Cameron Post (Chloe Moretz) é uma adolescente vivendo no
interior dos Estados Unidos na década de noventa. Ela tem um namorado, mas seu
principal interesse romântico é sua melhor amiga, Coley (Quinn Shephard). Quando
o namorado de Cameron flagra ela e Coley se beijando, Cameron é enviada a um
“acampamento de conversão”, um lugar no qual jovens homossexuais são enviados
para passar por uma espécie de “terapia cristã” de “cura gay” no qual irão
aprender a se livrar do pecado.
O que primeiro chama atenção em O Mau Exemplo de Cameron Post é como ele evita maniqueísmos fáceis
e denuncismos rasteiros. Seria muito fácil transformar o acampamento em uma
prisão horrenda e os “terapeutas” em monstros sádicos intolerantes, mas a trama
consegue encontrar um módico de humanidade mesmo nas pessoas mais
repreensíveis, reconhecendo a complexidade da situação sem, no entanto, deixar
de lado a gravidade das consequências desse pseudo tratamento.
Chloe Moretz faz de Cameron uma garota que tem plena ciência
de que seu interesse reside em meninas, mas seu conforto inicial consigo mesma
vai aos poucos sendo minado na suposta terapia, incutindo na personagem um
senso de que há algo errado consigo e que ela só é daquele jeito porque algo
errado lhe aconteceu no passado. Ao mesmo tempo, ela encontra ali amigos
verdadeiros em Jane (Sasha Lane) e Adam (Forrest Goodluck) que, assim como ela,
também não tem problema algum em serem quem são e apenas tentam sobreviver ao
“tratamento”. Assim, por mais que seja um ambiente negativo para aqueles
jovens, eles ainda conseguem encontrar afeto, amizade e diversão.
Nem todos os jovens que estão ali, no entanto, são tão
seguros de si como o trio principal. Um exemplo é Erin (Emily Skeggs), a colega
de quarto de Cameron, ela de fato crê que tem um problema que precisa ser
curado, mas não deixa de exibir e sentir seus desejos, chegando a beijar
Cameron em um dado momento, se sentindo culpada e errada pela própria
sexualidade. Mesmo alguns terapeutas, como “ex-gay” Rick (John Gallagher Jr),
são pessoas igualmente inseguras de si mesmas, da própria sexualidade ou do
tratamento que estão vendendo. Isso fica evidente em uma conversa entre Rick e
Cameron perto do final, na qual vemos que Rick não tem a menor ideia do que
está fazendo ou possui qualquer metodologia estruturada, sendo guiado apenas
pela crença religiosa de que ser gay é algo aberrante e precisa ser revertido.
As consequências desse tratamento sobre a psique dos jovens
são mostradas com dureza na cena em que uma das terapeutas pisa em Mark (Owen
Campbell), levando-o à automutilação depois que a terapeuta diz que ele não
deve se orgulhar por ser gay. O filme também coloca em sua mira a falta de ação
do governo em coibir a propagação de falsa terapia, algo mostrado na cena em
que Cameron conversa com um fiscal do Estado sobre o que aconteceu com Mark. O
agente do governo diz que não está ali para avaliar o método do acampamento, só
para investigar se há indícios de maus tratos físicos ou psicológicos ao passo
que Cameron indaga como pode o fato desse tipo de lugar programar as pessoas
para se odiarem não qualifica maus tratos? Como o governo nada faz para coibir
esses “tratamentos” tragédias como a de Mark estão fadadas a se repretirem.
A trama ainda encontra espaço para dar alguma nuance à tia
de Cameron, que poderia ser reduzida a uma mera intolerante. Ao invés disso, o
filme nos mostra que ela também está sentida com a situação quando a ouvimos
chorar ao telefone com Cameron. Nesse momento percebemos que por mais que
acredite estar fazendo algo correto, a tia da protagonista também sofre por ter
colocado Cameron no acampamento.
Desta maneira, O Mau
Exemplo de Cameron Post é um complexo estudo sobre toda essa ideia de cura
gay, mostrando como esses métodos dificilmente produzirão qualquer coisa
positiva.
Nota: 8/10
Trailer
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