segunda-feira, 1 de abril de 2019

Crítica – Coisa Mais Linda


Análise Crítica – Coisa Mais Linda


Review – Coisa Mais Linda
Comecei a assistir Coisa Mais Linda, nova série brasileira da Netflix, sem saber muita coisa exceto que se passava no Rio de Janeiro na década de 50 e mostrava um pouco do cenário musical da cidade. O que encontrei acabou me surpreendendo positivamente, já que a série não apenas visava uma mera reconstrução histórica, mas também contemporizar várias questões do período, como o machismo, o racismo e um certo elitismo cultural, ao mesmo tempo que celebra essa belle époque da cultura carioca e brasileira.

A narrativa é centrada em Malú (Maria Casedevall), um jovem mulher da elite agrária paulista que vai ao Rio de Janeiro encontrar o marido, que foi para a cidade para abrir um restaurante. Chegando lá Malú descobre que o marido a abandonou e levou consigo todo o dinheiro do casal. Sem perspectivas, ele decide continuar o empreendimento do marido por conta própria, dessa vez transformando-o em um clube de música. Para tal, ela contará com a ajuda das amigas Adélia (Pathy Dejesus), Lígia (Fernanda Vasconcellos) e Thereza (Mel Lisboa).

A trama mostra a dificuldade dessas mulheres em conseguirem independência e respectivos espaços de trabalho. Thereza é jornalista, mas é relegada a pautas consideradas “femininas” como moda e culinária, cujo objetivo é ensinar as mulheres que leem esse material a serem “belas, recatadas e do lar”. Mais de uma vez ela ouve do chefe que mulheres são mais difíceis de trabalhar e homens são mais objetivos na função. Inclusive, o único meio de convencer os superiores a contratar outra redatora mulher, é que ela será mais barata do que contratar um homem.

Lígia, por sua vez, é constantemente reprimida pelo marido. Ela deseja ser cantora, mas o esposo, que tem ambições políticas de ser prefeito do Rio, a obriga a desistir do sonho já que isso seria “mau visto” pela sociedade. Ele não só controla todos os aspectos da vida de Lígia, tratando-a como um troféu a ser exibido segundo sua conveniência, como constantemente a submete a abusos físicos e psicológicos. A ideia de que esse tipo de relação tóxica é algo normal (e era à época) é reforçada pela própria Lígia, que justifica e relativiza as agressões do marido dizendo que ele está sob muito estresse, que a culpa foi dela por tê-lo provocado, sem consciência de que ela não precisa se submeter a esse tipo de abuso.

O arco de Adélia, mostra também o racismo da sociedade, colocando até personagens mais progressistas como Thereza relutando em tratar Adélia como uma igual por causa da cor de sua pele. Adélia inclusive chama a atenção de Malú para as desigualdades que existem entre as duas, com as coisas vindo mais fáceis para a branca Malú do que para ela, revelando os privilégios da protagonista.

As quatro atrizes principais são ótimas em convencer do laço de amizade que há entre elas, exibindo uma boa química juntas. Elas são apoiadas por um consistente elenco coadjuvante do qual é possível destacar Ícaro Silva como o boêmio músico Capitão, Leandro Lima como talentoso e problemático cantos Chico Carvalho e Gustavo Machado interpretando o mesmo tipo de canalha sedutor que fez tão bem em Elis (2016) como o produtor musical Roberto. A série ainda apresenta uma competente reconstrução de época, prestando atenção aos figurinos, à arquitetura e a paleta de cores do período.

Encerrando a temporada com um gancho que nos deixa ansiosos por um segundo ano da série, Coisa Mais Linda é uma ótima reconstrução da vida no Brasil dos anos 50 sob a ótica feminina.

Nota: 8/10

Trailer

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