Hollywood já fez inúmeras comédias sobre adolescentes
tentando perder a virgindade a todo custo. Quase sempre essas histórias são sob
o ponto de vista masculino, a exemplo de American
Pie (1999), então é sempre curioso para ver como um filme tenta olhar essa
questão a partir de um grupo de personagens femininas como acontece neste Não Vai Dar.
A trama é centrada em três amigas, Julie (Kathryn Newton),
Kayla (Geraldine Viswanathan) e Sam (Gideon Adlon). No dia da formatura do
colegial as três fazem um pacto para perderem a virgindade com seus respectivos
pares para o baile de formatura. A troca de mensagens entre as três, no
entanto, acaba sendo acidentalmente vista por Lisa (Leslie Mann), a mãe de
Julie, que alerta os pais de Kayla e Sam, Mitchell (John Cena) e Hunter (Ike
Barinholtz) e os três decidem impedir as filhas.
Pela premissa parece que o filme vai adotar uma postura
machista, assumindo a sexualidade feminina como algo que precisa ser controlado
e indigno de uma “mulher de respeito”, mas felizmente não é o caso. O humor do
filme reside justamente em ridicularizar a atitude dos três pais, mostrando
como a conduta deles é anacrônica, estúpida e estão projetando nas filhas seus
próprios temores e inseguranças quanto à saída delas de casa.
O destaque fica por conta do lutador John Cena, que
realmente abraça a ingenuidade e estupidez de Mitchell, acreditando em cada
cena, cada gag cômica, não importa o
quão absurda ou exagerada elas sejam. Aliás, muitos dos melhores momentos do
filme envolvem Mitchell, como a cena em que ele toma cerveja pela bunda ou
quando ele invade a casa de um casal de meia idade que está correndo pelado e
vendado pela casa.
Isso não significa que as garotas não tenham seus bons
momentos, a exemplo da cena em que Julie explica como seria uma noite ideal com
o namorado e a fala deixa evidente a inexperiência dela com sexo. Outro bom
momento é a cena do vômito coletivo na limusine, que começa banal e vai sendo
amplificada a proporções absurdas, sendo, talvez, a melhor sequência cômica de
vômito desde a cena do parque de diversões em O Pestinha 2 (1991).
Apesar de todo o absurdo e exagero, o filme também é
competente em desenvolver a relação de amizade e compreensão entre as três
amigas e também o relacionamento que elas têm com os pais. O texto ainda é
inteligente ao evitar ser normativo demais quanto ao sexo, reconhecendo que
cada pessoa tem seu tempo e que deve passar a experiência quando se sentir
confortável ao invés de aderir a pressões de amigos ou da sociedade, com cada
uma das três protagonistas tendo uma experiência particular, reconhecendo a
pluralidade dessa vivência.
Apesar de assumir uma perspectiva feminina e criticar certas hipocrisias sobre sexualidade, não faz nada de muito diferente do que é típico em comédias besteirol adolescentes, mas ainda assim Não Vai Dar diverte pela criatividade absurda de suas cenas de humor e pelo carisma dos personagens.
Nota: 7/10
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