrações e amarguras de uma classe
média branca que se sente perdendo seu espaço ou privilégios na sociedade. A
campanha gerenciada por Cummings se vale de informações falsas e meias-verdades
disseminadas via redes sociais e aplicativos de mensagem (tal como fizeram
Trump e Bolsonaro) para instigar o sentimento de revolta contra todo o status quo. A questão é que essa revolta
é instigada sem oferecer qualquer projeto concreto, apenas repetindo meia dúzia
de frases feitas e criando inimigos inexistentes que não se traduzem em
políticas executáveis. Assim, o filme mostra como essas estratégias levam a
decisões mal informadas e equivocadas ao meramente apelar para sentimentos
negativos sem fornecer nada construtivo.
O filme acerta em não demonizar Cummings a despeito de suas
ações moralmente questionáveis. O texto dá a ele certa razão para criticar o status político, ainda que o lado em que
ele se alia não é exatamente o melhor para mudar nada, algo que o próprio
personagem admite ao final. Ao entender a complexidade da situação o material
evita reduzi-lo a um mero vilão a ser detestado como fez o recente Vice. Por outro lado, Benedict
Cumberbatch repete o mesmo tipo brilhante e relativamente misantropo que ele já
vem interpretando em Sherlock, O Jogo da Imitação (2014), O Quinto Poder (2013) ou Doutor Estranho (2016) e que a essa
altura ele pode interpretar até dormindo. Já passou da hora de Cumberbatch arriscar
em papeis mais fora de seu padrão.
Nota: 7/10
Trailer
Velvet Buzzsaw
A premissa inicial de Velvet
Buzzsaw desperta curiosidade. Um grupo de mercadores e críticos de arte
encontra um conjunto de pinturas feitas por um artista sem fama que acabou de
suicidar. As pinturas chamam atenção e o fato do autor estar morto infla o
preço delas. A dona de galeria Rhodora (Rene Russo) quer lucrar o máximo com as
pinturas e faz um acordo com o crítico Morf Vandewalt (Jake Gyllenhaal) para
que ele tenha acesso exclusivo ao material e escreva um livro sobre o falecido
pintor e sua obra, inflando ainda mais o valor daquelas peças. Só há um
problema: todos que entram em contato com o quadro começam a morrer sob
circunstâncias estranhas e aparentes acidentes.
De início parece que o filme vai criticar a mercantilização
da arte e como isso tolhe a visão e criatividade dos artistas e reduz a arte a
algo a ser consumido pelo seu valor financeiro e não pelos sentimentos que
desperta em quem a aprecia. Também reflete sobre o papel da crítica nessa
industrialização da arte, no qual a crítica deixou de ser um espaço de reflexão
e contemplação sobre a arte e se contentou em ser uma espécie de guia de
consumo e porta voz das grandes empresas que reduzem a arte a produtos.
A questão é que lá pela metade toda essa reflexão sobre a
nossa relação com a arte na contemporaneidade é abandonada para que o filme se
torne um Premonição (2000) genérico, com o personagens sendo
mortos um a um em acidentes aparentemente fortuitos. Algumas mortes chamam a
atenção pela criatividade ou pelas imagens macabras que criam, em especial as
de Gretchen (Toni Colette) e Josephina (Zawe Ashton), mas no geral faz muito
pouco para ir além de convenções manjadas do terror slasher. É difícil mergulhar em estado de tensão porque toda a
mitologia envolvendo o quadros mal-assombrados nunca é desenvolvida e assim
nunca sabemos sob quais regras esses espíritos (ou criaturas) operam ou quais
suas intenções e assim tudo soa frouxo, prejudicando a imersão pois não sabemos exatamente do quê ter medo.
Nota: 5/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário