Em desenvolvimento desde 2013, este London Fields teve uma produção conturbada passando por
diretores como David Cronenberg e Michael Winterbottom até chegar a Matthew
Cullen, responsável pelo videoclipe California Gurls de Katy Perry. Filmado
em 2015, o filme ficou um tempo na gaveta até ser exibido em alguns festivais
de cinema em 2018 com uma recepção majoritariamente negativa (merecidamente,
por sinal).
A trama, baseada
em um romance escrito por Martin Amis na década de 80 (que não li), se passa em
Londres em 1999. A cidade está em um momento de convulsão social por motivos
que o roteiro não se dá ao trabalho de explicar e nunca tem muito impacto na
trama. Um escritor com bloqueio criativo, Samson (Billy Bob Thornton), chega a
Londres em busca de uma nova fonte de inspiração e os desejos dele são
atendidos quando conhece a misteriosa Nicola (Amber Heard), uma mulher fatal
que diz ter tido uma visão da própria morte. Crendo na veracidade da
clarividência de Nicola, Samson decide acompanhá-la para escrever sobre ela.
Em dado momento
do filme Samson diz que sua história não existiria sem Nicola. Ela é, de fato,
a personagem mais central do filme e aderir a ela é essencial para embarcar na
narrativa. O problema é que, a despeito de seus esquemas para manipular o
banqueiro Guy (Theo James) ou o bandido pé de chinelo Keith (Jim Sturgess),
Nicola é uma personagem vazia, sem qualquer motivação para fazer nada do que
faz. Afinal, porque ela não tenta impedir seu destino iminente? Qual a razão dela
se envolver com Guy ou Keith? Só para reproduzir suas visões futuras?
Enganá-los e destruir suas vidas serve a qual propósito ou objetivo? Nada disso
é explicado ou definido, deixando a personagem a esmo.
Claro, talvez o
intento fosse fazer dela uma predadora, uma força da natureza que passa
destruindo tudo ao seu redor, a questão é que falta presença e personalidade a
Nicola para que ela funcione como tal. Ao invés de uma dama fatal, dissimulada
e manipulativa, a personagem se comporta e é filmada o tempo todo come se
estivesse em um comercial de lingerie. Por outro lado, seria injusto dizer que
o fracasso do filme é culpa de Heard, já que nenhum personagem surge como
particularmente interessante e muitas escolhas de interpretação se mostram equivocadas.
O melhor exemplo
é o Keith de Jim Sturgess. Sempre com a boca arreganhada de modo a mostrar os
dentes podres, o personagem é meramente uma coleção de cacoetes exagerados que
o tornam uma caricatura irritante ao invés de alguém pitoresco ou carismático.
O Guy de Theo James é incapaz de despertar qualquer reação, enquanto que Samson
também sofre com motivações mal construídas, já que a decisão final de Samson
soa gratuita e não merecida, acontecendo apenas para chocar. O filme ainda
desperdiça Jamie Alexander (a Jane de Blindspot) e Cara Delevigne em
papeis “piscou, perdeu” que não tem nenhuma relevância ou impacto na trama.
É possível
perceber uma tentativa de usar a relação entre Samson e Nicola para fazer um
meta-comentário sobre o processo criativo, sobre como um autor lida com a
própria criação e como esses personagens criam uma vida própria ao ponto em que
eles escapam ao controle do autor. Tudo isso poderia render boas reflexões
sobre o processo criativo, mas é tudo supercial e pontual para render algo
consistente que sirva como horizonte temático e unificador da obra, que poderia
até justificar a decisão final de Samson se fosse satisfatoriamente construído.
Apesar do
esforço do roteiro em apresentar um plantel de personagens pitorescos, tudo é
filmado de maneira pouco imaginativa e com uma fotografia monocromática com
tons predominantemente marrons que não combinam com os contrastes e sentimentos
exacerbados que a trama apresenta, tornando tudo entediante de olhar tanto em
termos estéticos quanto narrativos, visto que a trama caminha sem qualquer
senso de urgência apenas colando uma cena na outra sem coesão ou unidade. É o
tipo de bagunça narrativa que deixa evidente a produção conturbada que o filme
teve, assim como aconteceu com Quarteto Fantástico (2015), parecendo uma
colcha de retalhos costurada sem qualquer critério.
Com personagens
vazios, visual sem personalidade e trama arrastada, London Fields é
daqueles filmes que não fazem nada pelo espectador além de desperdiçar nosso
tempo.
Nota: 2/10
Trailer
acabei de ver esse filme e me decepcionei demais, nenhuma motivação é dada pra nada, nenhum personagem tem alguma profundidade, todos os personagens tem potencial a ser explorado, principalmente a principal que pra mim tinha muito detalhe a ser explorado, já que desde criança ela sente essas coisas, mas isso fica de lado, é tudo tratado de maneira tão superficial, e o final é o ápice de falta de criatividade, não faz sentido algum, realmente obedece bem a fala de que, quando alguém começa algo é impossível parar, a única motivação é que tinha que acontecer e ponto, sem nexo
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