Confesso que não esperava muita coisa deste Casal Improvável. Pelos trailers parecia
mais uma daquelas comédias imaturas do Seth Rogen cheias de piadas sobre ânus e
pênis sem nada a dizer. O filme não deixa de recorrer a um humor escatológico
em alguns momentos, mas em seu cerne há uma competente comédia romântica como
há muito não se via.
A trama gira em torno da política Charlotte Fields (Charlize
Theron), ela é a Secretária de Estado dos Estados Unidos e está prestes a se
lançar em uma campanha presidencial. Para impulsionar sua campanha, ela
contrata o jornalista Fred Flarsky (Seth Rogen), um antigo conhecido de
infância, para escrever seus discursos. Aos poucos Charlotte e Fred vão se
aproximando, mas o envolvimento dela com o atrapalhado jornalista pode por em
risco sua candidatura.
Chama a atenção que o filme não trata como uma questão o
fato de um homem não deter o protagonismo de um relacionamento. Apesar de não
ser o primeiro a colocar uma mulher em alta posição de poder e prestígio em um
relacionamento amoroso com um homem mais modesto, outros filmes tratavam isso
como um problema a ser superado pelo personagem masculino. O recente Meu Eterno Talvez, por exemplo, fez
disso um dos principais conflitos, colocando o personagem para aprender que não
há nada errado em não ser o ponto focal da relação.
Aqui, no entanto, não há esse conflito, tratando tudo com
bastante naturalidade. Nunca é, para Fred, um problema em ser uma figura de
apoio para a namorada poderosa. Os conflitos que emergem entre os dois vem mais
do idealismo de Fred em contraposição ao pragmatismo político de Charlotte do
que de uma questão de destaque ou poder. Rogen e Theron tem uma ótima química
juntos e a trama é eficiente em criar situações em que esses personagens
consigam demonstrar o afeto que sentem um pelo outro, como na cena em que os
dois dançam escondidos.
Mesmo com todo o romantismo, a narrativa ainda encontra
espaço para explorar o senso de humor absurdo e escatológico que é típico dos
filmes estrelados por Seth Rogen e é surpreendente como o filme consegue
equilibrar toda essa faceta sem noção com o romance sentimental dos dois
personagens, criando cenas hilárias em seu absurdo, como o momento em que
Charlotte precisa resolver uma crise internacional enquanto está sob efeito de
ecstasy ou a estranha primeira transa do casal.
O filme também comenta sobre o contexto político atual, em
especial a respeito da ideia de espetacularização da política, na qual os meios
de comunicação tratam os políticos como meras figuras midiáticas, fazendo-os se
comportar como celebridades que precisam aparecer e polemizar a todo momento. O
presidente interpretado por Bob Odenkirk e seu guru midiático vivido por um
irreconhecível Andy Serkis são claramente inspirados em Trump e Steve Bannon
são concebidos como figuras deslumbradas e patéticas que apelam aos instintos
mais baixos das pessoas.
Sensível, bem humorado e distante de noções arcaicas sobre
relacionamentos, Casal Improvável é
uma comédia romântica como há muito não se via.
Nota: 8/10
Trailer
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