Eu gostava de Sai de
Baixo enquanto programa televisivo. Apesar da produção simples, a série
tinha um grau de imprevisibilidade graças a sua natureza improvisacional, com
os atores construindo muito de suas falas a partir das reações da plateia que
assistia as gravações ou dos próprios colegas de elenco. Eu sabia que essa
espontaneidade certamente se perderia em um filme, mas ainda esperava que os
personagens fossem capazes de segurar a trama com seu carisma. Infelizmente
isso não acontece.
Na trama, Caco Antibes (Miguel Falabella) sai da prisão
depois de anos encarcerado, retornando ao apartamento da família no Largo do
Arouche apenas para descobrir que ele está indo a leilão. Assim, ele tenta
recuperar o apartamento ao se envolver no esquema de lavagem de dinheiro de um
tio, precisando cruzar a fronteira do Brasil com o Paraguai com uma mala de
pedras preciosas. Com isso, Caco reativa a Vavatur de Vavá (Luiz Gustavo),
também preso por conta das falcatruas de Caco. O que Caco não imaginava é que
Magda (Marisa Orth) e Ribamar (Tom Cavalcante) tinham seus próprios esquemas
planejados para a viagem.
Me impressiona como a trama consegue ser simples e ao mesmo
tempo uma completa bagunça, com personagens entrando e saindo sem ter qualquer
impacto na trana ou senso de arco narrativo para esses personagens. Isso em si
não seria um problema se ao menos a narrativa conseguisse ser engraçada, afinal
ninguém assistia Sai de Baixo na
televisão pela história e sim pelas piadas, mas o humor não funciona.
Parte do problema é que apenas uma pequena parcela do elenco
original está em cena durante boa parte da minutagem, focando tudo em Caco,
Magda e Ribamar, com Vavá e Cassandra (Aracy Balabanian) mal aparecendo. Sim,
sabemos que a ausência deles se dá por razões extra-filme e Caco até faz
algumas piadas metalinguísticas sobre essas ausências quebrando a quarta
parede, no entanto, mesmo esse humor autorreferente não consegue dar conta de
retomar a atmosfera imprevisível que tornava a série tão divertida.
Incomoda também que muitas situações e piadas pareçam muito
datadas, como o longo segmento envolvendo Magda trabalhando como operadora de telemarketing que tenta fazer graça com
os gerundismos dos profissionais do ramo. Isso é algo que programas de humor
como Zorra Total ou Casseta e Planeta já parodiavam no
início dos anos 2000 e final da década de 90, ver isso hoje soa datado, como se
alguém tivesse resolvido requentar uma pizza que passou uma década guardada na
geladeira.
O mesmo acontece com todo o arco envolvendo o tio de Caco,
claramente inspirado na figura real do juiz Nicolau, preso no início dos anos
2000, uma figura cujo público provavelmente nem lembra mais hoje. Assim, parece
que o roteiro não foi algo escrito recentemente e sim um material que estava
esquecido na gaveta de alguém até que foi redescoberto e usado no filme sem
nenhuma revisão.
Para não dizer que o filme é completamente sem graça, devo
dizer que há uma única cena que me fez rir. Ela envolve a Cassandra e seu
cabeção cheio de laquê ricocheteando uma bala disparada contra ela. É talvez o
único momento em que filme realmente embarca no senso de absurdo e exagero de
seus personagens enquanto que no restante do filme tenta se apoiar em
referências antiquadas ou em gags
físicas inanes, como a cena em que a tia de Ribamar, também interpretada por
Tom Cavalcante, tenta usar uma privada chique.
Sai de Baixo: O Filme
é um produto sem ritmo, preso a um humor raso, que não consegue recuperar o carisma
do antigo programa de televisão.
Nota: 2/10
Trailer
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