terça-feira, 27 de agosto de 2019

Rapsódias Revisitadas – Cantando na Chuva


Crítica – Cantando na Chuva


Review – Cantando na Chuva
Não é à toa que Cantando na Chuva seja um dos musicais mais celebrados de todos os tempos. Lançado em 1952, o filme é uma divertida e espetacular celebração de amor, música e do próprio ofício de fazer cinema. Com um elenco no auge de sua forma, é difícil não se deixar encantar por ele.

A trama se passa no final da década de 1920, no período de transição entre o cinema mudo e o cinema falado. O Cantor de Jazz (1927) acabava de ser lançado com um imenso sucesso financeiro ao finalmente apresentar uma projeção de vozes e canto sincrônica com a imagem. Diante do fascínio de público por filmes falados, a produtora de cinema na qual Don (Gene Kelly) e Cosmo (Donald O’Connor) trabalham resolve transformar sua mais recente produção em um filme falado. A companhia enfrenta problemas na transição, em especial pelo fato do par romântico de Don no filme, a atriz Lina Lamont (Jean Hagen), tem uma voz desagradável. A solução é chamar a aspirante a atriz Kathy (Debbie Reynolds) para dublar Lina, mas aos poucos Don vai se apaixonando por Kathy.

A dinâmica entre Don e Kathy é o típico romance de personalidades opostas que se desenvolvia nos musicais do período. Don é um frívolo galã de cinema que precisa aprender a ser humilde a alcançar seu potencial artístico, Kathy é uma inteligente e capaz atriz de teatro que tem de aprender a superar seu preconceito com o cinema, que o fato do audiovisual ser uma arte popular não o torna inferior. Ao longo do filme eles irão aprender um com o outro e esse enlace amoroso irá garantir o sucesso do filme que estão fazendo. Pode ser uma estrutura lugar comum, mas que funciona graças ao carisma de Kelly e Reynolds, ambos no auge de seus talentos no período, tanto como atores quanto como cantores e dançarinos.

A narrativa também é extremamente competente em retratar os problemas presentes na transição do cinema mudo para o falado, mostrando os principais problemas enfrentados pelas produtoras que passaram por essa mudança tecnológica. Os atores já não podiam mais se movimentar livremente pelo set, pois precisavam obedecer à marcação do campo de captação dos microfones. Treinamento vocal passou a ser necessário, já que nem todos tinham uma boa dicção ou uma voz apropriada para canto. Era preciso antecipar problemas de colocação do microfone ou a acidental captação de ruídos no set de filmagem. Qualquer um que queira entender os desafios da guinada tecnológica do som no cinema tem em Cantando na Chuva uma verdadeira aula sobre essa transição.

Toda essa trama é elevada pela excelência dos números musicais, cujas letras e coreografias ficam na memória mesmo muito tempo depois de ter assistido o filme. Eu já perdi a conta de quantas vezes assisti esse filme e, ainda assim, toda vez ele coloca um sorriso enorme no meu rosto. Da adorável canção Good Morning, ao longo e apoteótico número final no qual Don descreve suas ideias ao chefe do estúdio, passando pelo divertido Make’em Laugh, que impressiona pela capacidade física do ator Donald O’Connor para usar o corpo e o rosto para fins cômicos, é difícil não encontrar aqui uma performance que não seja cheia de afeto, carisma e talento do elenco. Isso claro, sem falar do número que dá título ao filme, com Gene Kelly dançando com seu guarda-chuva enquanto celebra seu amor por Kathy.

Com tudo isso é fácil de entender como Cantando na Chuva ocupa um lugar de destaque na história do cinema com sua narrativa cheia de alegria, afeto e paixão pela música e pelo próprio cinema.

Trailer


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