segunda-feira, 17 de junho de 2019

Crítica – Jessica Jones: 3ª Temporada


Análise Crítica – Jessica Jones: 3ª Temporada


Review – Jessica Jones: 3ª Temporada
Depois da fraca segunda temporada, não estava esperando muita coisa desta terceira e última temporada de Jessica Jones. O que encontrei, no entanto, foi um competente estudo sobre trauma e moralidade que aprofunda o que conhecíamos sobre os personagens.

A trama começa quando Jessica (Krysten Ritter) conhece o chantagista Erik (Benjamin Walker), um sujeito com a estranha capacidade de sentir a maldade das pessoas e que usa seus dons para chantagear criminosos. Quando uma das vítimas de Erik fere Jessica enquanto tenta matá-lo, a detetive decide ajudar Erik a descobrir quem é a ameaça. Na busca, Jessica se depara com o perigoso serial killer Gregory Sallinger (Jeremy Bobb), um sujeito astuto e engenhoso que mesmo sem poderes representa uma grande ameaça para a detetive. Ao mesmo tempo, Trish (Rachael Taylor) começa a por em uso seus novos poderes, tentando iniciar uma jornada como vigilante.

Se na temporada anterior a trama demorava a delinear seu conflito principal, aqui as coisas engrenam muito mais rápido. Ainda sofre do típico “inchaço da Netflix”, perdendo um pouco de fôlego quando passa da metade e parecendo que seria melhor com uns dois episódios a menos, mas ainda assim é um ritmo melhor do que o segundo ano da série. Outro problema é a conveniência dos poderes de Erik, que na maior parte do tempo funciona mais como um dispositivo de roteiro do que como um personagem plenamente realizado.

Sallinger se mostra um ótimo antagonista, sempre um passo a frente de Jessica e constantemente representando uma clara ameaça para a heroína. Sallinger é um sujeito que detesta pessoas com poderes especiais, que considera uma vantagem injusta, tentando provar que alguém como ele, que estudou e trabalhou para conseguir as habilidades e conhecimentos que possui, como sendo capaz de punir aqueles com poderes e revelar esses pretensos heróis como fraudes. De certa forma o personagem funciona como uma versão mais pobre de Lex Luthor, alguém com uma inteligência extrema e que se ressente dos poderes dos super-heróis por eles o fazerem se sentir inferior.

As condutas de Erik, Sallinger e Trish colidem constantemente, levando Jessica a ponderar a moralidade das próprias ações e o que significaria “fazer a coisa certa” em um ambiente no qual certo e errado existem em uma zona cinzenta e não são tão claramente definidos. Jessica Jones sempre flertou com o noir, mas ao colocar no centro de sua narrativa uma detetive cínica e desencantada que tenta manter um mínimo de honra em um espaço tomado por violência e corrupção, a série entra com os dois pés nesse terreno.

Os personagens da série sempre foram construídos como pessoas devastadas, traumatizadas e quebradas. Pessoas desesperadamente em busca de reparação por erros do passado ou superação de traumas. O problema é que muitas vezes o texto não dava o contexto ou motivação adequada a essas ações e os personagens acabam soando como idiotas volúveis. Essa temporada trabalha isso com melhor habilidade, em especial no que se refere a Malcolm (Eka Darville) e Trish.

No final da segunda temporada Trish se comportava como uma boçal insuportável, mas aqui, graças a dois episódios (o segundo e o décimo primeiro) quase que completamente centrados na personagem, compreendemos melhor o desespero dela em corrigir injustiças e provar o próprio valor. Ao vermos a infância de Trish, percebemos como desde pequena a mãe da personagem incutiu nela um senso delirante de responsabilidade e grandiosidade, traços de personalidade que são amplificados pela obtenção de poderes. 

Essa certeza de que está sempre do lado certo e por isso tudo que faz, não importa o quão terrível ou violento, se justifica é o que acaba colocando Trish em rota de colisão com Jessica. É uma trama com certo viés trágico, já que Trish é verdadeiramente movida por boas intenções, ainda que não perceba que está trilhando um caminho sem volta até ser tarde demais.

Por outro lado, o arco de Jeri (Carrie Anne-Moss) acaba por repetir os mesmos problemas de temporadas anteriores ao ter uma personagem agindo por pura estupidez que não se relaciona com a personalidade desenvolvida até aqui. Sim, a trama aponta como ela está determinada a qualquer coisa para preservar o próprio legado e mostrar a força de sua empresa de advocacia, mas ainda assim defender um serial killer perigoso que Jessica, alguém que ela respeita e confia, já lhe alertou que representa uma ameaça soa simplesmente estúpido da parte dela.

Afinal, na primeira temporada, Jeri também tentou tirar vantagem de um psicótico instável ao tentar libertar Kilgrave (David Tennant) e as coisas ficaram ruins para ela. Será que a personagem não aprendeu nada com o passar dos anos? Isso sem falar que as acusações de um rival morto contra Jeri acabam tendo pouca repercussão na narrativa.

A temporada ainda encontra tempo para tentar sutilmente amarrar algumas pontas soltas da relação entre Jessica e Luke Cage (Mike Colter), que aparece brevemente no episódio final, dando um senso de encerramento ao herói do Harlem que ele não encontrou em sua própria série, cancelada antes de ter um final propriamente dito. Algo que, a essa altura, provavelmente não acontecerá com Danny Rand, citado brevemente na temporada, mas cujo gancho da segunda temporada de Punho de Ferro provavelmente não será explorado.

Assim, a terceira temporada de Jessica Jones é um competente final para a série e para a jornada de aceitação de sua protagonista que finalmente compreende o sentido de ser uma heroína.


Nota: 8/10

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