O que aconteceria se o Superman fosse maligno? Se Jor-El não
o tivesse enviado ao nosso planeta para ser um símbolo de esperança e sim um
conquistador? São essas as perguntas que este Brightburn: Filho das Trevas tenta responder, ainda que também
convoque para si outras estruturas familiares do terror
Na trama, um casal de fazendeiros no interior do Kansas,
Tori (Elizabeth Banks) e Kyle (David Denman), que encontram uma nave caída em
suas terras e um bebê dentro da nave. Sem filhos, o casal decide adotar o bebê
(eu disse que era basicamente o Superman). Anos mais tarde, com doze anos, o
jovem Brendon (Jackson A. Dunn) começa a manifestar estranhas habilidades de
força e velocidade, aos poucos se dando conta de que é diferente dos demais e
percebendo que tem poder para fazer o que quiser.
É curioso que o filme não apenas pega a premissa básica do
Superman, mas toma algumas decisões estéticas que remetem a filmes do
personagem, em especial a leitura feita por Zack Snyder em O Homem de Aço (2013) e demais filmes do herói sob a batuta do
diretor. Os minutos iniciais de Brightburn
trazem o mesmo tipo de imagens bucólicas e planos na contraluz da pacata
fazenda do Kansas que Snyder apresentava nos flashbacks de Clark em O Homemde Aço, até a paleta de cores é semelhante. A música remete bastante ao
trabalho de Hans Zimmer no filme de Snyder em 2013.
É como se Brightburn
quisesse tecer algum tipo de comentário sobre a versão “snyderiana” do
personagem, mas a despeito dessas referências nunca chega a fazer nenhum
comentário direto quanto a isso, provavelmente por questões jurídicas, já que Brightburn é feito pela Sony e é a
Warner que detém os direitos do Superman.
Falando em referências, o filme presume que o público sabe
de antemão que sua trama é uma referência ao herói da DC e que seu público está
ciente da mitologia envolvendo o personagem, não fazendo qualquer esforço para
explicar o funcionamento de seus poderes ou qualquer coisa assim. Assim, é um
produto que depende de informações extratextuais para ser plenamente
compreendido, ao invés de algo que se sustente com as próprias pernas.
A narrativa tenta usar as transformações pelas quais o
garoto está passando como uma metáfora para a puberdade e como pais tem dificuldade
de entender e dialogar com jovens nessa idade. Também pode ser entendido como
uma tentativa de falar sobre como os pais, especialmente Tori neste filme,
tendem a relativizar as ações do filho, só percebendo tarde demais a real
natureza deles. Uma espécie de Precisamos
Falar Sobre Kevin (2011) com super-poderes.
A questão com essa abordagem entra em conflito com uma
segunda abordagem que o filme tem do material a partir do momento em que nave
começa a “se comunicar” com Brandon e lhe instrui a conquistar o planeta. Nesse
momento, a trama se aproxima mais de um “filme de possessão” e, de certa forma,
isso dilui a força do ângulo das relações parentais já que a transformação de
Brandon em uma força maligna não se dá completamente a partir da realização do
garoto de que ele é um predador alfa (como o protagonista de Poder Sem Limites), mas também dessas
vozes que ele ouve na cabeça.
Dessa maneira, nenhuma das duas possibilidades é
satisfatoriamente desenvolvidas e ambas acabam ficando na superfície. Ainda
assim, o filme cria bons momentos de tensão com Brandon “assombrando” as
pessoas ao seu redor, com o jovem ator Jackson A. Dunn sendo bastante eficiente
em fazer do garoto uma presença inquietante e ameaçadora mesmo diante da
serenidade de sua voz e maneirismos. A perspectiva de um Superman existir no
mundo real ganha contornos verdadeiramente assustadores aqui.
A fita também impressiona pela violência e o gore exibidos como consequência das
ações de Brandon, com mutilações e mandíbulas arrancadas de maneira tão
convincente que cheguei a desviar os olhos em muitos momentos de violência mais
explícita. O que contribui para que sintamos a ameaça do personagem.
Com boas ideias e uma competente construção de tensão Brightburn: Filho das Trevas peca por
nunca explorar plenamente seu próprio potencial, se diluindo em propostas
conflitantes, mas não deixa de ser uma experiência interessante.
Nota: 7/10
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