Dirigido por Vittorio De Sica, Ladrões de Bicicleta é um dos principais e mais lembrados filmes do
neo-realismo italiano. O marco inicial do movimento é normalmente considerado Roma, Cidade Aberta (1945), de Roberto
Rossellini, mas Ladrões de Bicicleta tem
um olhar um pouco menos pessimista que filmes de Rossellini do período como o
próprio Roma, Cidade Aberta ou Alemanha Ano Zero (1948).
A narrativa se passa na Itália devastada após a Segunda Guerra
Mundial. Antonio (Lamberto Maggiorani) precisa desesperadamente de um emprego
para sustentar sua família. Quando ele consegue um trabalho colando cartazes,
seu chefe diz que ele precisa ter uma bicicleta, mas Antonio penhorou a sua.
Sem escolha, a esposa de Antonio vende alguns bens da família para resgatar a
bicicleta, mas já nos primeiros dias de trabalho a bicicleta de Antonio é
roubada. Sem meios para fazer seu trabalho, Antonio e o filho correm pelas ruas
de Roma em busca da bicicleta e do ladrão.
Como era de costume no movimento neo-realista, De Sica
filmou tudo em locação, sem usar cenários construídos, para manter a
autenticidade da paisagem urbana romana e o senso de devastação social e
política que a cidade exibia no momento. O elenco é composto por não atores, na
esperança de que esses indivíduos que viviam a realidade social tacanha do país
fossem mais hábeis do que qualquer ator profissional em transmitir o senso de
desamparo de viver naquele contexto. O protagonista Lamberto Maggiorani, por exemplo,
era um trabalhador de fábrica. A câmera segue os personagens quase como um
registro documental, como se não fosse uma história roteirizada e que os
eventos dependessem exclusivamente da decisão dos personagens.
Antonio e seu filho Bruno (Enzo Staiola) caminham por uma
Itália destruída tanto física quanto estruturalmente. A população tenta fazer o
que pode para sobreviver, cada um dando seu jeito, muitos às margens da
legalidade. A crise que se abate sobre a família do protagonista não inicia com
o roubo da bicicleta, mas tem no roubo a culminância de um problema que
começara tempos atrás, desde a Guerra, e foi cada vez piorando, deixando a
população mais e mais desamparada.
Ainda assim, as interações entre Antonio e Bruno nos
permitem perceber como ainda existe afeto e calor humano, mesmo diante das
péssimas condições nas quais aqueles personagens se encontram. O garoto Enzo
Staiola sequer parece alguém sem nenhuma experiência em dramaturgia, agindo com
a segurança de um adulto experiente e transmitindo a impressão de que as parcas
condições obrigaram Bruno a amadurecer muito mais cedo do que deveria.
O final, apesar de não resolver o problema dos personagens,
encerra com uma pequena ponta de esperança ao demonstrar a pena do sujeito que
quase foi roubado por Antonio em decidir não denunciar o protagonista ao ver
Bruno chorando ao lado dele. É um indicativo que ainda resta um módico de
humanidade e compaixão em meio ao caos e devastação que assola o país.
Desta maneira, Ladrões
de Bicicleta é um excelente exemplar da força expressiva do movimento
neo-realista e uma contundente reflexão sobre a conduta humana diante de uma
realidade devastadora.
Trailer
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