Fiquei bem curioso para assistir este Os Mortos Não Morrem. Sou fã do diretor Jim Jarmusch e gosto do
modo como ele cria narrativas repletas de personagens pitorescos e com um senso
de humor bem singular. Pois o filme acabou sendo mais fraco do que eu esperava
e, apesar de ter gostado, imagino que quem não estiver habituado ao cinema do
diretor talvez não encontre muito o que apreciar.
A trama se passa em uma pequena cidade no interior dos
Estados Unidos e o filme faz um claro paralelo com a cidade na qual A Noite dos Mortos Vivos (1968), de
George Romero, se passava Uma dupla de policiais, Cliff (Bill Murray) e Ronnie (Adam
Driver) começam a investigar eventos estranhos ocorrendo na cidade após uma
catástrofe ambiental causar uma mudança no eixo de rotação da Terra.
O filme não tem exatamente um único protagonista e transita,
ao longo da narrativa, por várias figuras insólitas que habitam ou estão de
passagem pela cidade. Do hermitão vivido por Tom Waits, que serve como
narrador, passando pelo vendedor obcecado com filmes de terror e zumbis
interpretado por Caleb Landry Jones, a esquisita agente funerária escocesa de
Tilda Swinton ou a hipster vivida por Selena Gomez. Todos esses personagens
ajudam a injetar humor e estranheza na trama, mesmo quando a narrativa não tem
um direcionamento muito claro.
Não há um grande conflito ou um grande objetivo a ser
alcançado. O filme pula de situação inusitada para situação inusitada da
população lidando com os zumbis. Aliás, chama atenção a atitude blasé de muitos
personagens que simplesmente seguem a vida como se a infestação de zumbis ou o
desastre ambiental que a causou não fossem grande coisa. É como se Jarmusch
usasse essa passividade para comentar sobre como nossa sociedade segue passiva
perante os problemas sociais ou ambientais que nos circulam, o modo que tocamos
nossas vidas como se não houvessem eventos graves no horizonte.
Pode também ser um comentário sobre o desgaste e saturação
do gênero de zumbis, que tudo ficou tão manjado que ninguém mais se abala
demais com esse tipo de ocorrência. Isso pode ser visto tanto no balconista
vivido por Caleb Landry Jones, que guia sua conduta diante da crise a partir de
seu repertório de filmes de zumbi. Também é percebido no policial Ronnie, que
ao ser indagado sobre a maneira tranquila e apática com a qual lida com toda a
situação responde que está tranquilo porque leu todo o roteiro do filme e sabe
exatamente o que vai acontecer.
Os zumbis são lentos e sedentos por carne humana, como de
costume, mas aqui eles também falam algumas poucas palavras, repetindo o nome
de coisas que consumiam quando vivos como café ou champanhe e buscando esses
itens além da carne humana. A ideia parece ser comentar sobre o consumismo
exacerbado e como somos “zumbificados” por eles, vivendo apenas para consumir. Não
é algo exatamente novo, o próprio George Romero já trabalhou com essas ideias
em muitos de seus filmes e, tal qual a atitude passiva dos humanos, é algo que
o filme trata de maneira passageira demais para dar consistência ou frescor a
essas ideias.
Em Os Mortos Não
Morrem Jim Jarmusch não entrega a reinvenção do cinema de zumbis que se
esperava dele, mas ainda tem carisma e humor suficientes para fazer a
experiência ser minimamente divertida.
Nota: 6/10
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