Contando uma
história real de um violento atentado terrorista, Atentado ao Hotel Taj
Mahal tenta se aproximar da intensidade e complexidade de filmes como Voo
United 93 (2006) ou Capitão Phillips (2013), mas o resultado acaba sendo
superficial e problemático.
A narrativa é
centrada nos funcionários do hotel e seus esforços para manter os hóspedes em
segurança. A trama se divide entre vários personagens, mas o problema é que não
há tempo para que a maioria deles seja satisfatoriamente desenvolvida,
fazendo-os soar como sujeitos unidimensionais. Apesar da atitude dos
funcionários de fato ser louvável e altruísta, nela também estão imbricadas
questões de classe social e colonialismo que o filme não parece se dar conta ou
que constrói de maneira pouco satisfatória.
Um exemplo é a
cena em que uma das hóspedes acusa o garçom interpretado por Dev Patel de ser
terrorista só pelo fato do rapaz ter barba e usar turbante. O chefe da equipe
do hotel, ao invés de recriminar a mulher pela atitude racista contra alguém
que literalmente está arriscando a vida para salvá-la, simplesmente pede para
que o garçom retire o turbante. A postura denota a submissão dos funcionários
do hotel, como se a dignidade dos funcionários valesse menos que o conforto de
uma dondoca rica e racista. Claro, o garçom conversa com a mulher, mas a
situação é resolvida da pior maneira possível, com o medo e a tensão da
situação sendo usados como desculpa para o racismo.
Nesse sentido, o
filme ignora toda a questão colonial da Índia e a maneira como a população
local foi subjugada pelo imperialismo britânico por mais de um século. Ao
retratar a condição servil dos nativos como algo natural e esperado, o filme
apenas reforça as estruturas de poder que permanecem no país desde a colonização,
perpetuando-as acriticamente.
Falando em
ausência de contexto, o filme também não contextualiza adequadamente o
terrorismo. Apresentado como um evento perpetrado radicais islâmicos genéricos
deixando de lado toda a rivalidade e disputas histórica entre Índia e Paquistão
ou mesmo os conflitos entre muçulmanos e hindus dentro da própria Índia. Tudo
bem que no terço final o filme até tenta colocar alguma nuance nos terroristas,
concebendo alguns deles como pobres desesperados que aceitaram tomar parte no
atentado pela promessa de dinheiro para suas famílias. Teria sido melhor expor
essa motivação do terrorista desde o início como fez o diretor Paul Greengrass
com os piratas somalianos em Capitão Phillips. Isso ajudaria a tornar os
personagens interessantes já de partida ao invés de acompanharmos o que parece
ser um vilão clichê durante a maioria da duração. Do jeito que está é muito
pouco, muito tarde.
Apesar disso, a
narrativa exibe uma boa construção da tensão e suspense da situação.
Constantemente filmando os personagens em planos próximos contribui para a
sensação de claustrofobia e de que estamos acuados naquele local. Há um senso
constante de perigo, de que um agressor pode entrar pela porta a qualquer
momento, qualquer personagem pode morrer e ninguém está seguro. Um exemplo é o
momento em que o personagem vivido por Armie Hammer tenta se esconder dos
terroristas ficando atrás de um carrinho de comida.
Por outro lado,
a falta de reflexão crítica sobre os eventos acaba reduzindo toda a violência
gráfica a um mero espetáculo de choque e suspense, falhando em ter qualquer
coisa a dizer sobre os acontecimentos além de chavões comuns sobre altruísmo e
tolerância enquanto deixa de perceber a complexidade nas relações daquelas
pessoas.
Apesar de uma
competente construção de suspense, Atentado ao Hotel Taj Mahal é uma
reconstrução superficial da tragédia real que retrata, carecendo de nuance e
contexto para produzir qualquer reflexão consistente.
Nota: 5/10
Trailer
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