Lançado em 1968 e dirigido por Roberto Farias, este Roberto Carlos em Ritmo de Aventura é o
último filme que esperava que tivesse um viés modernista ou iconoclasta.
Afinal, pelo menos para alguém da minha idade, Roberto Carlos sempre foi
sinônimo de coisas quadradas e de uma música que variava entre o romântico e o
religioso. Sim, eu sabia da época da Jovem Guarda e que ele foi uma espécie de
ídolo rock em sua juventude, mas ainda assim ele estava mais para a fase
inicial dos Beatles, com seus terninhos e cabelos bem cortados, do que para
Rolling Stones e qualquer atitude mais roqueira.
Sob a superfície, Roberto
Carlos em Ritmo de Aventura parece ser aquele tipo de produção caça-níqueis
feita apenas para faturar em cima da popularidade de um músico famoso. É isso,
na verdade, mas não deixa de tentar ser criativo ao invés de fazer algo esquemático
e previsível como eram os filmes do Elvis (com exceção de O Prisioneiro do Rock) ou mesmo os outros filmes protagonizados por
Roberto Carlos: Roberto Carlos e o
Diamante Cor de Rosa e Roberto a 300
Quilômetros por Hora.
A verve irreverente e modernosa do filme é sentida já desde
as primeiras cenas. Depois de uma apresentação musical, Roberto Carlos pega um
telefone e liga para o diretor do filme, Roberto Farias. O cantor quer saber do
diretor o que fará a seguir e o diretor informa que perdeu o roteiro do filme,
avisando que a sala de onde Roberto Carlos está ligando está cheia de bandidos,
que prontamente atacam o cantor.
Esse tipo de transparência quanto à própria construção do
filme era algo pouco feito naquele período. Vanguardas europeias como nouvelle vague francesa começaram a
fazer isso na década de 60 a exemplo de Acossado
(1960), de Jean Luc Godard, que surpreendia ao colocar seu protagonista
para quebrar a quarta parede e falar direto com o público.
É esse tipo de quebra que o filme faz o tempo inteiro,
mostrando a natureza construída e aleatória da narrativa, refletindo sobre os
clichês e padrões que se repetem neste tipo de história. Um exemplo é a cena
com o vilão Pierre, interpretado por José Lewgoy, que constantemente
interpretava vilões nos filmes (como Carnaval Atlântida), reflete sobre seu constante fracasso e o fato de que em mais de
50 filmes nunca conseguiu matar o mocinho e sempre morre no final.
É como se o diretor Roberto Farias tivesse a consciência de
que estava diante um produto cínico pensado apenas para ganhar dinheiro e
resolveu ser transparente quanto aos clichês que estava seguindo e acabou
produzindo algo mais próximo de um cinema de vanguarda, com um impulso
desconstrutivista e anti-programático do que de um cinemão popular e comercial.
Por outro lado, é possivel perceber como o filme também faz
um esforço para encher a própria duração utilizando longas cenas com Roberto
dirigindo seu carro ao som de algumas de suas músicas. São momentos demorados,
quase com o mesmo tempo de duração das canções de fundo e que avançam
praticamente nada da trama, nem conseguem criar um senso de espetáculo a partir
das canções, que são melhor utilizadas nas cenas em que Roberto efetivamente
toca e canta.
Ainda assim, Roberto
Carlos em Ritmo de Aventura diverte por conta de sua estrutura modernosa e o modo como brinca com os clichês do próprio cinema.
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