Quando escrevi sobre a segunda temporada de Blindspot, falei que o encerramento do
arco envolvendo a organização Sandstorm era uma oportunidade para a série se
reinventar, encontrar novos rumos. Lamentavelmente não foi isso que aconteceu e
a série se prende a uma repetição dos mesmos formatos, sendo que estes já não
se justificam mais.
A trama se passa um ano e meio depois dos eventos da
temporada anterior. O grupo se debandou e Jane (Jamie Alexander) está vivendo
no exterior quando é procurada por Weller (Sullivan Stapleton) que tem uma
mensagem de Roman (Luke Mitchell) que só poderia ser aberta por Jane e Weller
juntos. A mensagem revela novas tatuagens no corpo de Jane que dão pistas para
um novo plano de Roman.
Ou seja, o primeiro episódio praticamente reseta tudo,
restaurando o status quo e joga no
lixo qualquer oportunidade de deixar a série crescer ou se transformar, prendendo-a
aos mesmos padrões narrativos dos anos anteriores. O salto temporal também
significa que temos que retornar a nos familiarizar novamente com os
personagens visto que eles agora estão em situações diferentes.
Outro problema é que todo esse esquema de novas tatuagens
soa mirabolante demais para um objetivo final relativamente simples por parte
de Roman, que era desmascarar e se vingar de um poderoso empresário responsável
pelo orfanato no qual Roman e Jane passaram a infância. Considerando que a trama
tenta nos convencer de que Roman é um sujeito implacável, porque não matar
diretamente Crawford (David Morse) ou dar as evidências que tinha diretamente
para Jane?
Sim, a série tenta justificar tudo isso dizendo que Roman
gosta de enigmas, mas soa como uma resposta muito fácil para algo que poderia
ter consequências que Roman não tinha como prever ou interferir, fazendo todo o
plano soar como um risco estúpido e desnecessário. Pelo menos o plano de
Shepard nos dois primeiros anos era pensado para desestruturar e confundir, mas
aqui não faz sentido.
Desde a temporada anterior faltava a Roman algo que evocasse
o perigo e instabilidade que o texto sugere, provavelmente por conta do
trabalho apático de Luke Mitchell, que também já tinha falhado em angariar
qualquer simpatia por seu Lincoln em Agentes da SHIELD. David Morse até consegue dar um ar de seriedade e ameaça a
Crawford, mas é prejudicado por um roteiro que não faz dele nada mais que um
mega empresário maligno genérico, que nunca soa digno de ser considerado um
perigo tão grande.
O salto temporal também serve para “resetar” a relação entre
Jane e Weller que se distanciaram depois os eventos da temporada anterior.
Assim, ao invés de vermos o amadurecimento da relação dos dois, precisamos
perder tempo com a reaproximação entre eles que só repete as batidas de anos
anteriores. O relacionamento é prejudicado por algumas reviravoltas que
obviamente serão desfeitas mais adiante, como o fato de Weller ter
aparentemente matado a filha de Jane (e que Jane nem sabia que existia). Como
algo tão importante acontece off câmera
e é revelado em flashbacks, fica
evidente que a garota não morreu de verdade e Weller e Jane estavam sendo
enganados.
Aliás, esse é um problema constante da temporada, de
reviravoltas que existem apenas para criar a impressão de um revés e segurar o
desenvolvimento da trama do que elementos que existem para desenvolver os
personagens ou reexaminarmos aquilo que achávamos que sabíamos sobre aquelas
pessoas. Talvez isso aconteça por conta do formato de temporada mais longa, de
22 episódios, que gera a necessidade de ficar estendendo a trama, mas a questão
é a narrativa abusa de reveses inúteis e óbvios que só travam a história.
Reade (Rob Brown) e Zapata (Audrey Sparza) ficam presos em
uma trama romântica cheia de clichês que parece um plágio piorado de O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) e
os faz se comportar como uma dupla de adolescentes emocionalmente imaturos
(principalmente Zapata). Patterson (Ashley Johnson) permanece a personagem mais
consistente conforme a série desenvolve seus traumas do passado ou amplia o que
conhecemos a seu respeito. Dois dos melhores episódios da temporada são
centrados nela. Um deles é o que se passa todo na mente da personagem, cuja
memória repete em loop a mesma
sequência de eventos enquanto ela está em coma. O outro é o que conhecemos o
pai dela, ninguém menos que Bill Nye The Science Guy interpretando a si mesmo.
Com uma intriga que parece andar em círculos, uma estrutura
narrativa que comodamente repete as mesmas coisas de anos anteriores e tramas
desinteressantes para seus personagens, a terceira temporada de Blindspot mostra que a série perdeu o
fôlego criativo.
Nota: 4/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário