Obsessão (não
confundir com o filme homônimo de 2013 estrelado por Nicole Kidman) parecia ser mais um daqueles filmes de stalker, mas por conta da presença da
atriz francesa Isabelle Huppert e da direção de Neil Jordan, imaginei que a
fita poderia ser capaz de se elevar acima da banalidade de sua premissa.
Infelizmente isso não acontece e o resultado é algo mais próximo de um daqueles
suspenses B que passam nas madrugadas da TV aberta.
A trama é protagonizada por Frances (Chloe Moretz), uma
garota que mora em Nova Iorque e recentemente perdeu a mãe. Um dia, ela
encontra uma bolsa deixada no metrô e resolve devolver à dona, cujos documentos
se encontram dentro. Assim, ela conhece Greta (Isabelle Huppert), uma viúva
solitária. Frances se solidariza com a mulher e aos poucos começam a se
aproximar, mas conforme passa tempo com Greta, Frances descobre que o encontro
entre as duas não foi tão fortuito quanto pensara e que a senhora guarda
segredos sombrios.
Fica evidente que o filme usa a relação entre Frances e
Greta para discutir a questão do luto e da necessidade de seguir adiante com a
vida. O problema é que a narrativa fica correndo em círculos ao redor desse
tema sem nunca desenvolvê-lo de maneira consistente. Também anda em círculos em
relação à dinâmica entre Frances e Greta, com Greta perseguindo a protagonista
de maneira agressiva, Frances conseguindo afastá-la, apenas para Greta voltar a
persegui-la minutos depois. A trama fica nesse vai e vem repetitivo sem nada
que desenvolva as personagens ou dê qualquer senso de progressão.
Isabelle Huppert claramente se diverte em interpretar uma
mulher ambígua, que parece frágil, mas se revela cruel e implacável. A atriz
rende alguns bons momentos quando se entrega ao exagero que a personagem
requer, como na cena em que ela dá um chilique no restaurante no qual Frances
trabalha. O texto, no entanto, não é digno do trabalho de Huppert, falhando em
construir Greta de maneira crível tanto como uma figura trágica quanto como uma
figura monstruosa.
A ideia da solidão de Greta e da perda da filha são pouco
para torná-la uma figura simpática diante de sua conduta claramente psicopata.
Por outro lado, o modo como o filme apresenta as cenas dela stalkeando Frances ou Erika (Maika
Monroe, de Corrente do Mal) pede
muita boa vontade do público para manter a suspensão da descrença, já que
Greta, uma mulher comum, se comporta como uma mistura de Jason (de Sexta-Feira 13) e ninja, conseguindo
ficar invisível mesmo em espaços vazios e quando as personagens sabem que estão
sendo seguidas, além de sempre alcançar as mocinhas mesmo andando devagar.
O filme ainda tenta criar suspense a partir de expedientes
apelativos e inanes, como na cena em que Frances é sequestrada por Greta, mas
depois acorda, revelando ter sido tudo um sonho, sendo que na cena seguinte ela
acorda mais uma vez para descobrir que de fato está no cativeiro de Greta. É um
zigue-zague irritante e sem propósito que não serve a nenhuma função exceto
criar sustos gratuitos e aumentar a duração da fita.
Todo o desfecho e o modo como Frances é resgatada parece não
fazer muito sentido. Psicopatas são criaturas de hábitos e seguem rituais,
então é difícil crer que Greta procuraria uma nova vítima enquanto ainda tem
sua atual para terminar de torturar. Do mesmo modo, não dá para embarcar na
ideia de alguém que se mostrou tão inteligente e engenhosa o filme todo consiga
ser facilmente enganada por Erika só por ela estar usando uma peruca. Existem
outros furos ao redor do final, mas não valem a pena o investimento de energia
para comentá-los.
Diante de tudo isso, Obsessão
é um suspense rasteiro, com situações risíveis e roteiro raso, desperdiçando o
talento de Isabelle Huppert.
Nota: 3/10
Trailer
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