Desde sucesso Cazuza:
O Tempo Não Para (2004), o cinema brasileiro encontrou um padrão bem
sucedido de cinebiografias que vem repetindo desde então. Este Hebe: A Estrela do Brasil é bastante
tributário a este modelo, ainda que consiga evitar repetição em alguns aspectos
e falhe em outros.
Enquanto a maioria das cinebiografias brasileiras tenta
contar a vida inteira do biografado, como acontece em Gonzaga:
De Pai Para Filho (2012), Tim Maia
(2014) ou Elis (2016),
resultando em algo episódico e superficial, este filme se concentra em um
período da vida da apresentadora Hebe Camargo (Andrea Beltrão). Acompanhamos
Hebe na década de oitenta, em sua transição da rede Bandeirantes para o SBT de
Silvio Santos (Daniel Boaventura), bem como suas disputas com os órgãos de
censura ainda existentes e seus problemas no casamento com Lélio (Marco Ricca).
A trama de fato funciona de maneira mais concisa, usando
esse breve recorte como uma metonímia da vida da apresentadora, demonstrando
sua extravagância, sua personalidade forte, sua defesa de minorias e também
seus hábitos destrutivos. A narrativa acerta em evitar endeusar Hebe e mostrar
suas contradições, como o fato de que apesar de defender minorias, em especial
a população LGBT, e ter posturas politicamente progressistas, ainda assim ela
se aliava a figuras que representavam o que havia de mais conservador e
fisiologista na política brasileira, como Paulo Maluf, de quem era uma ferrenha
defensora.
Alguns arcos dramáticos acabam não indo a lugar nenhum. No
início, por exemplo, vemos Hebe esquecer onde guardou suas joias durante uma
noite de bebedeira e acusar os empregados da casa de roubo, apenas para depois
se lembrar do que aconteceu. Imaginamos que a questão da bebida irá continuar a
ser abordada mais para frente, no entanto é completamente esquecida.
Por outro lado, há uma clara intenção de usar toda a temática
do enfrentamento da censura e modo como Hebe enfrentava o conservadorismo de sua
época como um paralelo para os dias atuais no qual uma nova onda reacionária
tenta censurar a arte que não se adequa a seus padrões de normalidade. Do mesmo
modo, os conflitos matrimoniais entre Hebe e o marido demonstram como mesmo uma
mulher poderosa encontra dificuldades para por um fim a um relacionamento
abusivo.
O grande trunfo do filme, porém, é o trabalho de Andrea
Beltrão como Hebe, captando com habilidade a personalidade expansiva e
impositiva da apresentadora, uma pessoa que sempre tentava fazer valer sua
vontade. A atriz constrói com naturalidade a excentricidade da apresentadora,
algo que poderia facilmente cair na caricatura nas mãos de uma intérprete menos
habilidosa e acredita na sua personagem mesmo quando o texto lhe dá péssimos diálogos
para trabalhar. Um exemplo é a cena em que Hebe vai ao hospital visitar seu
cabeleireiro, que está com AIDS. A conversa entre os dois a respeito da doença
tem um didatismo tão grande que mais parece uma video-aula sobre o tema e só
não quebra a nossa imersão pela verdade que Beltrão traz à sua Hebe durante
todo o filme.
Ainda que tenha alguns problemas de roteiro, Hebe: A Estrela do
Brasil é uma biografia concisa que é elevada pelo ótimo trabalho de Andrea Beltrão.
Nota: 7/10
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