Não sei explicar o motivo que me levou a assistir este Mistério no Mediterrâneo. Apesar de ter
apreciado o trabalho de Adam Sandler em Os Meyerowitz: Família não Se Escolhe (2017), dirigido por Noah Baumbach, sei
que Sandler nunca rende nos filmes que ele próprio produz o mesmo que rende
quando trabalha com outros cineastas. Além disso, os últimos filmes que Sandler
produziu em sua parceria com a Netflix, como Lá Vem os Pais (2018) ou Sandy Wexler (2017) foram porcarias atrozes que me fizeram questionar minha
própria sanidade. Como se isso já não desse um prospecto suficientemente ruim,
ainda havia o fato de que Mistério no
Mediterrânio foi dirigido por Kyle Newacheck, que cometeu a hecatombe que
foi Perda Total (2018), filme que
coloquei entre os piores daquele ano.
Mas então, porque fui assistir Mistério no Mediterrâneo? Bem, não tenho uma resposta específica e
direta para isso, talvez tenha sido tédio, talvez eu possua um lado masoquista
que me impele a assistir filmes cujo prognóstico parece ruim, talvez eu tenha
problemas de autoestima e me sujeitar a ver esse tipo de coisa seja uma forma
de autopunição, não sei. De todo modo, o resultado de Mistério no Mediterrâneo é bem melhor do que as produções anteriores
de Sandler para a Netflix, o que é um patamar baixo a superar, admito, mas já é
alguma coisa.
A trama é centrada no casal Nick (Adam Sandler) e Audrey
(Jennifer Aniston). Nick é um policial preguiçoso, acomodado e pão-duro que
mente para a esposa sobre ter sido promovido a detetive. Audrey é uma
cabeleireira que reclama e desaprova tudo que o marido faz. Juntos eles não tem
qualquer traço positivo de personalidade nem dão ao público qualquer razão para
se importar ou torcer por eles, mas ainda assim estamos presos a essas pessoas
detestáveis por cerca de 100 minutos. Quando Nick, pressionado pela constante
desaprovação da esposa fútil e materialista, resolve finalmente dar a viagem
para a Europa que prometeu a ela anos atrás, o casal acaba indo parar no iate
do bilionário Malcolm Quince. Quince é misteriosamente assassinado e o casal de
protagonistas precisa descobrir quem, entre os convidados do barco, é o
assassino.
É uma premissa típica dos romances de Agatha Christie, mas
se seus livros ou filmes baseados nele, como Assassinato no Expresso do Oriente (2017), se sustentam em um hábil
manejo da intriga e um elenco de personagens singulares, aqui não há nenhum
desses elementos. Os suspeitos são uma coleção de caricaturas unidimensionais
que mais provocam tédio do que risos, falhando em causar qualquer impressão ao
ponto que eu não lembro o nome de nenhum deles apenas horas depois de ter
assistido o filme.
Como de costume em suas últimas “comédias”, Sandler parece
absolutamente miserável em cena, sem qualquer energia, disposição ou mesmo
esforço de estabelecer qualquer química com Jennifer Aniston, sua parceira de
cena durante quase todo o tempo. Aniston, por sinal, até se esforça,
acreditando na própria personagem e nas situações inanes que o roteiro a coloca,
mas mesmo o carisma dela não consegue salvar uma personagem que é, durante
quase toda a duração do filme, uma megera castradora fútil, o tipo de
personagem que é bastante comum aos filmes de Sandler, como apontei em meu
texto de Zerando a Vida (2016).
Era de se esperar que uma comédia que pega um formato batido
como o deste tipo de mistério fosse tentar zoar com os clichês que permeiam
essas histórias, no entanto praticamente não há esforço nessa direção. O filme
chega perto disso na cena final, quando Nick e Audrey apontam o responsável
pelo crime e depois questionam o fato da pessoa não confessar imediatamente
como é comum nessas narrativas, mas é um momento pequeno perto da miríade de
oportunidades desperdiçadas ou de piadas sem graça, como as muitas cenas dos
personagens mexendo com cadáveres.
Ainda assim, a direção de Kyle Newacheck consegue conferir
alguma energia às cenas de perseguição, como a correria pelas ruas da Itália ou
toda a perseguição de carros que há no clímax. Se o esmero desses momentos de
ação também estivesse presente na construção do roteiro ou nas performances de
boa parte do elenco, o resultado poderia ser minimamente aproveitável.
Do jeito que está, Mistério
no Mediterrâneo é mais uma comédia rasteira e preguiçosa protagonizada por
um Adam Sandler desinteressado.
Nota: 4/10
Trailer
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