quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Crítica – Verão de 84


Análise Crítica – Verão de 84


Review – Verão de 84
Aplicando a conhecida premissa de “eu acho que meu vizinho é um assassino” a uma ambientação oitentista protagonizada por crianças, Verão de 84 funciona como uma mistura de Janela Indiscreta (1954) com Os Goonies (1985) e a nostalgia de Stranger Things. O resultado, no entanto, acaba sendo menor que a soma de suas partes e o que poderia ser uma aventura/suspense jovem se torna algo morno.

A trama acompanha Davey (Graham Verchere), um garoto de férias da escola que começa a suspeitar que o vizinho deles, o solitário policial Mackey (Rich Sommer) possa ser o serial killer que a polícia vem caçando a algum tempo. Ele conta suas suspeitas aos amigos Tommy (Judah Lewis), Woody (Caleb Emery) e Farraday (Cory Gruter-Andrew), unindo todos na investigação ao senhor Mackey. Além do quarteto, há também Nikki (Tiera Skovbyie) a bela garota da casa da frente que costumava ser babá de Davey e por quem o protagonista nutre uma certa paixão.

A narrativa tenta criar dúvida sobre o lado sombrio de Mackey colocando evidências de sua possível culpa ao mesmo tempo em que apresenta informações que mostram que os garotos podem estar errados. Seria um bom expediente para criar suspense, ampliando a incerteza e a tensão do público conforme a narrativa progride. O problema é a trama não apresenta qualquer outro suspeito para ser o assassino, deixando evidente que só pode ser Mackey, já que a revelação de alguém que nunca foi citado ou considerado suspeito antes soaria desonesta com o público.

O que mantêm o interesse é a habilidade do ator Rich Sommer em construir Mackey como um sujeito tão manso e relaxado que realmente soa difícil crer que ele poderia ser um perigoso assassino e pedófilo. Os quatro jovens atores que interpretam os protagonistas são eficientes em evocar a amizade dos garotos, mas o texto não dá muita substância aos seus personagens, prendendo-os a lugares-comuns rasos como “o nerd”, o “rebelde” e assim por diante, o que prejudica um pouco nossa conexão com esses personagens.

A ambientação nos anos 80 é competente, mas não faz nada que dezenas de outros produtos centrados nessa nostalgia oitentista já não tenham feito, o que incomoda é a insistência de usar sintetizadores o tempo todo na trilha musical, como se essa fosse a única marca de identidade musical do período. Mesmo Stranger Things, cujo tema musical é marcado por sintetizadores, não tem os instrumentos tocando de maneira tão insistente.

O que mais prejudica a narrativa acaba sendo a falta de motivações convincentemente construídas para a motivação da maioria dos personagens. Não há, por exemplo, muita razão para que Nikki se sinta atraída por Davey e a aproximação entre os dois parece acontecer por mera necessidade do roteiro. Do mesmo modo, é difícil comprar os argumentos de Farraday para desistir da missão durante o clímax quando haviam uma série de outras evidências (como a soda cáustica, que o próprio Farraday disse que não seria útil para jardinagem) contra Mackey.

O que realmente incomoda, no entanto, é a decisão de Mackey no final. As últimas cenas não só deixam claro que ele é um assassino obsessivo, como também que ele estava de olho em Davey como próxima vítima faz tempo. Assim, soa incoerente que um predador tão letal, metódico e obsessivo simplesmente decida abandonar uma vítima pela qual ansiou por tanto tempo, principalmente depois de todo o trabalho de furar o cerco policial para poder capturar o garoto. Seria como ver um leão desistir de devorar um cervo depois persegui-lo e derruba-lo no chão.

Eu entendo que a narrativa quis usar toda a jornada de Davey como uma metáfora para o amadurecimento, para a perda de inocência. No papel, a ideia até poderia funcionar ao mostrar esse garoto que o mundo é mais perigoso do que ele pensava e que monstros podem ser esconder sob uma fachada de ingenuidade. A questão é que o fato do final operar em um nível metafórico não significa necessariamente que o texto deva deixar de tratar seus personagens como sujeitos críveis (em especial quando essa questão metafórica só surge no desfecho) com motivações compreensíveis e sacrificar a credibilidade do personagem só para produzir uma metáfora acaba quebrando a imersão e diluindo o impacto de tudo que vimos só para criar um simbolismo que não dialoga com o que foi estabelecido até então sobre esses personagens. Inclusive a morte de um dos protagonistas acaba não repercutindo, servindo apenas como um choque momentâneo.

Verão de 84 apresenta algumas boas ideias, mas é prejudicado por personagens superficiais com motivações que nem sempre são bem construídas.

Nota: 5/10


Trailer

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