Juntos há cerca de vinte anos, os membros de um quarteto de
cordas precisam confrontar a possibilidade do grupo acabar quando um deles
descobre ter Parkinson. O quarteto, formado por Daniel (Mark Ivanir), Robert
(Phillip Seymour Hoffman), Juliette (Catherine Keener) e Peter (Christopher
Walken) passam a reexaminar as principais decisões tomadas nas últimas décadas
quando Peter anuncia que em breve precisará deixar o grupo por conta de sua
saúde.
A trama aborda o quão complexa é a dinâmica de um grupo
musical deste tipo, já que não basta saber tocar, cada um precisa estar em
sintonia com o outro, ter estilos e abordagens compatíveis e ser capaz de
colocar o grupo em primeiro lugar. É um sistema social bastante delicado e um
desarranjo em qualquer elemento põe os demais em desarmonia. É exatamente isso
que acontece quando Peter anuncia sua doença, ao confrontar a mortalidade do
amigo e o fim do grupo como conhecem, os outros três membros acabam entrando em
conflito.
A possibilidade do fim do grupo levanta neles a ideia de que
as escolhas que fizeram até então para manter o quarteto funcionando foram em
vão e velhos ressentimentos começam a emergir, como o fato de que Robert nunca
pode ser o primeiro violinista do grupo ou que Juliette deixou de lado sua
paixão por Daniel para ficar com Robert apenas porque ele era mais conveniente.
O elenco contribui para que sintamos o peso dos anos sobre o grupo, convencendo
que são pessoas que convivem a muito tempo e compreendem muito bem os vícios e
virtudes de cada um dos companheiros.
Esses conflitos entre passado, presente e futuro reverberam
na poesia lida por Peter no começo do filme, versos escritos pelo poeta T.S
Eliot sobre as últimas peças para quarteto de cordas compostos por Beethoven,
justamente as peças tocadas pelo grupo. A ideia é que as jornadas dos
personagens ecoam a da música que tocam, um choque de tempos e emoções no qual
tudo que foi e tudo que virá desemboca no agora reconhecendo que a arte é algo
quase sempre localizado no presente. Afinal, um filme só se realiza quando está
sendo exibido, antes ou depois disso é só um rolo de filme numa lata ou dados
em um disco rígido. Uma música só existe quando é tocada, caso contrário são
apenas notas em uma partitura.
Por outro lado, muito do potencial de conflito acaba sendo
reduzido a querelas amorosas entre os personagens, o que soa como um tratamento
superficial a todos os problemas que poderiam emergir de conviver com pessoas
com personalidades tão distintas, mas igualmente fortes, durante tanto tempo.
Além de falar do triângulo passado entre Daniel, Juliette e Robert, a trama
ainda constrói um romance entre Daniel e Alexandra (Imogen Poots), filha de
Juliette e Robert.
Além de sintetizar os problemas do grupo em disputas
amorosas, esses conflitos acabam sendo resolvido de maneira muito rápida e
muito fácil. Basta Alexandra ver um antigo documentário da mãe falando sobre a
importância do quarteto para que ela imediatamente desista de seu romance com
Daniel. No final, quando todos decidem seguir a sugestão que Robert de tocarem
sem partituras, deveria ser algo para consolidar a harmonia reencontrada pelo
grupo, mas soa pouco convincente porque nunca vimos esses personagens
efetivamente resolvendo as próprias diferenças. Como na última cena em que
Daniel e Robert estiveram juntos eles trocaram socos, parece estranho vê-los
magicamente em sintonia um com o outro.
Apesar de alguns problemas de roteiro, O Último Concerto envolve pelo talento de seus atores e funciona
como uma boa metáfora para o modo como a arte se relaciona com vida.
Trailer
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