quinta-feira, 16 de maio de 2019

Crítica – Sai de Baixo: O Filme


Análise Crítica – Sai de Baixo: O Filme

Review – Sai de Baixo: O FilmeEu gostava de Sai de Baixo enquanto programa televisivo. Apesar da produção simples, a série tinha um grau de imprevisibilidade graças a sua natureza improvisacional, com os atores construindo muito de suas falas a partir das reações da plateia que assistia as gravações ou dos próprios colegas de elenco. Eu sabia que essa espontaneidade certamente se perderia em um filme, mas ainda esperava que os personagens fossem capazes de segurar a trama com seu carisma. Infelizmente isso não acontece.

Na trama, Caco Antibes (Miguel Falabella) sai da prisão depois de anos encarcerado, retornando ao apartamento da família no Largo do Arouche apenas para descobrir que ele está indo a leilão. Assim, ele tenta recuperar o apartamento ao se envolver no esquema de lavagem de dinheiro de um tio, precisando cruzar a fronteira do Brasil com o Paraguai com uma mala de pedras preciosas. Com isso, Caco reativa a Vavatur de Vavá (Luiz Gustavo), também preso por conta das falcatruas de Caco. O que Caco não imaginava é que Magda (Marisa Orth) e Ribamar (Tom Cavalcante) tinham seus próprios esquemas planejados para a viagem.

Me impressiona como a trama consegue ser simples e ao mesmo tempo uma completa bagunça, com personagens entrando e saindo sem ter qualquer impacto na trana ou senso de arco narrativo para esses personagens. Isso em si não seria um problema se ao menos a narrativa conseguisse ser engraçada, afinal ninguém assistia Sai de Baixo na televisão pela história e sim pelas piadas, mas o humor não funciona.

Parte do problema é que apenas uma pequena parcela do elenco original está em cena durante boa parte da minutagem, focando tudo em Caco, Magda e Ribamar, com Vavá e Cassandra (Aracy Balabanian) mal aparecendo. Sim, sabemos que a ausência deles se dá por razões extra-filme e Caco até faz algumas piadas metalinguísticas sobre essas ausências quebrando a quarta parede, no entanto, mesmo esse humor autorreferente não consegue dar conta de retomar a atmosfera imprevisível que tornava a série tão divertida.

Incomoda também que muitas situações e piadas pareçam muito datadas, como o longo segmento envolvendo Magda trabalhando como operadora de telemarketing que tenta fazer graça com os gerundismos dos profissionais do ramo. Isso é algo que programas de humor como Zorra Total ou Casseta e Planeta já parodiavam no início dos anos 2000 e final da década de 90, ver isso hoje soa datado, como se alguém tivesse resolvido requentar uma pizza que passou uma década guardada na geladeira.

O mesmo acontece com todo o arco envolvendo o tio de Caco, claramente inspirado na figura real do juiz Nicolau, preso no início dos anos 2000, uma figura cujo público provavelmente nem lembra mais hoje. Assim, parece que o roteiro não foi algo escrito recentemente e sim um material que estava esquecido na gaveta de alguém até que foi redescoberto e usado no filme sem nenhuma revisão.

Para não dizer que o filme é completamente sem graça, devo dizer que há uma única cena que me fez rir. Ela envolve a Cassandra e seu cabeção cheio de laquê ricocheteando uma bala disparada contra ela. É talvez o único momento em que filme realmente embarca no senso de absurdo e exagero de seus personagens enquanto que no restante do filme tenta se apoiar em referências antiquadas ou em gags físicas inanes, como a cena em que a tia de Ribamar, também interpretada por Tom Cavalcante, tenta usar uma privada chique.

Sai de Baixo: O Filme é um produto sem ritmo, preso a um humor raso, que não consegue recuperar o carisma do antigo programa de televisão.

Nota: 2/10


Trailer

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