Eu fiquei bem surpreso com a primeira temporada de Samantha! O que poderia ser uma comédia
esquecível sobre uma personalidade midiática no ostracismo acabou se revelando
um competente e divertido estudo sobre o culto às celebridades e sobre uma
geração de adultos que se recusa a crescer e está constantemente apegada à
nostalgia. Essa segunda temporada não chega a dizer nada de novo, mas ao menos
aprofunda seu entendimento sobre seus personagens.
A trama começa com Samantha (Emanuelle Araújo) descobrindo
que seus antigos colegas de programa, Tico (Rodrigo Pandolfo) e Bolota
(Maurício Xavier), vão lançar um filme biográfico sobre ela chamado “Samonstra”.
Diante do que considera um ataque, Samantha tenta sabotar o filme ao mesmo
tempo em que se esforça para reconstruir sua imagem como algo além de um
símbolo nostálgico.
O tema da imaturidade volta a aparecer na ida de Samantha a
uma reunião de pais na escola dos filhos. A reunião mostra como os adultos se
mostram facilmente dispostos a abandonar as responsabilidades parentais e
delegar tudo à escola, conforme Samantha os faz ver como tudo aquilo é chato e
trabalhoso. A temática também é vista na relação de Dodói (Douglas Silva) com
sua controladora mãe (Zezeh Barbosa), que o trata como uma criança pequena.
Essas ideias retornam no final da temporada quando Samantha
é sequestrada por uma fã obsessiva (Mariana Xavier), que vê na artista um
refúgio para as dificuldades da vida adulta e um lembrete de uma época mais
simples e mais fácil. Um escapismo nostálgico que se coloca com um obstáculo ao
amadurecimento e não como uma rememoração que nos lembra do caminho trilhado.
Tal como na primeira temporada, são feitas várias críticas à
futilidade do mundo do entretenimento e como as celebridades fazem qualquer
coisa para se manterem em evidência, como tentar adotar uma causa da qual não
fazem parte, como Samantha tenta fazer com o feminismo, ou no fato da
protagonista resolver prolongar o circo midiático durante o seu sequestro. O deboche
se sustenta graça aos personagens pitorescos que a série consegue criar, do já
estabelecido Marcinho (Daniel Furlan), empresário picareta de Samantha, à aloprada
diretora teatral (Alessandra Maestrini) com quem Samantha trabalha em sua
tentativa de se tornar uma atriz séria.
A temporada acaba fazendo um mergulho maior do passado de
Samantha e um esforço para entender como ela se tornou a pessoa egoísta e
imatura que é. No penúltimo episódio se torna possível compreender que seu
individualismo é fruto de um complexo de abandono, funcionando como um
mecanismo de defesa para evitar que ela seja novamente abandonada, mas,
logicamente, servindo como uma barreira para que ela se aproxime de outras
pessoas e um obstáculo para o seu crescimento. Ao final da temporada ela
finalmente parece entender sua própria imaturidade, tomando a decisão de
enfrentar as consequências pelos seus atos ao mesmo tempo em que faz algo para
beneficiar outra pessoa além de si mesma.
A temporada, no entanto, tem alguns pontos problemáticos. Um
deles é a brusca mudança de personalidade da mãe de Dodói, que no início que
controlar todos os aspectos da vida do filho, mas ao final da temporada que
ficar o mais distante possível de Dodói e sua família. Do mesmo modo, a questão
do real parentesco de Brandon (Cauã Gonçalves) é rapidamente resolvida com
Samantha dizendo que o filho foi mesmo contra as probabilidades genéticas e
pronto. Eu imagino que a ideia seria transmitir o argumento de que não importa
a relação sanguínea dele, que a família é aquela que nos cria e nos ama, mas
fica a impressão de que a criação desse conflito pouco acrescenta ao personagem
e que a ideia de família poderia ser construída sem forçar a questão do
parentesco.
Ainda assim, a segunda temporada de Samantha! continua sendo um sólido deboche da cultura midiática e
da imaturidade de muitos que chegam à vida adulta.
Nota: 8/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário