Este Cópias: De Volta
à Vida se propõe a ser uma ficção científica que tenta discutir
consciência, a mente humana e a transcendência da vida, no entanto acaba
abandonando todas essas ideias lá pela metade de sua duração, preferindo ser um
suspense esquecível sem nada a dizer.
A trama acompanha Will (Keanu Reeves) um cientista que
pesquisa maneiras de transmitir a consciência de mortos para corpos robóticos,
mas cujos fracassos sucessivos tem deixado impaciente seu chefe, Jones (John
Ortiz). Um dia, durante uma viagem, ele se envolve em um acidente de carro e
toda a sua família morre. Sem aceitar a fatalidade, ele decide criar réplicas
da esposa e filhos para que eles continuem vivos.
Era de se imaginar, dado o começo do filme, que ele tentaria
passar as mentes deles para corpos robóticos, mas não, ele os clona. Isso não
faz nenhum sentido, afinal porque cargas d’água no universo desse filme a
clonagem seria considerada uma ação antiética enquanto transferir mentes para robôs
mais fortes e resistentes que qualquer humano seria aceitável? Mais que isso,
porque robôs seriam um receptáculo melhor para a mente do que um corpo orgânico
e com o mesmo DNA do sujeito original?
Claro, Will eventualmente se dá conta de que essa última
pergunta é correta, mas é difícil de crer que alguém que passou anos
pesquisando isso demorou tanto para constatar algo tão óbvio que eu já tinha
pensado com quinze minutos de filme. Há também uma reviravolta perto do final
que mais ou menos explica a fixação da empresa de Will com os corpos robóticos,
mas é muito pouco muito tarde depois de obrigar o espectador a passar horas a
fio acompanhando uma trama com um universo incoerente e personagens agindo como
completos idiotas.
O filme também ignora totalmente o luto do protagonista ou o
peso da decisão moral de não reviver um dos membros da família por conta da
falta de equipamento. Desta maneira, todo o arco de Will é desprovido de drama
já que não há praticamente nenhuma consequência em seus atos. Com isso, Keanu
Reeves fica limitado a vagar de roupão pela casa com uma expressão
exageradamente sorumbática enquanto espera os clones crescerem. A atuação de
Reeves confunde canastrice com excentricidade e acaba resultando em algo mais
constrangedor do que dramático. Nas mãos de alguém como Nicolas Cage o exagero
podia até render algo toscamente divertido, mas Reeves apenas causa vergonha
alheia.
As decisões de Will quanto ao que fazer com a família
revivida também não carecem de uma motivação adequada e que faça sentido. Por não conseguir reviver Zoe, sua
filha caçula, ele decide apagar as memórias com ela de todo o resto da família,
o que é completamente estúpido, afinal o resto do mundo ainda se lembrará da
menina. Como Will vai explicar o sumiço de Zoe para todas as outras pessoas?
Não seria mais fácil explicar pros parentes revividos que eles se envolveram em
um acidente e que Zoe não sobreviveu? Aliás, ele leva bastante tempo para se
dar conta de que precisa também apagar os vestígios físicos da filha, como
fotos e desenhos da parede, o que torna difícil acreditar que Will é de fato um
cientista brilhante.
Também não faz sentido nenhum que os clones levem exatamente
dezessete dias para alcançar a idade que os familiares tinham quando morreram,
afinal cada membro da família tinha uma idade diferente, então como o tempo de
maturação pode ser igual? Já passou metade da duração do filme quando a família
finalmente desperta e imaginamos que finalmente haverá algum conflito, mas não,
nada acontece. Primeiro vemos a família questionar a passagem de tempo, como o
fato do leite que um deles comprou no dia anterior ao acidente já estar
estragado (para eles só um dia se passou, mas na verdade se passaram três
semanas) e imaginamos que isso será um ponto de conflito ou que Will finalmente
usará o acidente para explicar o lapso temporal deles, mas não, fica tudo por
isso mesmo.
Depois assistimos os membros da família sentirem diversos
mal-estares físicos e apresentarem problemas de coordenação motora, derrubando
coisas acidentalmente. Imaginamos que isso será um indicativo da degradação
física e mental deles, mas nada acontece e tudo isso é esquecido ao final, não
tendo repercussão alguma. Quando Mona (Alice Eve), a esposa de Will, o vê
mexendo nas memórias de uma das filhas ou quando Mona se lembra do acidente e
se dá conta de que morreu, é de se pensar que isso causará algum conflito entre
ela e Will, mas, de novo o filme não dá qualquer prosseguimento a essas
revelações, fazendo tudo parecer inconsequente.
Próximo ao final Will revela a Mona que apagou as memórias
de Zoe e pensamos que, enquanto mãe, Zoe ficará ultrajada e revoltada com a
decisão do marido, mas mais uma vez ela aceita tudo tranquilamente. Desta
maneira o filme ignora todos os pontos potenciais de conflito, falhando em
desenvolver todo o debate moral e científico proposto inicialmente.
Tudo isso descamba em uma reviravolta que joga a trama no
domínio da espionagem corporativa e que apresenta sua própria série de
incoerências. Afinal, se Will sabia que todos os clones criados a partir do
equipamento da empresa vinham com um mecanismo de rastreamento, porque ele não
tentou remover o rastreamento antes de criá-los? O que se segue é uma série de
perseguições e lutas burocráticas, sem inspiração e prejudicadas pelos péssimos
efeitos especiais que dão vida às cópias robóticas, cujo design é uma mistura entre os autômatos do filme Eu, Robô (2004) e os efeitos
visuais ruins de O Passageiro do Futuro
(1992).
Apesar de se achar uma sci-fi espertíssima, Cópias: De Volta à Vida é uma bagunça
estúpida, incoerente, inconsistente e vazia, incapaz de dar conta de dissertar
sobre as complicadas questões morais e científicas que se propõe.
Nota: 1/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário