quinta-feira, 23 de maio de 2019

Crítica – Anos 90


Análise Crítica – Anos 90


Review – Anos 90
Anos 90 marca a estreia do comediante Jonah Hill como diretor e entrega um retrato sincero sobre juventude e o senso de deslocamento e alienação que acompanham a adolescência. A narrativa segue o jovem Stevie (Sunny Suljic), um garoto de treze anos que, em busca de um refúgio para sua tumultuada relação com o irmão mais velho, Ian (Lucas Hedges), e a mãe, Dabney (Katherine Waterston). Ele encontra esse refúgio ao se tornar amigo de um grupo de garotos mais velhos que trabalham em uma loja de skate e começa a se integrar a este grupo.

Hill constrói um olhar bem naturalista sobre a juventude, evitando julgar ou analisar demais o comportamento desses personagens, seguindo eles como se estivesse dirigindo um documentário observacional. Esse senso de naturalismo emerge também das performances dos atores que parecem nem estar sendo dirigidos e sim, jovens dos anos 90 que Hill pegou da rua graças ao uso de alguma máquina do tempo. Em especial Sunny Suljic, que evoca bem esse senso de solidão adolescente, da necessidade quase que desesperada de se encaixar em algum lugar, de encontrar a própria identidade e grupo para chamar de seu.

O fato da direção de Hill não tecer julgamentos sobre seus personagens, no entanto, não significa que ele romantize a jornada de Stevie, mostrando seus momentos de imaturidade, de más escolhas e aquelas ações típicas de adolescente de tentar demonstrar ser mais maduro e preparado para o mundo do que realmente é. É como se Hill reconhecesse que tudo isso, os erros, os chiliques, as ações impulsivas, fossem parte do processo de amadurecimento e autodescoberta da juventude.

Nesse sentido, Hill também trabalha o senso de angústia juvenil do protagonista, aquele sentimento de praticamente todo adolescente de que ele, e só ele, tem a pior vida do mundo, a maior quantidade de problemas recai sobre si e a vida dos demais é muito melhor ou mais fácil. Isso fica evidente no diálogo que Stevie tem com o amigo Ray (Na-kel Smith), no qual Ray lembra ao protagonista as vidas difíceis do resto do grupo da loja de skate.

Como no restante do filme, é um momento sem grandes arroubos dramáticos, sem chamar atenção para si, mas muito significativo para a jornada do protagonista e muito real no modo como o faz perceber que ele não está sozinho em sua angústia. Afinal, no mundo real, ninguém tem uma grande cena de epifania como no cinema.

Por outro lado, nada do que Hill faz aqui, seja em termos estéticos ou temáticos tem muito a dizer que não já tenha sido dito ou feito antes. Não avança, revisa ou desloca nada que não soubéssemos sobre juventude ou adolescência a despeito de seu olhar cuidadoso e competente reconstrução de época.

Desta maneira, em Anos 90 Jonah Hill oferece um olhar naturalista e agridoce sobre juventude e sua busca por identidade, ainda que não saia do traçado do que já estamos habituados neste tipo de narrativa.

Nota: 7/10


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