quarta-feira, 3 de julho de 2019

Crítica – Shaft

Análise Crítica – Shaft


Review – Shaft
Este novo Shaft é simultaneamente um reboot e uma continuação. Continuação porque reconhece os eventos desde o primeiro filme de 1971, que trazia Richard Roundtree como o personagem título, passando pela versão dos anos 2000 protagonizada por Samuel L. Jackson até chegar na trama atual. É um reboot, no entanto, porque ter visto qualquer filme anterior não é necessário para assistir esse, que tenta ser um novo começo para a franquia.

A trama acompanha John Shaft Jr (Jessie T, Usher), ou JJ, filho do Shaft interpretado por Samuel L. Jackson no filme de 2000. JJ é um analista de dados do FBI que decide investigar a morte de um amigo e acaba precisando pedir ajuda ao pai e ao avô, o Shaft original, interpretado por Richard Roundtree, para resolver o caso.

Jessie T. Usher, que viveu o filho do personagem de Will Smith no péssimo Independence Day: O Ressurgimento (2016), continua a exibir aqui o mesmo tipo de interpretação apática e desprovida de carisma que demonstrou no filme de 2016. Não que o material ajude o ator, já que o roteiro JJ é reduz a uma caricatura aborrecida de millenial hipster que reclama e gagueja boa parte do tempo e que muitas vezes assume uma conduta incoerente.

Ouvimos mais de uma vez o personagem dizer que não gosta de armas e quando ele recebe uma arma do pai logo no início do filme, JJ a atira pela janela. A cena é feita para ser engraçada, mas lembremos que o personagem é um agente do FBI que, imaginamos, deveria se preocupar com a segurança da população e jogar uma arma de fogo no meio da rua é no mínimo um ato de irresponsabilidade dele. Claro, o Shaft pai aponta a estupidez da ação do filho, mas nem isso serve para diminuir o senso de incoerência das ações do protagonista.

Na verdade todo o filme se resume a piadinhas constantes entre os dois Shafts, com o pai apontando o quanto o filho seria “fresco” e mimado, enquanto que JJ constantemente chama a atenção do pai por ele reproduzir padrões anacrônicos de masculinidade. Em tese poderia render algo interessante sobre o conflito geracional, mas o filme, dirigido por Tim Story (que já tinha reduzido o Quarteto Fantástico da Marvel em personagens cômicos ao longo de dois filmes), só está interessando em um humor rasteiro e óbvio que constantemente quebra o ritmo da trama.

Um exemplo é a cena em que JJ e o pai estão em um táxi conversando sobre as provas que coletaram e são constantemente interrompidos por uma motorista inoportuna. A troca entre os personagens deveria ser engraçada, mas é apenas constrangedora, interrompendo o fluxo da trama sem acrescentar nada, nem mesmo risos esquecíveis à cena. O mesmo pode ser dito do momento em que JJ bate com a cara no vidro ao tentar invadir o covil do vilão. O filme simplesmente interrompe a empolgação da cena de ação para enfiar forçadamente uma piadinha descartável que, novamente, trabalha contra o filme ao invés de em favor dele. A impressão que que Tim Story tentou fazer algo ao estilo “padrão Marvel”, com os personagens fazendo piadas e sendo autorreferentes o tempo todo, mas tudo o que o diretor conseguiu fazer foi reproduzir os piores vícios do estúdio sem trazer nenhuma das virtudes.

A trama investigativa em si é bem óbvia em suas reviravoltas e também no desenvolvimento de seus personagens, sendo evidente desde o início que JJ aprenderá com o pai a ser mais durão enquanto que Shaft aprenderá com o filho a ser mais sensível. O vilão é só um gângster genérico e o filme ainda desperdiça Alexandra Shipp (a Tempestade dos dois últimos filmes dos X-Men) como um mero interesse romântico e donzela em perigo. O único ponto realmente positivo é a música, em especial o tema de Isaac Hayes (a voz do Chef de South Park) para o filme de 71, embora isso seja eventualmente prejudicado pelo péssimo remix eletrônico que fizeram da canção.

Este novo Shaft pega toda a personalidade, carisma e conteúdo político ligado à franquia e joga fora, substituindo tudo que ela tinha de singular por uma aventura genérica, metida a engraçadinha que tenta sem sucesso ser algo ao estilo Marvel de fazer filmes.

Nota: 4/10


Trailer

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