A proposta inicial de Megarromântico
parece ser a de criticar os restritos ideais de beleza e excesso de
idealização dos relacionamentos nas comédias românticas hollywoodianas. Ao
longo de sua execução o filme demonstra certa confusão em relação à sua
proposta, aderindo às próprias convenções que parecia criticar. Dessa maneira,
ele nunca atinge a contundência de algo como 500 Dias Com Ela (2009) que também mostrava as consequências de
idealizar demais um relacionamento e imaginar que na vida tudo se desenrola
igual a uma comédia romântica.
A narrativa é centrada em Natalie (Rebel Wilson) uma
arquiteta que desde pequena foi ensinada pela mãe a não acreditar no que o
cinema diz sobre o amor e cresceu rejeitando a ideia de amor romântico
construída pelo cinema. Um dia ela é assaltada no metrô e bate a cabeça com
força, ao acordar ela descobre que está dentro de uma comédia romântica na qual
um bonitão, Blake (Liam Hemsworth). se apaixona por ela sem motivo algum, da
mesma forma que uma bela instrutora de yoga, Isabella (Priyanka Chopra), se
apaixona por Josh (Adam Devine), melhor amigo de Natalie.
O início é competente em nos mostrar como a natureza
idealizada das comédias românticas se manifesta até mesmo nos cenários, com
ruas perfeitamente limpas e um comércio que consiste apenas de cafés, restaurantes,
lojas de grife femininas ou lojas de cupcakes
bonitinhos. O modo gratuito e exagerado com o qual Blake se comporta junto
de Natalie serve para mostrar o quanto boa parte das comédias românticas nunca
consegue justificar a paixão arrebatadora que o galã sente pela mocinha,
acontecendo apenas porque o roteiro exige que aconteça. De maneira semelhante,
a mudança na relação de Natalie com a assistente, Whitney (Betty Gilpin, da
série GLOW), serve para mostrar o
inerente machismo das comédias românticas que sempre coloca mulheres em posição
de rivalidade.
Os diálogos constantemente referenciam frases de efeito e
declarações românticas de comédias românticas famosas, mas na maioria dos casos
não tem muito a comentar sobre isso, confiando que apenas o senso de nostalgia
ou reconhecimento dessas referências será o bastante para que o público ache
tudo divertido. A questão é que tudo aquilo que inicialmente parecia crítico e
paródico cai completamente no convencional na segunda metade quando o filme se
torna uma cópia direta de O Casamento do
Meu Melhor Amigo (1997), se rendendo ao clichê da protagonista que se dá
conta quase que tarde demais que seu grande amor sempre esteve ao seu lado,
admirando-a em silêncio.
Assim toda a verve revisionista se perde em prol de
mensagens batidas sobre não fechar os olhos para o amor que está perto da
gente. Claro, há um esforço de quebrar certos padrões físicos, já que nem
Wilson nem Devine (que já tinham feito par romântico na trilogia A Escolha Perfeita) se encaixam na
aparência tradicional de mocinhas e galãs desse tipo de filme, e passar uma
mensagem de auto aceitação de que devemos nos amar como somos, mas soa muito
pouco para um filme que inicialmente demonstrava ambicionar muito mais. A
sensação é que todas as brincadeiras metalinguísticas servem mais para
facilitar que o público aceite certos lugares-comuns desgastados do que revisar
de modo crítico e consistente as temáticas e iconografia do gênero.
O resultado de Megarromântico
acaba sendo um filme incerto de sua própria identidade, indeciso entre uma
crítica quebradora de padrões e um exercício autoconsciente de conformismo.
Nota: 5/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário