Apesar de ter adorado It: A Coisa (2017), confesso que estava apreensivo com essa segunda parte, já
que, no livro de Stephen King, o segmento com os personagens com os personagens
adultos é bem inferior ao início com os personagens crianças. Este It: Capítulo 2 é, de fato, inferior à
primeira parte, mas ao menos consegue funcionar como um desfecho digno e é bem
melhor que a péssima segunda parte da versão televisiva da década de noventa.
A trama se passa 27 anos depois do original. Mike (Isaiah
Mustafa), o único do Clube dos Otários a permanecer em Derry, se dá conta de
que a onda de mortes de Pennywise (Bill Skarsgard) recomeçou. Assim, ele chama
os demais amigos para voltarem à cidade e cumprirem o juramento que fizeram de
eliminar a criatura de uma vez por todas caso ela voltasse.
O elenco adulto é competente, mas não encanta o mesmo tanto
que o elenco jovem do primeiro filme. Parte do problema é inerente à própria
situação, afinal ver crianças sendo confrontadas com seus medos é uma situação
mais tensa do que acompanhar adultos dotados de certa maturidade e ciência de
suas vulnerabilidades emocionais passarem pela mesma situação. Outra razão é
que a trama em si não dá muito espaço para desenvolver esses personagens em
suas novas situações e vermos o tanto que eles se transformaram. Temos um
pequeno vislumbre disso na cena do restaurante chinês, mas depois o filme se
reduz a uma corrida contra o tempo para derrotar Pennywise.
O elenco jovem projeta uma sombra grande sobre o novo elenco
adulto também pela escolha do filme em constantemente inserir flashbacks da infância dos personagens.
O problema desses flashbacks é que
eles quebram o fluxo de desenvolvimento da trama sem oferecer muita coisa em
troca. Já sabíamos desde o filme anterior da culpa que Bill (James McAvoy)
carregava pela morte do irmão menor, da complicada relação de Bev (Jessica
Chastain) com o pai ou a paixão mal resolvida de Ben (Jay Ryan) por Bev.
Assim, o miolo do filme fica com um ritmo truncado a troco
de informações repetidas, já que apenas as memórias de Richie (Bill Hader)
acrescentam algo que não sabíamos sobre o personagem. Isso acaba estendendo
desnecessariamente a duração do filme a inchadas duas hora e cinquenta minutos,
quando podia ter pouco mais de duas horas se essas redundâncias tivessem ficado
na sala de edição.
Bill acaba tendo algum destaque pelo fato da trama inserir
um conflito envolvendo as tentativas dele de proteger um garoto local da fúria
de Pennywise para tentar purgar a culpa de seu irmão, mas os demais não tem
muito desenvolvimento, principalmente Mike, preso a um papel o limita a
explicar a mitologia envolvendo A Coisa. Outro destaque é Richie por conta do
talento de Bill Hader em roubar praticamente toda a cena em que aparece, seja
por suas interjeições cômicas, seja em momentos dramáticos próximos ao final. O
desfecho, por sinal, completa os temas iniciados no primeiro filme sobre
superação de traumas e aprender a deixar o passado para trás, oferecendo um
encerramento digno para a jornada de seus protagonistas.
Apesar da narrativa tropeçar, o filme não deixa de ser um
terror eficiente graças à performance sinistra de Bill Skarsgard como o palhaço
Pennywise, com um misto de simplicidade infantil e sadismo que torna difícil
não sentir um frio na espinha toda vez que o vemos em cena com seu olhar
desencontrado. Os momentos de terror também funcionam pelo talento do diretor
Andy Muschietti em criar imagens criativas em sua natureza macabra, a exemplo
na cena em que vemos patas de aranha brotarem em uma cabeça decomposta ou na
cena em que uma velhinha se torna uma criatura horrenda e deformada.
It: Capítulo 2 é
inferior ao seu antecessor, mas continua a oferecer bons momentos de terror e
funciona como um encerramento razoável para o Clube dos Otários.
Nota: 6/10
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