sexta-feira, 21 de junho de 2019

Crítica – Bloodstained: Ritual of the Night

Análise Crítica – Bloodstained: Ritual of the Night


Review – Bloodstained: Ritual of the Night
O termo “sucessor espiritual” tem sido usado bastante pela indústria de games nos últimos anos, principalmente no reino dos jogos independentes. Criadores que deixaram suas desenvolvedoras, mas que querem fazer o mesmo estilo de jogo que faziam e tentam criar algo similar aos seus maiores sucessos. Keiji Inafune, criador de Mega Man, tentou fazer isso com Mighty Nº9, parte da equipe responsável por Banjo-Kazooie tentou fazer isso com Yooka-Laylee. Os esforços de ambos resultaram em grandes decepções que falhavam tanto em capturar o espírito do que tornou as propriedades originais tão memoráveis ou que falhou em atualizar os elementos desses jogos para os dias atuais, fazendo tudo parecer datado.

Eu falo tudo isso para dizer que este Bloodstained: Ritual of the Night é a mais nova tentativa de um “sucessor espiritual”. Desenvolvido por Koji Igarashi, responsável pelo excelente Castlevania: Symphony of the Night, Bloodstained tenta resgatar a excelência do estilo “Metroidvania” (uma junção de Metroid e Castlevania) que Igarashi construiu em jogos como Symphony of the Night ou Aria of Sorrow. Me aproximei de Bloodstained temendo uma decepção similar a Mighty Nº9 ou Yooka-Laylee, mas o que encontrei foi algo que conseguia soar simultaneamente contemporâneo e nostálgico.

O jogador controla Miriam, uma jovem com o poder de manipular cristais mágicos e de absorver as habilidades de demônios. Ela adquiriu esses poderes depois de ser usada como cobaia por alquimistas que queriam abrir os portões do inferno. Durante os experimentos Miriam conhece Gebel, um jovem que também recebe os mesmos poderes que ela. Livre dos alquimistas, Gebel rouba o livro de feitiços dele e se refugia em um antigo castelo enquanto prepara sua vingança. Temendo o que pode acontecer se Gebel usar o livro para trazer demônios ao nosso mundo, Miriam parte para o castelo para deter Gebel. É uma trama relativamente básica, mas que consegue apresentar algumas reviravoltas perto do final.

Assim como acontecia em Symphony of the Night e Aria of Sorrow o jogador explora um castelo e vai adquirindo novas habilidades que abrem novas seções do castelo. A protagonista sobe de nível com a experiência adquirida matando inimigos, melhorando os atributos, além encontrar novos equipamentos e poder absorver o poder dos monstros derrotados transformando-os em cristais.

Bloodstained ainda conta com um sistema de crafting para a criação de novos equipamentos e também de uma mecânica de culinária na qual Miriam pode criar pratos a partir dos ingredientes encontrados durante a exploração. Além de regenerar os pontos de vida da personagem, ao comer um prato pela primeira vez Miriam ganha um bônus permanente em um atributo específico (o atributo varia a cada prato), o que estimula o jogador a explorar mais para adquirir esses ingredientes para ampliar o poder da personagem.

Os controles são responsivos e precisos evitando frustrações nos segmentos de plataforma, principalmente quando é preciso subir em longas seções verticais, e também no combate. Sim, a maioria dos inimigos comuns não chega a representar um grande desafio, mas os chefões exigem foco e atenção em aprender seus padrões para saber quando esquivar e quando atacar. Alguns até me levaram uma quantidade razoável de tentativas para derrotá-los.

O jogo não segura a mão do usuário em relação a como progredir, estimulando a exploração e a busca por cada canto do mapa até achar o próximo chefão que dará a habilidade necessária para progredir. A progressão é um pouco linear durante cerca de metade do percurso, mas chega um ponto em que tudo fica mais aberto. Embora eu goste de descobrir as coisas por conta própria, o problema do pedaço final é que em alguns casos a progressão depende de cristais de habilidade que são deixados aleatoriamente por um tipo específico de inimigo, o que torna o avanço mais dependente de sorte do que de habilidade.

O visual remete aos castelos de arquitetura gótica vistos na franquia Castlevania, mas aqui os ambientes são tridimensionais, ainda que a movimentação seja bidimensional. Os sprites dos personagens e inimigos são bem detalhados em sua movimentação e a qualidade visual do produto final é melhor do que os primeiros trailers faziam parecer (Igarashi até fez um vídeo brincando com isso em um dos últimos trailers), ainda que as texturas dos cenários por vezes soem simples demais. Muitos inimigos são similares a criaturas que já encontrávamos em Castlevania, mas o design das criaturas consegue conferir personalidade própria a elas por mais que remetam a elementos conhecidos. A música também é marcante, ainda que não saia muito do tipo de composição que estão presentes nos Castlevania.

O jogo, no entanto, tem alguns problemas em termos de performance, ao menos no PS4. Há uma queda na taxa de frames quando muitos inimigos ou efeitos de luz dos ataques especiais estão presentes na tela ou quando Miriam adquire um novo cristal em uma tela cheia de inimigos. Em muitos momentos os itens deixados pelos monstros não são computados imediatamente e é preciso esperar um tempo até que a mensagem apareça no canto da tela avisando que eles foram propriamente adicionados ao inventário. Sair da ambiente antes que o jogo registre adequadamente o item significa que ele se perderá. Também experimentei alguns crashes, que são frustrantes porque como o jogo só salva em save points específicos, ter o aplicativo fechando significa perder uma boa parcela de progresso.

No fim das contas, Bloodstained: Ritual of The Night é de fato um competente sucessor da franquia Castlevania, que consegue ter personalidade própria o suficiente para não ser uma mera imitação ainda que certos problemas técnicos prejudiquem um pouco a experiência.

Nota: 8/10


Trailer

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