Não sabia muito o que esperar do novo Brinquedo Assassino. Não morro de amores pelo filme original, ainda
que aprecie seu charme em abraçar sem medo o próprio absurdo de sua premissa.
Esta nova versão, no entanto, acabou se mostrando desprovida de muita
personalidade, falhando em construir um carisma próprio a despeito de seu
esforço de atualizar a premissa principal.
Se antes o boneco Chucky era possuído pelo espírito de um serial killer depois de um ritual que dá
errado, agora Chucky (voz de Mark Hamill) é um boneco ultra tecnológico dotado
de uma inteligência artificial que o faz interagir com diferentes aparelhos.
Chucky, no entanto, tem sua IA sabotada na fábrica e programada para ser
agressiva, o que obviamente gera problemas que ele chega na casa do garoto Andy
(Gabriel Bateman) e sua mãe Karen (Aubrey Plaza).
Tudo bem que a premissa do original era razoavelmente
ridícula, mas ele tinha consciência disso e conseguia construir algo bastante
singular. Aqui, no entanto, Chucky é só mais uma IA defeituosa igual a tantos
outros filmes que apresentavam um antagonista similar. Mark Hamill, que foi a
voz do Coringa nas animações e games do Batman durante anos, é perfeitamente
capaz de fazer o Chucky soar sinistro, mas sem a ironia e sarcasmo sádico que o
personagem tinha antes, o boneco nada mais é que um robô frio cujas frases de
efeito são apenas repetições de falas de outros personagens que até podem soar
engraçadas quando Chucky diz, mas que não constroem, em si, uma personalidade
própria ao boneco.
Há uma tentativa de fazer Chucky parecer uma figura trágica,
mas não funciona porque já na primeira cena vemos que o boneco foi programado
para ser violento. Assim, seus arroubos de violência são menos uma consequência
direta do tratamento que ele recebe de Andy e seus amigos e mais um
desdobramento natural de uma máquina cumprindo a tarefa que foi programada para
fazer.
É possível também perceber que a trama tenta usar o boneco
para falar de consumismo e convergência tecnológica, mas nunca vai além de
poucas observações pontuais, nunca tendo nada relevante a dizer sobre essas ideias.
Desta maneira, toda a mudança na mitologia do personagem soa desperdiçada, já a
alteração é feita praticamente a troco de nada. Imagino que a ideia de fazer
Chucky um boneco tecnológico foi também pensada para justificar porque uma
criança nos dias de hoje iria querer um boneco para brincar, mas isso podia ser
contornado simplesmente situando a trama no passado, na década de noventa,
oitenta ou antes.
Se há um acerto é na construção do gore e de mortes criativamente violentas como toda a cena em que
Chucky mata um homem em uma plantação de melancias ou toda a carnificina insana
que irrompe no terceiro ato do filme e torna tudo bastante divertido. Por outro
lado, parte do clímax não faz muito sentido, afinal, se Chucky foi “reconstruído”
com um novo núcleo e tudo mais, como ele ainda tem as memórias de antes?
Brinquedo Assassino consegue
criar algumas mortes divertidas, mas peca pela falta de personalidade de seu
protagonista, reduzido a uma inteligência artificial genérica.
Nota: 5/10
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