Quando escrevi sobre a terceira temporada de Crazy Ex-Girlfriend, elogiei o fato da
série finalmente colocar a protagonista (e outros personagens importantes) para
confrontarem seus próprios problemas e se esforçarem para tentar melhorarem.
Pois esta quarta e última temporada de Crazy
Ex-Girlfriend amarra com competência a jornada de amadurecimento de seus
personagens.
A trama começa mais ou menos no ponto em que a temporada
anterior terminou. Com Rebecca (Rachel Bloom) indo para a prisão depois de
arremessar Trent (Paul Welsh) de um telhado para salvar Nathaniel (Scott
Michael Foster). A experiência na prisão leva Rebecca a entender o peso de suas
ações e a faz repensar seu trabalho como advogada. Ao mesmo tempo, sua vida
amorosa fica balançada quando Greg (Skylar Astin, substituindo Santino Fontana)
retorna a West Covina.
Já ciente de seus problemas, a narrativa acompanha o
percurso de Rebecca em lidar com eles e tentar ser uma pessoa melhor. Poderia
ser uma jornada linear, com a protagonista melhorando a cada episódio, mas o
texto reconhece que não é um processo fácil, que eventualmente ela regride, que
não é possível fazer tudo sozinho, que é necessário apoio de amigos, de terapia
e eventualmente de medicação.
É uma temporada que tem cara e clima de desfecho,
trabalhando o tempo todo para reconhecer a jornada até aqui, celebrando o
caminho percorrido ao mesmo tempo em que amarra a relação de Rebecca com o
mundo a seu redor, incluindo personagens que pouco apareceram, como sua rival
de infância, Audra (Rachel Grate), ou a mãe de Rebecca, Naomi (Tovah Feldshuh).
Até mesmo a volta de Greg é usada para mostrar como os personagens amadureceram
ao longo dos anos.
A trama também dá atenção aos coadjuvantes e explora
relações entre eles que até então haviam sido pouco trabalhadas pela série. Um
exemplo é o episódio que acompanha várias duplas de personagens viajando de
carro. Nele seguimos Paula (Donna Lynne Champlin) e Josh (Vincent Rodriguez
III) em um carro enquanto Heather (Vella Lovell) e Nathaniel viajam em outro.
O pareamento pouco usual desses personagens serve para fazer
esses indivíduos confrontarem questões que ainda não tinham enfrentado.
Nathaniel chama a atenção de Heather para sua conduta desleixada ao mesmo tempo
em que Heather reclama da postura sempre agressiva e fechada dele. Do mesmo
modo, Paula confronta Josh em relação a sua imaturidade enquanto Josh mostra o
quanto Paula teme dar um passo adiante em sua carreira.
Todos esses temas de amadurecimento e trauma são tratados
com o habitual humor autoconsciente da série, que brinca com as convenções de
musicais e de comédias românticas. A troca do intérprete de Greg, por exemplo
(feita porque Santino Fontana não pôde retornar por questões de agenda), é
usada como uma metáfora para como nossa percepção sobre as pessoas muda a
maneira como as enxergamos. Há um episódio inteiro feito como se fosse uma
comédia romântica, parodiando filmes como O
Diabo Veste Prada (2006) enquanto outro é todo centrado em fazer graça em
cima do musical teatral Cats.
Os números musicais, por sinal, trazem a irreverência que
caracteriza as performances da série, com muitos referenciando canções
conhecidas. Já no primeiro episódio, o número em que Rebecca pede que as presas
contem suas histórias é uma clara brincadeira com a canção Cell Block Tango de Chicago
(2002). Algumas performances também referenciam números da própria série, como
a canção de Rebecca sobre “quadrados amorosos” que repete parte da letra e
melodia da canção sobre triângulos amorosos de uma temporada anterior.
Se nos últimos episódios todo o desenvolvimento de Rebecca
parece ser reduzido a uma escolha de parceiro romântico, o episódio final é
inteligente o bastante para fugir desse clichê romântico, sendo fiel ao
espírito da série que desde o princípio parecia reconhecer que a resolução dos
problemas da protagonista não residiam em um enlace amoroso. Ao invés disso o
final reconhece que é preciso estar em paz consigo mesmo e feliz com quem se é
antes de poder ser feliz ao lado de alguém, demonstração o amadurecimento de
Rebecca sem precisar torná-la dependente de um homem.
No fim das contas, a quarta temporada de Crazy Ex-Girlfriend é um desfecho digno
e competente para a jornada dramática, cômica e musical de Rebecca Bunch.
Nota: 9/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário