O comediante Dana Carvey se tornou famoso na década de
oitenta por conta de seu trabalho no humorístico Saturday Night Live e seu talento para imitações, em especial o
modo como imitava o então presidente George H. W. Bush. A fama nos cinemas veio
pouco depois quando estrelou ao lado de Mike Myers em Quanto Mais Idiota Melhor (1992) como o headbanger Garth.
Tudo parecia certo de que Carvey se tornaria um comediante
tão famoso quanto outros colegas de sua época no SNL como Adam Sandler, Chris Rock ou o próprio Mike Myers, mas um
sério problema cardíaco em 1997 o fez diminuir o ritmo. Este O Mestre do Disfarce, escrito pelo próprio
Carvey, foi lançado em 2002 com o intuito de retomar sua carreira e relançá-lo
ao estrelato, mas foi (merecidamente) um fracasso e Carvey nunca protagonizou
outro longa-metragem desde então.
A trama é centrada em Pistachio Disguisey (Dana Carvey) um garçom
nova-iorquino de origem italiana que descobre que seu pai, Fabbrizio (James
Brolin), secretamente combatia o crime como um “Mestre do Disfarce”, alguém que
é capaz de assumir a aparência e voz de qualquer um. Quando Fabbrizio e a mãe
de Pistachio (que não tem nome) são sequestrados pelo vilão Devlin Bowman, o
protagonista precisará dominar as habilidades de sua família para resgatá-los.
Para isso, contará com a ajuda do avô e da assistente, Jennifer (Jennifer
Esposito).
Tudo, claro, é uma grande desculpa para Carvey mostrar seu
inegável talento como imitador e o fato do filme inteiro parecer uma sequência
de esquetes soltos porcamente costurados importaria pouco se o filme fosse de
fato engraçado. Na verdade, a ideia em si parece mais apropriada a algo a ser
feito como um segmento de programa de humor do que como um longa-metragem no
qual é preciso de fato contar uma história e desenvolver personagens ao invés
de simplesmente encenar uma determinada situação engraçada.
Há pouco senso na trama. O plano do vilão, de obrigar
Fabbrizio a usar suas habilidades para roubar peças valiosas ao redor do mundo,
até parece fazer sentido em um primeiro momento, mas desaba quando percebemos
que o meio para alcançar isso é colocar Fabbrizio para se disfarçar como diferentes
celebridades para entrar nos locais e simplesmente pedir os artefatos. Ora, em
se tratando de pessoas famosas seria muito fácil perceber o padrão nos sumiços
dos objetos, não seria mais fácil pedir que ele se disfarçasse de um dos
guardas dos locais? O romance entre Jennifer e Pistachio acontece por pura
exigência de roteiro e eu também deveria falar do quanto é estranho ver Carvey,
que tinha 47 anos quando o filme foi feito, interpretar um personagem de 23,
mas isso é o menor dos problemas da fita.
Boa parte do humor vem do fato de Pistachio escolher os
disfarces errados para se infiltrar nos locais, mas isso também faz pouco
sentido. Eu entendo que o filme queira nos dizer que ele é um aprendiz
trapalhão, mas só é preciso um pouco de bom senso para saber que se vestir como
uma completa aberração é o exato oposto de passar desapercebido. Há também a
repetição cansativa dos mesmos tipos de gags,
como o fato do vilão peidar toda vez que dá risada. Não é lá muito engraçada da
primeira vez que acontece e vai se tornando menos ainda à medida que é repetida
ao longo do filme.
Algumas piadas inclusive quebram toda a verossimilhança do
universo fílmico: em dado momento ele se veste de “homem tartaruga” para entrar
em um clube da alta sociedade e simplesmente morde o nariz de um homem
arrancando-o fora e depois o cospe de volta no rosto do sujeito, com o nariz
retornando ao lugar como se nada tivesse acontecido. Como assim? Eu sei que é
um filme sobre pessoas com incrível habilidade de disfarce, mas mesmo isso não
ajuda a explicar essa cena bizarra e despropositada dentro da lógica
estabelecida pelo universo fílmico.
Outro problema é a bagunça tonal da narrativa. Ela tem o
tempo todo um tom claramente ingênuo e infantil, dando a impressão de algo
feito para crianças pequenas, mas constantemente se apoia em piadas com
referências pop a coisas que não são
exatamente apropriadas para essa faixa etária, como O Exorcista (1973) ou Scarface (1983). Com quem, afinal, esse
filme tenta se comunicar? Quem é o seu leitor-modelo? Em uma entrevista feita
ao canal E! na época do lançamento do
filme Carvey diz que a ideia do filme veio do fato de seus filhos, à época
pequenos, ficavam pedindo para ver filmes de classificação 14 anos e então ele
pensou em fazer algo que tivesse uma “cara” de aventura mais jovem, mas que
fosse um filme para crianças. A ideia é até louvável, mas o resultado, ao invés
de uma mescla orgânica desses dois elementos, é uma bagunça tonal que tenta
falar para vários públicos diferentes, mas não tem nada de satisfatório para
nenhum.
Apesar de continuar achando Carvey um imitador extremamente
habilidoso e um bom comediante de stand-up,
devo dizer que me submeter aos intermináveis oitenta minutos de O Mestre do Disfarce foi uma das
experiências mais dolorosas da minha vida.
Trailer
2 comentários:
Um verdadeiro lixo televisivo beira o ridículo e a raiva com vergonha alheia.
Concordo com vc meu amigo.
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