terça-feira, 23 de julho de 2019

Crítica – As Trapaceiras


Análise Crítica – As Trapaceiras


Review Crítica – As Trapaceiras
Remake da comédia Os Safados (1988), estrelada por Michael Caine e Steve Martin, este As Trapaceiras muda o gênero de suas protagonistas, mas mantem a premissa original de uma rivalidade entre golpistas de personalidades opostas. Na trama, Penny (Rebel Wilson) e Josephine (Anne Hathaway) são duas golpistas disputando o território de uma pequena cidade turística na costa francesa. Para decidir quem poderá operar na cidade, elas fazem uma aposta: a primeira que conseguir meio milhão do rico desenvolvedor de aplicativos, Thomas (Alex Sharp).

Boa parte do humor reside em gags físicas, em especial as que envolvem a personagem de Rebel Wilson explorando o já cansando arquétipo de “gorda desajeitada” que ela vem repetindo durante boa parte de sua carreira. Na maioria das vezes ela se limita a cair e esbarrar em objetos em situações pouco inspiradas. Em outras, ele demora demais em piadas que por si já não seriam engraçadas e se tornam constrangedoras com a insistência na piada, a exemplo da cena em que ela se esfrega nas grades de uma cela para tentar seduzir uma policial.


Ocasionalmente o filme encontra alguns momentos que divertem pelo absurdo da conduta das personagens, como na cena em que Josephine “testa” a falsa cegueira de Penny, tentando fazê-la desistir de sua farsa. A rivalidade entre Penny e o mordomo de Josephine ocasionalmente rende alguns momentos engraçados, mas são instantes pontuais em um filme que é recheado de cenas de humor pouco inspirado.

O filme também vai piorando conforme se aproxima de seu final. Se inicialmente é pouco crível que Thomas tenha caído em um esquema tão óbvio quanto a falsa cegueira de Penny ou a excêntrica médica de Josephine, o roteiro tenta resolver isso com uma reviravolta nos minutos finais. O problema é que essa reviravolta também não faz muito sentido e o que vou falar a seguir contem spoilers do final do filme. Na primeira vez que as protagonistas veem Thomas, um garçom do hotel informa que ele é o criador de um famoso aplicativo de celular e Penny confirma que conhece o aplicativo e já o utilizou. Se o aplicativo era real, Thomas estava ou fingindo ser alguém que não era, o que seria fácil das personagens descobrirem visto que Penny diz ter pesquisado sobre ele, ou Thomas era de fato um desenvolvedor de aplicativos bem sucedido e internacionalmente conhecido, o que não casaria bem com a profissão de golpista internacional.

O desfecho também trai toda a construção de personagem feita até então. No início as personagens dizem cometer golpes como uma maneira de usar o machismo contra os homens, tirando vantagem do fato deles subestimarem a inteligência das mulheres. Isso dá às ações das personagens um caráter subversivo, como uma tentativa de resistência ao machismo da sociedade e a ideia de que homens são mais espertos que mulheres. Pois o final prova exatamente isso, com as personagens sendo facilmente engadas e colocadas em uma posição subalterna de trabalhar para um homem. O fato de Penny se apaixonar tão fácil por Thomas a despeito de suas críticas aos homens acaba servindo para validar antigos preconceitos de que mulher que reclama de machismo é na verdade carente e mal amada. Ou seja, a conclusão é uma total inversão das premissas iniciais e contradiz a mensagem que a trama tenta transmitir.

As Trapaceiras é uma comédia desastrosa que falha tanto em apresentar situações engraçadas quanto na mensagem girl power que tenta construir.

Nota: 4/10


Trailer

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