terça-feira, 9 de abril de 2019

Crítica – Loja de Unicórnios


Análise Crítica – Loja de Unicórnios


Review – Loja de Unicórnios
Estreia da atriz Brie Larson como diretora, Loja de Unicórnios parecia ser algo excêntrico e aloprado como Quero Ser John Malkovich (1999), mas lamentavelmente vai ficando cada vez mais convencional conforme a trama segue, mais por conta do texto do que das escolhas de Larson como realizadora.

Kit (Brie Larson) é um jovem que sonha em ser artista, mas é expulsa da faculdade pelos professores, que detestam seu trabalho. Voltando a morar com os pais e sem perspectiva de vida, ela aceita um trabalho temporário em uma empresa que fabrica aspiradores de pó. Infeliz nesse trabalho convencional, ela vê a perspectiva de mudar de vida quando é contatada por um misterioso vendedor (Samuel L. Jackson) que lhe promete um unicórnio se Kit se mostrar digna e responsável o suficiente.

O visual colorido da loja contrastando com a fotografia naturalista ajuda a criar um clima de realismo fantástico, assim como a interpretação exagerada de Samuel L. Jackson como o bizarro vendedor de unicórnios. A questão é que a despeito de toda essa premissa incomum, quanto mais o filme avança, mais ele vai se tornando extremamente similar a uma onda de indies similares sobre pessoas jovens excêntricas e imaturas precisando encontrar seu lugar no mundo e inevitavelmente amadurecer.

Fica evidentemente claro desde os primeiros minutos que todos os testes e provas que o vendedor impõe a Kit existem para testar sua maturidade e autonomia como adulta e que todo o processo é uma grande metáfora para que ela finalmente deixe de lado seu comportamento infantilizado e entenda que é possível amadurecer sem precisar abrir mão de tudo que ela é. Desta maneira, a trama acaba se tornando um exercício de paciência conforme aguardamos a narrativa alcançar um ponto que o espectador já entendeu uma hora atrás.

O filme ainda tenta comentar sobre alguns outros temas, a exemplo do machismo. Kit constantemente recebe uma certa atenção exacerbada do vice-presidente (Hamish Linklater) da empresa na qual trabalha e desde o início seus comentários e toques indesejados criam desconforto para Kit. O machismo volta a aparecer na apresentação das propostas para a nova linha de produtos da empresa, com a publicidade sendo construída a partir de imagens de mulheres boazudas. A questão é que o tema tem pouco impacto na jornada de Kit ou nas ideias centrais do filme, soando desconexo de todo o resto e relativamente rasteiro no tratamento dessas questões.

Larson é competente em retratar o senso imaturo de frustração de Kit, que parece não entender porque o mundo não é exatamente do jeito que ela deseja. É uma personagem que poderia ser desagradável e difícil de conectar, mas Larson dá uma certa doçura ao seu comportamento infantil. A essa altura, considerando o sucesso recente de Capitã Marvel, já ficou evidente a boa química que Larson tem em cena com Samuel L. Jackson e isso volta a ser explorado aqui nas interações entre Kit e o vendedor.

Por outro lado, o desenvolvimento da amizade entre Kit e Virgil (Mamoudou Athie) nunca soa plenamente merecido. Sim, ele é como Kit no sentido de ser alguém fechado em seu mundinho que precisa sair ao mundo e arriscar fazer outras coisas para descobrir o próprio potencial, mas a amizade (e talvez algo mais) que floresce entre eles, parece mais uma exigência de roteiro do que algo que ocorre naturalmente por não percebemos razões convincentes para que Virgil continue a interagir com ela além de uma relação de trabalho.

Desta maneira, a despeito de uma premissa curiosa, Loja de Unicórnios é só mais uma história sobre amadurecimento que retorna a uma série de ideias já exploradas por dezenas de outros filmes sobre pessoas excêntricas tentando encontrar seu lugar no mundo. Convencional demais para um ponto de partida tão diferente.

Nota: 5/10


Trailer

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