Lançado em 1972, A
Noite dos Coelhos é um daqueles filmes que tem uma premissa tão absurda,
com coelhos gigantes atacando uma pequena cidade, que imediatamente imaginamos
que não irá se levar a sério. É o tipo de coisa que poderia render uma podreira
bem divertida se abraçasse a natureza absurda de sua trama, mas cai no erro de
tentar ser um terror “sério” e como resultado acaba sendo aborrecido.
Na trama, a uma pequena cidade no interior dos Estados
Unidos está sofrendo com uma infestação de coelhos. Depois que todos os coiotes
da região foram eliminados, os coelhos se reproduziram descontroladamente e se
tornaram uma praga, devorando as plantações locais. O fazendeiro Cole (Rory
Calhoun) pede ajuda ao reitor da universidade local, Elgin (DeForest Kelley, o
Dr. McCoy da série clássica de Star Trek).
O reitor designa o casal Roy (Stuart Whitman) e Gerry Bennet
(Janet Leigh, que protagonizou Psicose)
para desenvolver uma meio de eliminar os coelhos sem usar venenos. Eles tentam
uma terapia hormonal para deixar os coelhos inférteis, injetando neles um
coquetel de hormônios e drogas, mas a filha deles acaba pegando o coelho usado
como cobaia e o leva consigo, acidentalmente deixando o animal escapar logo
depois. Poucos meses depois, moradores da cidade começam a ser mortos em uma
antiga mina de ouro e os personagens descobrem que o coelho que escapou não só
se tornou imenso, como se multiplicou, criando uma horda de coelhos gigantes
prestes a atacar a cidade.
Eu fiz esse longo preâmbulo explicando a narrativa porque é
pouco provável que muitos tenham assistido ao filme ou mesmo resolvam
assisti-lo depois, no entanto a verdade é não há muita trama a ser contada pelo
filme. Os personagens não possuem arcos narrativos, personalidades próprias ou
passam por qualquer jornada de aprendizado, eles existem apenas para sobreviver
à ameaça dos coelhos, mas como são vazios, é difícil torcer ou se envolver por
eles. Qualquer cena que envolve apenas os personagens humanos acaba sendo
aborrecida pelo excesso de diálogos expositivos e falta de desenvolvimento
consistente daqueles sujeitos, além do excesso de seriedade das atuações que
parece destoar na natureza risível da premissa.
As coisas se saem um pouco melhor quando os coelhos entram
em cena, mas isso só acontece porque o filme descamba para a comédia
involuntária. No primeiro ataque, ocorrido dentro da mina, a câmera
simplesmente corta entre imagens de uma pessoa gritando e se contorcendo e
imagem em close de um coelho normal
com sangue falso no focinho. Fica evidente que os dois não estão em cena juntos
e que se trata de um coelho comum. Talvez se o coelho tivesse sido filmado em
um plano contra-plongée, com a câmera posicionada em um ângulo baixo em relação
ao objeto filmado, a tomada conseguisse dar a impressão de que estamos vendo um
coelho enorme, mas do jeito que está não há ilusão alguma.
As coisas melhoram um pouco, mas não muito, em ataques
subsequentes dos coelhos quando o filme tenta cortar rapidamente entre um
sujeito usando um traje de coelho (a montagem tenta disfarçar, mas o truque
fica bem evidente) com imagens de coelhos reais, dando algo concreto para os
atores interagirem em cena, mas ainda assim falhando em enquadrar os coelhos
reais de uma maneira que os faça parecer gigantes.
Em cenas com os coelhos andando pela cidade ou invadindo
casas, o filme inteligentemente coloca os coelhos em maquetes, realmente dando
a impressão de animais grandes, ainda que fique evidente que os bichos estão
numa maquete ou diante de um chroma key.
Os bichos são filmados em câmera lenta, provavelmente para tentar dar impacto e
peso ao movimento de modo a reforçar o fato de que são animais gigantes.
O filme exibe uma estranha escolha na construção dos efeitos
sonoros que tenta associar aos coelhos gigantes, usando claramente sons de
cavalos em seus passos e rugidos de leão para os grunhidos dos coelhos. Esses
efeitos sonoros são usados de maneira inadulterada em relação aos animais
originais e assim denunciam que não pertencem aos coelhos gigantes que estamos
vendo, quebrando a imersão. Teria sido melhor alterar artificialmente esses
sons para dar-lhes uma característica diferente ou singular. Outra alternativa
seria combinar o som de diferentes animais de modo que fosse impossível
identificar a fonte original, tornando assim mais fácil que esses sons
aderissem de maneira mais crível aos animais. É assim que são feitos os rugidos
de monstros como o Godzilla ou mesmo de dinossauros.
Considerando o baixo orçamento e capacidades técnicas
limitadas (pelo dinheiro e pela época) devo dizer que a equipe do filme fez o
melhor que pôde, o problema é que os coelhos não são assustadores. Coelhos são
animais fofos e mesmo colocando groselha no pelo deles ou fazendo-os caminhar
entre maquetes não os torna menos fofos ou mais assustadores. Talvez pudesse
funcionar se eles maquiassem os bichos para parecerem deformados ou usassem
algum tipo de marionete ou animatrônico com um visual deformado e sinistro de
coelho, do jeito que está, no entanto, o filme cria mais risos do que sustos.
Fico imaginando o que um cineasta com afinidade com o grotesco e o inesperado,
tipo o David Cronenberg, conseguiria fazer com essa premissa (e com um
orçamento razoável, claro).
Talvez se assumisse o lado mais trash de sua premissa A Noite
dos Coelhos poderia render algo divertido. Ao cair no erro de se levar a
sério acaba sendo apenas um terror incapaz de gerar qualquer tensão.
Trailer
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