A impressão de assistir este The Perfection é a de estar diante de uma mistura de Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014) com o terror corporal de
David Cronenberg. Ele é mais centrado no gore
em si mesmo do em que pensar nos abusos físicos e psicológicos que suas
personagens sofreram para se tornarem boas musicistas, mas o resultado é um
suspense razoável.
A trama acompanha Charlotte (Allison Williams), uma
violoncelista que ficou anos afastada da profissão para cuidar da mãe doente.
Depois da morte da mãe, ela retorna ao prestigioso conservatório no qual
estudou, mas descobre que seu antigo professor já a substituiu por uma nova
pupila, Lizzie (Logan Browning). Charlotte e Lizzie, no entanto, acabam se
aproximando e começam a viver um romance. Durante uma turnê à China, as duas
viajam para o interior do país, mas Lizzie começa a se sentir mal e a exibir
sintomas estranhos.
A partir daí o filme entra completamente no domínio do
horror corporal, com insetos saindo do corpo de Lizzie e mutilações bastante
gráficas sendo exibidas ao público para chocar e impactar. As reviravoltas, que
constantemente voltam no tempo para nos mostrar que algo anteriormente visto
não era bem o que pensávamos também tentam servir a este propósito, mas como
esse é um expediente que se repete algumas vezes ao longo do filme, ele acaba
se tornando previsível e é fácil antever o revés final envolvendo Charlotte,
Lizzie e o professor do conservatório no qual ambas estudaram, Anton (Steven
Weber).
A trama tenta discutir o estresse e a pressão experimentada
por músicos que treinam para tocar em alto nível ou como esse meio os descarta
quando não conseguem corresponder essas expectativas altas, mas, diferente de Whiplash, que fez disso um tema central,
aqui tudo isso apenas serve de pano de fundo para o suspense. O mesmo acontece
com as menções a abuso sexual e a estrutura machista da sociedade, nada disso é
verdadeiramente explorado ou analisado, servindo como desculpa para criar cenas
de tensão e catalisador de uma trama de vingança. Assim, fica a incômoda
sensação de que o filme toca nesses temas sérios de violência sexual apenas
para fins de entretenimento, sem ter nada a dizer sobre eles.
Por outro lado, a trama é verdadeiramente eficiente em seu
manejo do suspense, trabalhando situações de temor e tensão que nos envolvem
mesmo quando suspeitamos que uma reviravolta virá. A violência impressiona pela
sua crueza e cria algo similar a um horror corporal (body horror) digno de Cronenberg por suas imagens de mutilação ou
de insetos e vermes saindo dos corpos das personagens.
Desta maneira, The
Perfection é um suspense eficiente, recheado de tensão e reviravoltas,
ainda que superficial nas ideias que se propõe a tratar.
Nota: 6/10
Trailer
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