Escrita por Lu e Victor Cafaggi, a graphic novelTurma da
Mônica: Laços era uma afetuosa celebração do universo criado por Maurício
de Souza e funcionava por aprofundar o que sabíamos sobre esses personagens sem
esquecer a essência deles. Esta adaptação para os cinemas se manteve
relativamente fiel ao material original, mas isso não significa que não tem sua
parcela de problemas.
A trama começa quando Floquinho, o cachorro do Cebolinha
(Kevin Vechiatto), desaparece e as crianças da Rua do Limoeiro se unem para
ajudar Cebolinha a procurar Floquinho. Assim, Mônica (Giulia Benitte), Magali
(Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) partem em uma aventura por uma
floresta próxima, mas acabam se perdendo, precisando também encontrar o rumo de
casa.
A narrativa acerta não só na recriação com atores e cenários
do universo concebido por Maurício de Souza e na graphic novel na qual o filme é mais diretamente inspirado como
também no olhar mais simples e ingênuo sobre infância que essas histórias
sempre tiveram. As crianças da narrativa brincam na rua sem precisar de muita
coisa para se divertirem, muitas vezes usando a própria imaginação para
conceber suas brincadeiras, sem depender diretamente de tecnologia ou
brinquedos caros, valorizando o lúdico e a imaginação.
Aplicando a conhecida premissa de “eu acho que meu vizinho é
um assassino” a uma ambientação oitentista protagonizada por crianças, Verão de 84 funciona como uma mistura de
Janela Indiscreta (1954) com Os Goonies (1985) e a nostalgia de Stranger Things. O resultado, no
entanto, acaba sendo menor que a soma de suas partes e o que poderia ser uma
aventura/suspense jovem se torna algo morno.
A trama acompanha Davey (Graham Verchere), um garoto de
férias da escola que começa a suspeitar que o vizinho deles, o solitário
policial Mackey (Rich Sommer) possa ser o serial
killer que a polícia vem caçando a algum tempo. Ele conta suas suspeitas
aos amigos Tommy (Judah Lewis), Woody (Caleb Emery) e Farraday (Cory
Gruter-Andrew), unindo todos na investigação ao senhor Mackey. Além do
quarteto, há também Nikki (Tiera Skovbyie) a bela garota da casa da frente que
costumava ser babá de Davey e por quem o protagonista nutre uma certa paixão.
Não é à toa que Cantando
na Chuva seja um dos musicais mais celebrados de todos os tempos. Lançado
em 1952, o filme é uma divertida e espetacular celebração de amor, música e do
próprio ofício de fazer cinema. Com um elenco no auge de sua forma, é difícil
não se deixar encantar por ele.
A trama se passa no final da década de 1920, no período de
transição entre o cinema mudo e o cinema falado. O Cantor de Jazz (1927) acabava de ser lançado com um imenso
sucesso financeiro ao finalmente apresentar uma projeção de vozes e canto
sincrônica com a imagem. Diante do fascínio de público por filmes falados, a
produtora de cinema na qual Don (Gene Kelly) e Cosmo (Donald O’Connor)
trabalham resolve transformar sua mais recente produção em um filme falado. A
companhia enfrenta problemas na transição, em especial pelo fato do par
romântico de Don no filme, a atriz Lina Lamont (Jean Hagen), tem uma voz
desagradável. A solução é chamar a aspirante a atriz Kathy (Debbie Reynolds)
para dublar Lina, mas aos poucos Don vai se apaixonando por Kathy.
Fiquei um tempo em silêncio sentado na poltrona do cinema
enquanto os créditos subiam ao fim de Bacurau,
novo filme de Kleber Mendonça Filho, que aqui dirige ao lado de Juliano
Dornelles. Os dois longas anteriores de Kleber, O Som ao Redor (2012)e Aquarius(2016) tinham me causado
impacto semelhante e, em igual medida, fui deixado sem saber como organizar meu
raciocínio para falar do filme ou o que dizer exatamente sobre ele, já que
parecia ter coisa demais para eu dar conta em um texto. Ainda assim, tentarei.
A narrativa se passa em um futuro não especificado no qual
as coisas pioraram bastante no Brasil. O ponto central da trama é a pequena
cidade de Bacurau, que sofre com falta de água depois que o governo represou um
rio próximo. Teresa (Barbara Colen) retorna à cidade para o funeral da mãe,
dona Carmelita, mas em seu tempo lá coisas estranhas começam a acontecer:
drones passeiam pelos céus, carros são baleados e pessoas são mortas sem
explicação. Assim, Teresa e outras figuras proeminentes na cidade como Acácio
(Thomas Aquino) e a médica Domingas (Sônia Braga) tentam entender o que está
acontecendo.
Eu queria muito ter gostado deste Anna: O Perigo Tem Nome. Muita coisa do que o diretor Luc Besson
fez durante os anos noventa tem lugar cativo na minha memória cinéfila como Nikita: Criada Para Matar (1990), O Profissional (1994) e O Quinto Elemento (1997), então sempre
desejo por vê-lo à frente de bons projetos, mas seus últimos filmes, apesar de
carregarem promessa, acabaram sendo bem abaixo dos melhores momentos do
realizador. Lucy(2014), apesar do
carisma de Scarlett Johansson e da boa direção de Besson foi soterrado pelo
peso da própria megalomania e Valerian e a Cidade dos Mil Planetas(2017) era prejudicado por um roteiro
problemático e um casting equivocado
de seus protagonistas. Este Anna
poderia ter sido um retorno à forma ao trazer em si ecos de Nikita, mas o resultado é algo
desconjuntado e anacrônico.
A trama começa na década de oitenta quando a jovem russa
Anna (Sasha Luss) é recrutada como assassina pela KGB. Ela vai para Paris
disfarçada como modelo e vive uma vida dupla como top model e matadora, eliminando os inimigos da Rússia. As
atividades de Anna chamam a atenção do agente da CIA Lenny (Cillian Murphy),
que força Anna a colaborar com os EUA. Assim, a espiã fica presa em um perigoso
jogo duplo no qual tem que lutar pela própria sobrevivência e liberdade.
Chama a atenção uma certa inconsistência tonal no longa, em
especial quando o filme contrapõe o cotidiano de assassina da protagonista com
seu trabalho como modelo. Quando Anna está a serviço da KGB, o filme é sério,
sisudo e sombrio, com a protagonista sendo mentalmente afetada por toda a
violência ao seu redor, mas em seus momentos de modelo é tudo tão histriônico e
caricato que parece algo saído da franquia Zoolander.
Sim, Besson claramente parece querer parodiar o universo fashion, a questão é que as transições entre a seriedade
psicológica e o pastiche são muito abruptas, dando a impressão de dois filmes
diferentes e essas duas abordagens mais brigam entre si do que dialogam.
É curioso, no entanto, que ele tente criticar a
objetificação promovida pelo mundo da moda ao mesmo tempo em que insista a todo
momento em mostrar a nudez de sua protagonista e colocá-la em cenas de sexo
(além de um eventual estupro). Soa contraditório reclamar da objetificação de
um determinado ramo do entretenimento ao mesmo tempo em que ele próprio a expõe
mais do que necessário, já que mesmo quando ficou claro que ela usa o sexo para
manipular os homens ao seu redor, Besson continua insistindo em cenas e mais cenas
dela tirando a roupa.
Algumas cenas de sexo até descambam para o humor
involuntário, como o sexo violento entre Anna e o russo Alex (Luke Evans), que
provavelmente foi pensado como algo de uma sensualidade feroz, mas termina como
se estivéssemos assistindo ao coito de dois búfalos no cio. Atômica(2017), um filme que claramente
remetia aos produtos noventistas de Besson, conseguiu equilibrar melhor sua
combinação entre ação e sensualidade.
Outro problema é a insistência do filme em ficar indo e
voltando no tempo para tentar criar surpresas e reviravoltas na esperança de
convencer o público que esta é uma trama extremamente inteligente quando na
verdade repete todos os clichês típicos de tramas de “espião versus espião”. O
expediente de ficar “rebobinando” eventos quebra o ritmo da trama,
interrompendo constantemente o fluxo e muitas vezes repetindo algumas cenas que
já vimos, como se fossemos incapazes de lembrar algo de dez minutos atrás, para
tentar mostrar a ação de uma perspectiva diferente e que as coisas não era como
pensamos.
Como o filme abusa do recurso, ele se torna previsível e lá
pela terceira vez que uma ação é cortada sem se resolver, sabemos que o filme
irá eventualmente rebobinar até aquele momento para revelar uma surpresa que
acaba sendo facilmente antevista (eu previ a maioria). Desta maneira, a trama
não só fica bastante previsível, como também dá a impressão de um ritmo
truncado, que resiste em progredir. Se tudo tivesse sido contado em ordem
cronológica seria perfeitamente possível manter o suspense sem sacrificar a
progressão da trama. Nesse ímpeto de encadear reviravoltas, os personagens
acabam reduzidos a meros dispositivos de roteiro e mesmo a protagonista não
consegue ir além do lugar comum da assassina que quer se libertar de sua vida
de violência.
As cenas de ação exibem bastante violência e são muito bem
conduzidas, com Bresson apresentando planos longos e com poucos cortes que
conferem fluidez aos combates e as coreografias de luta exploram de maneira
criativa as habilidades letais da protagonista, em especial uma luta dentro de
um restaurante. Ainda assim, as cenas de ação são poucas e relativamente
espaçadas os longo do filme, não sendo o bastante para fazer a experiência ser
positiva.
Anna: O Perigo Tem
Nome soa como um filme parado no tempo, algo que ficou perdido dentro de
uma gaveta de estúdio e só agora foi encontrado e jogado nos cinemas. Apesar de
algumas boas cenas de ação, o filme se perde em uma inconsistência tonal,
personagens desinteressantes e uma trama que se julga mais esperta do que
realmente é.
Juntos há cerca de vinte anos, os membros de um quarteto de
cordas precisam confrontar a possibilidade do grupo acabar quando um deles
descobre ter Parkinson. O quarteto, formado por Daniel (Mark Ivanir), Robert
(Phillip Seymour Hoffman), Juliette (Catherine Keener) e Peter (Christopher
Walken) passam a reexaminar as principais decisões tomadas nas últimas décadas
quando Peter anuncia que em breve precisará deixar o grupo por conta de sua
saúde.
A trama aborda o quão complexa é a dinâmica de um grupo
musical deste tipo, já que não basta saber tocar, cada um precisa estar em
sintonia com o outro, ter estilos e abordagens compatíveis e ser capaz de
colocar o grupo em primeiro lugar. É um sistema social bastante delicado e um
desarranjo em qualquer elemento põe os demais em desarmonia. É exatamente isso
que acontece quando Peter anuncia sua doença, ao confrontar a mortalidade do
amigo e o fim do grupo como conhecem, os outros três membros acabam entrando em
conflito.
A possibilidade do fim do grupo levanta neles a ideia de que
as escolhas que fizeram até então para manter o quarteto funcionando foram em
vão e velhos ressentimentos começam a emergir, como o fato de que Robert nunca
pode ser o primeiro violinista do grupo ou que Juliette deixou de lado sua
paixão por Daniel para ficar com Robert apenas porque ele era mais conveniente.
O elenco contribui para que sintamos o peso dos anos sobre o grupo, convencendo
que são pessoas que convivem a muito tempo e compreendem muito bem os vícios e
virtudes de cada um dos companheiros.
Eddie Murphy se tornou famoso ao estrelar comédias nas quais
ele interpretava múltiplos personagens. Ele já fazia isso em Um Príncipe em Nova York (1988), no qual
além de interpretar o protagonista, também interpretava alguns personagens
secundários que frequentavam a barbearia em que o protagonista trabalhava. Murphy
atingiu o auge desse recurso em O
Professor Aloprado (1996) e a partir daí o dispositivo começou a se
desgastar, com a continuação O Professor
Aloprado 2 (2000) sendo bem inferior ao primeiro e depois o horrendo Norbit (2007) mostrou que não havia mais
nada o que fazer no formato. Só esqueceram de avisar isso para Marlon Wayans
que neste Seis Vezes Confusão tenta
emular Eddie Murphy quando nem o próprio Murphy consegue fazer um filme desse
tipo dar certo.
Na trama, Alan (Marlon Wayans) está prestes a se tornar pai,
mas o fato de não ter família o deixa em dúvidas sobre construir a sua própria.
Ele decide então procurar a mãe biológica e nesse processo descobre que possui
outros cinco irmãos gêmeos (todos interpretados por Marlon Wayans). Bem, é
isso, não há exatamente uma trama ou conflito central, com a narrativa usando a
estrutura de road movie mostrando a
viagem de Alan em busca dos irmãos como uma maneira de disfarçar o vazio
narrativo.
A primeira temporada de Mindhunterenvolvia tanto pela sua construção do suspense das investigações quanto
pelo modo como capturava o clima de incerteza da época com o crescimento de
ataques de serial killers. Ao mostrar
as dificuldades que os protagonistas tinham em ter seu trabalho sobre
assassinos em série levado à sério, a trama também revelava certos preconceitos
sociais quanto à natureza do crime. A segunda temporada continua a desenvolver
muitos desses mesmos temas, expandindo-os assim como expande o desenvolvimento
do personagem.
A trama continua do ponto em que a primeira encerrou, com o
agente Ford (Jonathan Groff) tendo um ataque de pânico depois de entrevistar um
serial killer. O agente Tench (Holt
McCallany) recebe notícia de uma mudança de comando em Quantico e o novo
encarregado é mais aberto aos novos métodos pesquisados pela unidade dos
protagonistas, o que é lhes dá novas oportunidades, mas também novos desafios,
já que o olhar do público está mais sobre eles. Ford, Tench e os demais tem uma
nova oportunidade de testar seus métodos quando uma onda de assassinatos de
crianças aterroriza a cidade de Atlanta. Além das dificuldades em encontrar o
culpado, os protagonistas ainda precisam lidar com toda a politicagem
envolvendo a investigação, já que as autoridades estão menos interessadas na
busca pela verdade e mais nas aparências.
Desde Bastardos
Inglórios (2009) que o diretor Quentin Tarantino se dedica a olhar a
história através da arte. Ele já foi desde a Segunda Guerra Mundial, passando
pelo período da escravidão em Django Livre(2012) e pela Guerra Civil dos EUA em Os Oito Odiados(2015) e agora, neste Era Uma Vez em...Hollywood, se volta aos Estados Unidos da década
de 60, a ascensão dos serial killers e
o fim do “sonho americano” consolidado no pós-guerra. Ao final da Segunda Guerra
Mundial, os Estados Unidos foram a única grande potência razoavelmente intacta
enquanto que boa parte dos países europeus estava em ruína. Isso permitiu que o
país crescesse e expandisse sua influência mundial ainda mais, tanto termos
econômicos quanto políticos, sociais e culturais.
Foi um período de bonança e prosperidade para o país, que
parecia inatingível e projetava um ideal idílico de perfeição. Movimentos de
contracultura apontavam para possíveis avanços sociais e uma melhora de vida em
geral. Ao final dos anos 60, no entanto, as rachaduras nessa fachada perfeita
começaram a aparecer e os assassinatos cometidos pelo “culto” liderado por
Charles Manson quebraram a impressão de invulnerabilidade que o país construíra
para si nas últimas décadas. Serial
killers começavam a pipocar em diferentes cidades e a sensação era que os EUA não
só deixara de ser seguro, como era tomado por uma violência que as pessoas não
conseguiam compreender muito bem, algo mostrado na série Mindhunter.
Depois de uma excelente primeira temporada e uma segunda um pouco inferior, mas que ainda conseguia manter o interesse, The Handmaid’s Tale chega a sua terceira
temporada dando sinais de cansaço, com uma trama que parece andar em círculos e
decisões questionáveis quanto ao desenvolvimento de suas personagens. O texto a
seguir contem SPOILERS da temporada.
A trama começa no mesmo ponto em que o segundo ano parou,
com June (Elizabeth Moss) decidindo ficar em Gilead depois de dar sua filha,
Nichole, para Emily (Alexis Bledel) levar através da fronteira do Canadá. A
ação não passa incólume pelo governo de Gilead, mas o comandante Fred Waterford
(Joseph Fiennes) e sua esposa Serena (Yvonne Strahovski) conseguem convencer as
autoridades da inocência de June na questão, colocando Emily como a única
culpada.
O “sequestro” de Nichole gera um incidente internacional
entre Gilead e o Canadá que permite compreender melhor como Gilead interage com
o resto do mundo e o funcionamento da política internacional deste universo. Aliás, a temporada também cria imagens poderosas mostrando o que aconteceu em Gilead com antigos símbolos nacionais dos Estados Unidos, com o obelisco do monumento a Washington sendo substituído por uma cruz e a estátua do memorial a Lincoln sendo largada em ruínas, simbolizando como o sonho de igualdade naquele país foi destruído. O
problema é que todo esse conflito é construído à revelia do desenvolvimento que
foi feito dos personagens até então, especialmente Serena.
Feita na década de noventa, animação A Vida Moderna de Rocko produzia um comentário bastante ácido sobre
a sociedade de sua época e apesar de passar em um canal voltado para o público
infantil, o Nickelodeon, tratava sobre questões bastante adultas. Inclusive, eu
só cheguei a entender certas piadas ou situações muitos anos depois de ter
originalmente assistido a série. Pois a atual onda de reboots e remakes não
deixou essa série incólume, trazendo-a de volta como um telefilme da Netflix
neste A Vida Moderna de Rocko:Volta ao Lar.
Na trama, depois de passar vinte anos perdido no espaço
sideral, Rocko, Vacão e Felizberto retornam à cidade de O-Town e descobrem que
seu desenho animado favorito foi cancelado. Desesperados em lidar com um mundo
que não reconhecem mais, resolvem encontrar o criador do desenho para que ele traga
a animação de volta.
Fica claro por esta breve sinopse que o longa tenta
satirizar toda essa onda de produções tomadas por nostalgia que tem tomado a
indústria hollywoodiana. De maneira bastante metalinguística o roteiro critica
essa necessidade de ficarmos consumindo as mesmas coisas de nossa juventude
como uma maneira de nos mantermos em uma eterna infância.
Confesso que não esperava muita coisa deste Casal Improvável. Pelos trailers parecia
mais uma daquelas comédias imaturas do Seth Rogen cheias de piadas sobre ânus e
pênis sem nada a dizer. O filme não deixa de recorrer a um humor escatológico
em alguns momentos, mas em seu cerne há uma competente comédia romântica como
há muito não se via.
A trama gira em torno da política Charlotte Fields (Charlize
Theron), ela é a Secretária de Estado dos Estados Unidos e está prestes a se
lançar em uma campanha presidencial. Para impulsionar sua campanha, ela
contrata o jornalista Fred Flarsky (Seth Rogen), um antigo conhecido de
infância, para escrever seus discursos. Aos poucos Charlotte e Fred vão se
aproximando, mas o envolvimento dela com o atrapalhado jornalista pode por em
risco sua candidatura.
Chama a atenção que o filme não trata como uma questão o
fato de um homem não deter o protagonismo de um relacionamento. Apesar de não
ser o primeiro a colocar uma mulher em alta posição de poder e prestígio em um
relacionamento amoroso com um homem mais modesto, outros filmes tratavam isso
como um problema a ser superado pelo personagem masculino. O recente Meu Eterno Talvez, por exemplo, fez
disso um dos principais conflitos, colocando o personagem para aprender que não
há nada errado em não ser o ponto focal da relação.
O final da segunda temporada de GLOW prometia uma mudança de ambiente para as personagens,
transformando o programa de luta-livre que se passa dentro da série em um show
ao vivo em um cassino ao invés de um programa televisivo. Chegando nesta
terceira temporada, é bacana constatar que a mudança de fato serviu para fazer
as personagens se transformarem e não uma mera troca de cenário.
Debbie (Betty Gilpin), Bash (Chris Lowell) e Sam (Marc
Maron) agora precisam adaptar o formato de GLOW para uma atração em Las Vegas,
no cassino chefiado por Sandy (Geena Davis), com a mudança afetando cada um
deles e também o elenco de lutadoras. Ruth (Alison Brie) tem que lidar com a
distância do namorado, Debbie sente saudades do filho pequeno, Arthie (Sunita
Mani) e Yolanda (Shakira Barrera) começam a enfrentar problemas no relacionamento,
enquanto que Cherry (Sydelle Noel) começa a tentar engravidar.
Se em temporadas anteriores as tramas se concentravam nos
desafios e problemas de manter o show funcionando, agora que a atração está
relativamente consolidada as tramas focam mais nos dilemas individuais das
personagens ao invés das questões de bastidores. A mudança soa natural
considerando que a essa altura já compreendemos como o show funciona e o status estável que a atração alcançou na
vida das personagens.
Já faz alguns anos que a Disney entrou em uma onda de
refazer em live action a grande
maioria de seus clássicos animados. Embora alguns até pudessem se beneficiar da
atualização, como Cinderela (2015) ou
Mogli: O Menino Lobo (2016), outros
como este Aladdin não precisavam
existir, já que o filme original se sustenta perfeitamente bem hoje e tem pouco
que mereça ser alterado ou melhorado.
A trama é a mesma da animação. O garoto de rua Aladdin (Mena
Massoud) se apaixona pela princesa Jasmine (Naomi Scott, a Kimberly do último
filme dos Power Rangers), mas ela só
pode se casar com um príncipe e ele não tem chance. Aladdin acaba sendo preso
pelo traiçoeiro Jafar (Marwan Kenzari), que lhe dá a chance de conseguir sua
liberdade se recuperar a lâmpada mágica da Caverna das Maravilhas. Aladdin
acaba ficando com a lâmpada e com o Gênio (Will Smith) que vive dentro dela,
usando os poderes do Gênio para tentar conquistar Jasmine.
A narrativa segue as mesmas batidas e pontos-chave do original,
contando com poucas modificações. A principal é a subtrama de Jasmine, que a
torna uma personagem com mais controle sobre o próprio destino ao mostrá-la
tentando reverter as leis machistas de Agrabah para poder se tornar sultana. Há
também uma subtrama romântica envolvendo o Gênio e uma das camareiras de
Jasmine, Dalia (Nasim Pedrad).
É difícil olhar para este Rainhas do Crime e não pensar no superior As Viúvas(2018), já que a premissa de ambos é praticamente a
mesma. Tudo bem que o quadrinho no qual Rainhas
do Crime se baseia foi lançado antes, mas o filme empalidece ao lado de As Viúvas por conta da superficialidade
de seu texto e falta de ritmo.
A trama se passa na década de 70 e acompanha três esposas de
gângsteres irlandeses que controlam o bairro de Hell’s Kitchen em Nova Iorque.
Quando os três maridos são presos, cabe a Kathy (Melissa McCarthy), Claire
(Elizabeth Moss) e Ruby (Tiffany Haddish) tomar o controle dos negócios para
conseguirem se sustentar. Na prática é a mesma trama de As Viúvas, no qual um grupo de mulheres precisa assumir a atividade
criminosa dos maridos na ausência deles.
O maior problema é o modo corrido com o qual o filme
percorre sua própria trama, como se estivesse com pressa de chegar ao final.
Constantemente são usadas elipses com montagem rápida e uma música pop setentista para avançar rapidamente
a narrativa e com isso o filme “pula” o desenvolvimento das personagens, já que
elas se transformam nessa passagem de tempo, mas nunca vemos ou sentimos essas
transformações, apenas somos informados a respeito delas.
Ao falar sobre a segunda temporada de She-Ra e as Princesas do Poder mencionei como ela fazia pouco para
avançar a trama principal da série. Pois esta terceira temporada acaba
compensando esse problema, expandindo a mitologia deste universo e avançando o
conflito entre as princesas e a horda.
A trama começa com Adora, Cintilante e Arqueiro indo para o
setor mais desolado de Etéria para tentar encontrar uma peça de tecnologia
antiga que se perdeu na região e pode lhe revelar mais sobre Mara, a She-Ra
anterior, e seu próprio destino como protetora do planeta. Ao mesmo tempo,
Hordak despacha Felina para buscar a mesma tecnologia com a esperança que seja
a peça que falta para que ele consiga abrir um portal para trazer os exércitos
da Horda para Etéria.
Como em temporadas anteriores, a série tem uma clara
preocupação com o desenvolvimento de suas personagens e o desenvolvimento de
motivações compreensíveis para elas. Aqui essa preocupação continua a ser
exercitada e aprofunda nosso entendimento até mesmo de personagens que não
esperaríamos saber muito mais do que já sabemos. O melhor exemplo é Hordak, até
aqui uma figura distante e tratada como “o mal absoluto”, mas esta temporada
mostra uma faceta mais vulnerável do vilão. Alguém que lida com a morte
iminente e também um enorme complexo de inferioridade em relação ao Hordak Prime.
A exposição desse lado até então desconhecido de Hordak, ajuda Felina a se
reaproximar dele, já que ela também é movida por um sentimento de abandono e
inferioridade.
O cinema hollywoodiano não é exatamente gentil com os animes japoneses. Adaptações feitas nos
Estados Unidos constantemente rendem produtos que variam entre o fraco, como Alita: Anjo de Combate (2019), A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (2017); o ruim,
como Death Note (2017), e o péssimo,
a exemplo deste Dragonball Evolution.
Muitos reclamam do quanto Dragonball Evolution é distante do mangá e do anime, mas a falta de
fidelidade visual até seria perdoável se o filme fosse capaz de criar uma trama
que fosse interessante ou personagens com algum carisma, mas não é o caso. A
narrativa, tal como no anime, parte da premissa da busca pelas Esferas do
Dragão, que concederia um desejo a quem as reunisse. Aqui, no entanto, a mitologia
é construída de maneira confusa, envolvendo o retorno do Rei Piccolo (James
Marsters) e uma profecia sobre o Oozaru e mais uma série de outros elementos
que tornam o que era uma narrativa relativamente simples em algo mais
bagunçado do que deveria.
Os personagens não eram exatamente poços de complexidade no anime, mas nem tudo que funciona em uma
animação, funciona em live action, e
aqui todos os personagens, de Goku (Justin Chatwin) ao mestre Kame (Chow Yun
Fat), soam como caricaturas grosseiras, inclusive em relação às suas
versões do anime e do mangá. O humor
que era característico de Dragon Ball
é substituído aqui por piadas que mais envergonham do que fazem rir. A única
personagem com um mínimo de carisma acaba sendo a Bulma interpretada por Emmy
Rossum. Claro, ainda seria possível fazer esses personagens funcionarem se o texto fosse
capaz de injetar algum calor humano ou empatia neles, como fizeram as
Wachowskis no subestimado Speed Racer (2008),
no qual mesmo os personagens sendo rasos é possível perceber um sentimento
verdadeiro neles, o que facilita a empatia.
Dwayne “The Rock” Johnson trouxe novo fôlego à franquia Velozes e Furiosos quando entrou para o
elenco em Velozes e Furiosos 5: Operação
Rio (2011). Jason Statham se tornou um dos vilões mais memoráveis nesta
série de filmes em Velozes e Furiosos 7
(2015). Juntos os dois foram as melhores coisas de Velozes e Furiosos 8 (2017). Então é bem natural que eles tenham
ganhado seu próprio spin-off neste Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw.
A trama coloca Hobbs (Dwayne “The Rock” Johnson) e Shaw (Jason
Statham) juntos para encontrar Hattie (Vanessa Kirby), uma agente do MI6 que
está de posse de um perigoso vírus que está sendo procurado por terroristas
internacionais. Quem lidera a perseguição a Hattie é Brixton (Idris Elba), um
soldado ciberneticamente aprimorado que serve a um culto tecnológico que quer
recriar a humanidade com aprimoramentos mecânicos.
A narrativa é previsível (é evidente desde o inícios que
Hobbs e Shaw irão superar as diferenças para aprender a trabalharem juntos, por
exemplo) e tem sua parcela de furos, com tudo servindo como mero pretexto para
as cenas de ação. Há, de leve, um comentário sobre o poder da mídia e como, nos
dias de hoje, é fácil disseminar mentiras e convencer a população com este
conteúdo falso, mas logicamente não há muito tempo investido nisso já que o
foco é a pancadaria. Isso não chega a ser um problema, já que ninguém vai
assistir um filme da franquia Velozes e
Furiosos por conta da história.
Diferentes lugares do mundo, como Reino Unido, Brasil ou
Estados Unidos, tiveram seus últimos períodos eleitorais marcados pelo uso massivo
de rede sociais para engajar a população nas campanhas e um uso corrente de
conteúdos falsos (as infames fake news)
para tentar persuadir a população. Este Privacidade
Hackeada tenta analisar essa questão a partir do escândalo da Cambridge
Analytica, que trabalhou na votação do Brexit, fazendo campanha para a saída da
União Europeia, e na campanha de Donald Trump, em ambos os casos fazendo uso de
conteúdos falsos.
O documentário acompanha um grupo de pessoas afetadas pela
Cambridge. Um deles é David Carroll, professor que processou a Cambridge para
ter acesso aos dados dele que foram coletados pela empresa a partir de redes
sociais. O início é eficiente em argumentar como praticamente tudo que fazemos
no computador e com isso conseguem facilmente deduzir nosso comportamento e
hábitos, com esses dados sendo usados para criar anúncios publicitários
diretamente para cada pessoa.
Carroll argumenta que, por mais que esses dados sejam
colocados em empresas privadas como Facebook e Google, por eles conterem um
nível muito alto de informações pessoais que podem ser usadas “contra” nós de
modo a nos persuadir a fazer qualquer coisa. Sob este aspecto, o documentário
argumenta que os dados deveriam pertencer ao próprio usuário, para que
pudéssemos controlar nosso próprio fluxo de informação e saber o que está sendo
usado. Assim, o direito aos dados seria parte dos direitos humanos.