sexta-feira, 5 de julho de 2019

Crítica – Stranger Things: 3ª Temporada


Análise Crítica – Stranger Things: 3ª Temporada

Review – Stranger Things: 3ª TemporadaDepois de uma competente segunda temporada, Stranger Things retorna para a sua terceira depois de um hiato de um ano e esse intervalo parece ter feito muito bem à série, entregando uma temporada concisa, sem problemas de ritmo, que talvez seja a melhor até aqui.

A narrativa começa cerca de um ano depois da temporada anterior. Os garotos estão de férias, Mike (Finn Wolfhard) e Onze (Millie Bobby Brown) estão namorando e não desgrudam um do outro. Lucas (Caleb McLaughlin) e Max (Sadie Sink) também estão namorando, o que deixa Will (Noah Schnapp) frustrado por não ter mais seus amigos por perto. Dustin (Gaten Matarazzo) retorna a Hawkins depois de uma viagem dizendo que também arrumou uma namorada, mas ninguém acredita nele. Ao mesmo tempo, russos constroem uma base subterrânea no local em que Onze fechou o portal para o Mundo Invertido na temporada anterior e tentam reabri-lo, liberando o Devorador de Mentes no nosso mundo. Depois de se ferir em um acidente de carro, Billy (Dacre Montgomery) acaba sendo dominado pelo Devorador e é usado como peão nos planos da criatura para destruir Onze e abrir definitivamente o portal para o nosso mundo.

Desde o início a temporada deixa claro o amadurecimento dos protagonistas, que agora estão namorando ou tem empregos. Do mesmo modo, seus pais, em especial Hopper (David Harbour), tem dificuldade de lidar com o fato de que os filhos estão crescidos e já tem outros interesses. Assim como na temporada anterior, o roteiro é esperto o bastante para explorar esses personagens dando a eles jornadas que os colocam em contato com pessoas com as quais eles tinham interagido pouco. Se na temporada anterior a amizade entre Dustin e Steve (Joe Keery) foi a grande surpresa, aqui é explorada a relação entre Max e Onze que pouco tinham interagido no ano anterior.

Como Max é a única menina da mesma idade que Onze conhece (e que sabe de toda a história entre ela e Mike), a paranormal acaba se apoiando em Max como confidente da relação entre Onze e Mike. Esse arco não só desenvolve a amizade entre as duas, como também serve para mostrar a superproteção de Mike e Hopper em relação a Onze, que praticamente alienavam a menina do resto do mundo sob o pretexto de protegê-la, atrapalhando seu desenvolvimento.

Considerando o quão adorável foi a amizade entre Dustin e Steve na temporada anterior, era inevitável que isso não fosse explorado aqui. Ao invés de meramente repetir o que deu certo, no entanto, a dinâmica entre os dois é transformada pela inserção de duas outras personagens. Uma delas é Robin (Maya Hawke, filha dos atores Ethan Hawke e Uma Thurman) que trabalha com Steve na mesma sorveteria. Robin serve para chamar a atenção para a futilidade de Steve e o quanto ele era um péssimo sujeito na época de colégio, ajudando o personagem a perceber a própria imaturidade. Isso, no entanto, não significa que Robin seja uma personagem subalterna, já que ela tem seus próprios problemas a lidar, aos poucos assumindo que sua fachada de sarcasmo é um mecanismo de defesa.

Outro elemento inserido na relação entre Dustin e Steve é Erica (Phiah Ferguson), a irmã de Lucas que tinha aparecido brevemente na temporada anterior. Aqui, Dustin acaba chamando atenção de Erica para a inerente nerdice da menina, aos poucos se transformando em um “mentor nerd” da garota. Quem também tem mais destaque que na temporada anterior é Billy, que agora tem uma função mais clara na trama como antagonista. Apesar de passar boa parte do tempo dominado pelo Devorador de Mentes, ainda assim a trama faz um esforço de tentar compreender o personagem e como ele se tornou o valentão que conhecemos, inclusive dando a ele uma chance de redenção.

A presença dos russos e do exército de pessoas controladas pelo Devorador de Mentes ajuda a dar um senso de perigo constante e tensão crescente que faltava um pouco na segunda temporada, em parte porque alguns episódios acabavam fazendo desvios (ainda que importantes para o desenvolvimento de alguns personagens) da trama principal. A temporada também serve para mostrar como a série criou um universo que se sustenta por conta própria, para além da nostalgia, que aqui fica mais como um pano de fundo ou em referências casuais como o agente russo que é comparado a Arnold Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro (1984).

Há também um senso agridoce de “fim da infância” permeando toda a temporada. A série é competente em mostrar o quanto esses personagens estão crescendo e amadurecendo, assim como exibe as inevitáveis transformações e mudanças características dessa fase.

Afinal, crescer significa mudar, abrir mão de certas coisas, escolher certos caminhos na vida que nos afastam dos amigos ou conhecidos que são tão importantes e tudo isso é normal e saudável. O final é certeiro em construir esse misto de felicidade e melancolia em reconhecer que nossas estão mudando, que as coisas nunca mais serão as mesmas, mas, que ainda assim, todas essas experiências foram válidas. Que dor, perda e distância são tão parte da vida e importantes na nossa formação quanto alegria, amizade e vitória. É nesse sentido que a série faz um bom uso da nostalgia, reconhecendo o valor de celebrar o passado, a infância, as descobertas e o amadurecimento, mas entendendo que tudo tem seu tempo, que esse olhar afetuoso para tudo que gostamos não pode nos impedir de seguir em frente. 

A terceira temporada de Stranger Things é talvez a melhor da série até aqui, apresentando uma trama concisa e focando no desenvolvimento dos personagens que conseguem tornar a série tão marcante.

Nota: 9/10


Trailer

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