Remake da comédia Os
Safados (1988), estrelada por Michael Caine e Steve Martin, este As Trapaceiras muda o gênero de suas
protagonistas, mas mantem a premissa original de uma rivalidade entre golpistas
de personalidades opostas. Na trama, Penny (Rebel Wilson) e Josephine (Anne
Hathaway) são duas golpistas disputando o território de uma pequena cidade turística
na costa francesa. Para decidir quem poderá operar na cidade, elas fazem uma
aposta: a primeira que conseguir meio milhão do rico desenvolvedor de
aplicativos, Thomas (Alex Sharp).
Boa parte do humor reside em gags físicas, em especial as que envolvem a personagem de Rebel
Wilson explorando o já cansando arquétipo de “gorda desajeitada” que ela vem
repetindo durante boa parte de sua carreira. Na maioria das vezes ela se limita
a cair e esbarrar em objetos em situações pouco inspiradas. Em outras, ele
demora demais em piadas que por si já não seriam engraçadas e se tornam
constrangedoras com a insistência na piada, a exemplo da cena em que ela se
esfrega nas grades de uma cela para tentar seduzir uma policial.
Ocasionalmente o filme encontra alguns momentos que divertem
pelo absurdo da conduta das personagens, como na cena em que Josephine “testa”
a falsa cegueira de Penny, tentando fazê-la desistir de sua farsa. A rivalidade
entre Penny e o mordomo de Josephine ocasionalmente rende alguns momentos engraçados,
mas são instantes pontuais em um filme que é recheado de cenas de humor pouco
inspirado.
O filme também vai piorando conforme se aproxima de seu
final. Se inicialmente é pouco crível que Thomas tenha caído em um esquema tão
óbvio quanto a falsa cegueira de Penny ou a excêntrica médica de Josephine, o
roteiro tenta resolver isso com uma reviravolta nos minutos finais. O problema
é que essa reviravolta também não faz muito sentido e o que vou falar a seguir
contem spoilers do final do filme. Na
primeira vez que as protagonistas veem Thomas, um garçom do hotel informa que
ele é o criador de um famoso aplicativo de celular e Penny confirma que conhece
o aplicativo e já o utilizou. Se o aplicativo era real, Thomas estava ou
fingindo ser alguém que não era, o que seria fácil das personagens descobrirem
visto que Penny diz ter pesquisado sobre ele, ou Thomas era de fato um
desenvolvedor de aplicativos bem sucedido e internacionalmente conhecido, o que
não casaria bem com a profissão de golpista internacional.
O desfecho também trai toda a construção de personagem feita
até então. No início as personagens dizem cometer golpes como uma maneira de
usar o machismo contra os homens, tirando vantagem do fato deles subestimarem a
inteligência das mulheres. Isso dá às ações das personagens um caráter
subversivo, como uma tentativa de resistência ao machismo da sociedade e a
ideia de que homens são mais espertos que mulheres. Pois o final prova
exatamente isso, com as personagens sendo facilmente engadas e colocadas em uma
posição subalterna de trabalhar para um homem. O fato de Penny se apaixonar tão
fácil por Thomas a despeito de suas críticas aos homens acaba servindo para
validar antigos preconceitos de que mulher que reclama de machismo é na verdade
carente e mal amada. Ou seja, a conclusão é uma total inversão das premissas
iniciais e contradiz a mensagem que a trama tenta transmitir.
As Trapaceiras é
uma comédia desastrosa que falha tanto em apresentar situações engraçadas
quanto na mensagem girl power que
tenta construir.
Nota: 4/10
Trailer
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