segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Crítica – GLOW: 3ª Temporada


Análise Crítica – GLOW: 3ª Temporada


Review – GLOW: 3ª Temporada
O final da segunda temporada de GLOW prometia uma mudança de ambiente para as personagens, transformando o programa de luta-livre que se passa dentro da série em um show ao vivo em um cassino ao invés de um programa televisivo. Chegando nesta terceira temporada, é bacana constatar que a mudança de fato serviu para fazer as personagens se transformarem e não uma mera troca de cenário.

Debbie (Betty Gilpin), Bash (Chris Lowell) e Sam (Marc Maron) agora precisam adaptar o formato de GLOW para uma atração em Las Vegas, no cassino chefiado por Sandy (Geena Davis), com a mudança afetando cada um deles e também o elenco de lutadoras. Ruth (Alison Brie) tem que lidar com a distância do namorado, Debbie sente saudades do filho pequeno, Arthie (Sunita Mani) e Yolanda (Shakira Barrera) começam a enfrentar problemas no relacionamento, enquanto que Cherry (Sydelle Noel) começa a tentar engravidar.

Se em temporadas anteriores as tramas se concentravam nos desafios e problemas de manter o show funcionando, agora que a atração está relativamente consolidada as tramas focam mais nos dilemas individuais das personagens ao invés das questões de bastidores. A mudança soa natural considerando que a essa altura já compreendemos como o show funciona e o status estável que a atração alcançou na vida das personagens.

A série continua a explorar o inerente machismo do show business, revelando como Debbie é constantemente subestimada e tratada apenas como um adereço bonito apesar de deter o título de produtora. Também revela o duplo julgamento ao qual as mulheres são submetidas ao mostrar Debbie sendo tratada como uma mãe relapsa por passar tempo longe do filho enquanto que homens não são submetidos ao mesmo tipo de cobrança. Algo similar acontece no arco de Cherry, que começa a ser rejeitada pelo marido ao reconsiderar a possibilidade de engravidar já que não quer abrir mão do trabalho.

A temporada também traz significativas transformações para algumas personagens, em especial o processo de Sheila (Gayla Rankin) em compreender que sua persona de “mulher-loba” era um mecanismo de defesa feito para distanciá-la do mundo e que ela eventualmente precisaria se desfazer dele se quisesse crescer como atriz. Bash, por sua vez, teima em lutar para reprimir sua homossexualidade, temendo o que acontecerá se sair do armário, consequências que soam bem reais e presentes considerando o que acontece durante o show da drag queen Bobby (Kevin Cahoon) em um dos episódios.

As inquietações das personagens diante da estabilidade do show acabam sendo um tema recorrente, com personagens como Ruth, Sam e Carmen (Britney Young) tentando encontrar algo que continue a representar algum desafio criativo em algo que se mantem o mesmo dia após dia. Com isso cada personagem enfrenta o desafio de “se encontrar” nesse novo status quo e se pessoas como Debbie rapidamente se adaptam, outras como Ruth parecem ainda não saberem para onde ir. Sam, por exemplo, ainda tem dificuldade em se adaptar ao papel de pai de Justine (Britt Baron), de se abrir e se mostrar vulnerável para filha, algo evidente no episódio em se recusa a comemorar com ela a venda de um roteiro para não ter que admitir que está tendo um infarto.

O elenco continua sendo o coração da série e as atrizes são ótimas em nos convencer da camaradagem que se forma entre elas ao passar do tempo, algo que fica bastante claro no episódio no qual vão acampar nas montanhas. Por outro lado, Geena Davis acaba sendo subaproveitada na temporada, com sua Sandy servindo mais como um dispositivo de roteiro, funcionado como uma advertência a se prender demais ao passado, ao invés de uma personagem plenamente realizada, o que é uma pena.

Ocasionalmente a série ainda volta a mostrar o show das personagens, conseguindo apresentar situações que justifiquem esse retorno a um elemento já bastante evidenciado nas duas temporadas anteriores. Um exemplo do episódio em que elas trocam suas “identidades de lutadoras” umas com as outras ou o final de temporada no qual todo o show se transforma em uma adaptação de Um Conto de Natal de Charles Dickens.

Talvez nem todo mundo goste do modo como a série se afasta um pouco da luta-livre em si, mas o desenvolvimento das personagens e o carisma do elenco é suficiente para manter a terceira temporada de GLOW interessante.

Nota: 8/10


Trailer

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