quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Crítica - Hebe: A Estrela do Brasil


Análise Crítica - Hebe: A Estrela do Brasil


Review - Hebe: A Estrela do Brasil
Desde sucesso Cazuza: O Tempo Não Para (2004), o cinema brasileiro encontrou um padrão bem sucedido de cinebiografias que vem repetindo desde então. Este Hebe: A Estrela do Brasil é bastante tributário a este modelo, ainda que consiga evitar repetição em alguns aspectos e falhe em outros.

Enquanto a maioria das cinebiografias brasileiras tenta contar a vida inteira do biografado, como acontece em Gonzaga: De Pai Para Filho (2012), Tim Maia (2014) ou Elis (2016), resultando em algo episódico e superficial, este filme se concentra em um período da vida da apresentadora Hebe Camargo (Andrea Beltrão). Acompanhamos Hebe na década de oitenta, em sua transição da rede Bandeirantes para o SBT de Silvio Santos (Daniel Boaventura), bem como suas disputas com os órgãos de censura ainda existentes e seus problemas no casamento com Lélio (Marco Ricca).

A trama de fato funciona de maneira mais concisa, usando esse breve recorte como uma metonímia da vida da apresentadora, demonstrando sua extravagância, sua personalidade forte, sua defesa de minorias e também seus hábitos destrutivos. A narrativa acerta em evitar endeusar Hebe e mostrar suas contradições, como o fato de que apesar de defender minorias, em especial a população LGBT, e ter posturas politicamente progressistas, ainda assim ela se aliava a figuras que representavam o que havia de mais conservador e fisiologista na política brasileira, como Paulo Maluf, de quem era uma ferrenha defensora.

Alguns arcos dramáticos acabam não indo a lugar nenhum. No início, por exemplo, vemos Hebe esquecer onde guardou suas joias durante uma noite de bebedeira e acusar os empregados da casa de roubo, apenas para depois se lembrar do que aconteceu. Imaginamos que a questão da bebida irá continuar a ser abordada mais para frente, no entanto é completamente esquecida.

Por outro lado, há uma clara intenção de usar toda a temática do enfrentamento da censura e modo como Hebe enfrentava o conservadorismo de sua época como um paralelo para os dias atuais no qual uma nova onda reacionária tenta censurar a arte que não se adequa a seus padrões de normalidade. Do mesmo modo, os conflitos matrimoniais entre Hebe e o marido demonstram como mesmo uma mulher poderosa encontra dificuldades para por um fim a um relacionamento abusivo.

O grande trunfo do filme, porém, é o trabalho de Andrea Beltrão como Hebe, captando com habilidade a personalidade expansiva e impositiva da apresentadora, uma pessoa que sempre tentava fazer valer sua vontade. A atriz constrói com naturalidade a excentricidade da apresentadora, algo que poderia facilmente cair na caricatura nas mãos de uma intérprete menos habilidosa e acredita na sua personagem mesmo quando o texto lhe dá péssimos diálogos para trabalhar. Um exemplo é a cena em que Hebe vai ao hospital visitar seu cabeleireiro, que está com AIDS. A conversa entre os dois a respeito da doença tem um didatismo tão grande que mais parece uma video-aula sobre o tema e só não quebra a nossa imersão pela verdade que Beltrão traz à sua Hebe durante todo o filme.

Ainda que tenha alguns problemas de roteiro, Hebe: A Estrela do Brasil é uma biografia concisa que é elevada pelo ótimo trabalho de Andrea Beltrão.


Nota: 7/10

Trailer

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