Começando com uma citação à obra literária No Coração das Trevas, este Contato Visceral já promete, antes que
vejamos qualquer imagem do filme, uma jornada rumo à loucura e a degradação.
Não é o primeiro nem será o último filme de terror a fazer isso, mas seus
problemas não residem na reprodução de um arco dramático familiar e sim como
esse arco é construído.
A trama é centrada em Will (Armie Hammer), um bartender que
vive na cidade de Nova Orleans. Apesar de morar com a namorada, Carrie (Dakota
Johnson), Will é apaixonado por Alicia (Zazie Beetz), uma amiga e cliente
regular do seu bar. Os problemas de Will começam quando ele encontra um celular
esquecido no bar e tenta entrar em contato com alguém que conheça o dono pelos
contatos do próprio aparelho, mas começa a receber mensagens macabras.
A ideia é que as imagens e vídeos macabros enviados a ele
vão aos poucos tirando sua sanidade, mas é difícil comprar a ideia de que ele
fique tão fascinado ou impactado com aquilo tudo. Afinal, estamos em uma era de
notícias falsas, com imagens e vídeos virais aterrorizantes claramente
fabricados (como a história do Slender
Man), então é difícil embarcar na noção que as imagens e mensagens seriam o
suficiente para levar uma pessoa normal a sair do sério.
Sim, fica implícito que essas imagens tem algum tipo de
força sobrenatural que atrai aqueles que a olham, algo que remete a ideia de
horror cósmico da literatura do H.P Lovecraft no qual a mera visão desses seres
sobrenaturais seria o suficiente para acabar com a sanidade de alguém. No
entanto, a trama nunca exatamente desenvolve de maneira clara a mitologia que
envolve os elementos sobrenaturais que insere, então tudo soa frouxo e mal
desenvolvido.
As imagens de feridas e insetos saindo de dentro delas
parece funcionar como uma metáfora visual para a podridão interna do
protagonista, cujo principal traço definido pela trama é seu desejo de trair a
namorada. O filme até cria algumas imagens sinistras com feridas e corpos
putrefatos, mas isso é muito pontual e não consegue construir um clima
consistente de um universo sujo, corrompido e moralmente decadente, algo que
filmes como O Cheiro do Ralo (2006)
ou O Bar da Luva Dourada (2019)
fizeram bem.
O filme tenta usar as imagens sobrenaturais que Will e
Carrie veem, em especial as imagens de um túnel (ou portal) aparentemente
infinito como uma metáfora para a incompletude do ser humano, sempre em busca
de algo para se sentir pleno, mas nunca satisfeito com nada. O problema com
essa proposta é que os personagens não são plenamente desenvolvidos ao ponto de
soar convincente. Não sabemos quase nada sobre Carrie para que essa jornada
faça sentido para a personagem e no que se refere a Will apenas seu desejo não
concretizado por Alicia parece ser uma fonte de insatisfação, já que ele não
parece ter nenhum problema em trabalhar em um bar de quinta categoria sem qualquer
perspectiva de futuro. Desta maneira, o arco dos personagens soa mais como uma
necessidade de roteiro e o texto nunca tem nada a dizer sobre os temas que
propõe além dessas observações básicas sobre o ser humano e sua constante busca
por significado, falhando em criar um senso de pavor existencial como fez o
ótimo Midsommar (2019).
Contato Visceral tenta
apresentar uma trama sobre o temor do vazio de nossa existência, mas é
prejudicado por personagens rasos, uma narrativa superficial e uma mitologia frouxa,
fazendo tudo soar vago ao invés de enigmático.
Nota: 3/10
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