segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Drops – Brexit e Velvet Buzzsaw

Review Brexit e Velvet Buzzsaw


Nossa coluna de textos curtos fala hoje de dois filmes lançados diretamente para televisão. Brexit é uma produção da HBO sobre os bastidores do referendo que levou à decisão da Inglaterra deixar a União Europeia. Já Velvet Buzzsaw é um terror produzido pela Netflix protagonizado por Jake Gyllenhaal.

Brexit

Resenha Crítica - Brexit


Review Brexit
A narrativa é centrada em Dominic Cummings (Benedict Cumberbatch), a mente por trás da campanha pela saída da União Europeia durante a votação do referendo do Brexit. A trama mostra como Cummings usou dados coletados em rede sociais de maneira nunca vista antes graças à ajuda de empresas como a Cambridge Analytica, também envolvida na campanha de Donald Trump nos EUA e supostamente na do atual presidente do Brasil.

De posse dos dados e modelos de comportamento, Cummings faz uma campanha feita para apelar para as frustrações e amarguras de uma classe média branca que se sente perdendo seu espaço ou privilégios na sociedade. A campanha gerenciada por Cummings se vale de informações falsas e meias-verdades disseminadas via redes sociais e aplicativos de mensagem (tal como fizeram Trump e Bolsonaro) para instigar o sentimento de revolta contra todo o status quo. A questão é que essa revolta é instigada sem oferecer qualquer projeto concreto, apenas repetindo meia dúzia de frases feitas e criando inimigos inexistentes que não se traduzem em políticas executáveis. Assim, o filme mostra como essas estratégias levam a decisões mal informadas e equivocadas ao meramente apelar para sentimentos negativos sem fornecer nada construtivo.

O filme acerta em não demonizar Cummings a despeito de suas ações moralmente questionáveis. O texto dá a ele certa razão para criticar o status político, ainda que o lado em que ele se alia não é exatamente o melhor para mudar nada, algo que o próprio personagem admite ao final. Ao entender a complexidade da situação o material evita reduzi-lo a um mero vilão a ser detestado como fez o recente Vice. Por outro lado, Benedict Cumberbatch repete o mesmo tipo brilhante e relativamente misantropo que ele já vem interpretando em Sherlock, O Jogo da Imitação (2014), O Quinto Poder (2013) ou Doutor Estranho (2016) e que a essa altura ele pode interpretar até dormindo. Já passou da hora de Cumberbatch arriscar em papeis mais fora de seu padrão.


Nota: 7/10

Trailer



Velvet Buzzsaw

Review Velvet Buzzsaw


Review Velvet Buzzsaw
A premissa inicial de Velvet Buzzsaw desperta curiosidade. Um grupo de mercadores e críticos de arte encontra um conjunto de pinturas feitas por um artista sem fama que acabou de suicidar. As pinturas chamam atenção e o fato do autor estar morto infla o preço delas. A dona de galeria Rhodora (Rene Russo) quer lucrar o máximo com as pinturas e faz um acordo com o crítico Morf Vandewalt (Jake Gyllenhaal) para que ele tenha acesso exclusivo ao material e escreva um livro sobre o falecido pintor e sua obra, inflando ainda mais o valor daquelas peças. Só há um problema: todos que entram em contato com o quadro começam a morrer sob circunstâncias estranhas e aparentes acidentes.

De início parece que o filme vai criticar a mercantilização da arte e como isso tolhe a visão e criatividade dos artistas e reduz a arte a algo a ser consumido pelo seu valor financeiro e não pelos sentimentos que desperta em quem a aprecia. Também reflete sobre o papel da crítica nessa industrialização da arte, no qual a crítica deixou de ser um espaço de reflexão e contemplação sobre a arte e se contentou em ser uma espécie de guia de consumo e porta voz das grandes empresas que reduzem a arte a produtos.

A questão é que lá pela metade toda essa reflexão sobre a nossa relação com a arte na contemporaneidade é abandonada para que o filme se torne um Premonição (2000) genérico, com o personagens sendo mortos um a um em acidentes aparentemente fortuitos. Algumas mortes chamam a atenção pela criatividade ou pelas imagens macabras que criam, em especial as de Gretchen (Toni Colette) e Josephina (Zawe Ashton), mas no geral faz muito pouco para ir além de convenções manjadas do terror slasher. É difícil mergulhar em estado de tensão porque toda a mitologia envolvendo o quadros mal-assombrados nunca é desenvolvida e assim nunca sabemos sob quais regras esses espíritos (ou criaturas) operam ou quais suas intenções e assim tudo soa frouxo, prejudicando a imersão pois não sabemos exatamente do quê ter medo.


Nota: 5/10


Trailer

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