quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Crítica - Contato Visceral


Análise Crítica - Contato Visceral


Review - Contato Visceral
Começando com uma citação à obra literária No Coração das Trevas, este Contato Visceral já promete, antes que vejamos qualquer imagem do filme, uma jornada rumo à loucura e a degradação. Não é o primeiro nem será o último filme de terror a fazer isso, mas seus problemas não residem na reprodução de um arco dramático familiar e sim como esse arco é construído.

A trama é centrada em Will (Armie Hammer), um bartender que vive na cidade de Nova Orleans. Apesar de morar com a namorada, Carrie (Dakota Johnson), Will é apaixonado por Alicia (Zazie Beetz), uma amiga e cliente regular do seu bar. Os problemas de Will começam quando ele encontra um celular esquecido no bar e tenta entrar em contato com alguém que conheça o dono pelos contatos do próprio aparelho, mas começa a receber mensagens macabras.

A ideia é que as imagens e vídeos macabros enviados a ele vão aos poucos tirando sua sanidade, mas é difícil comprar a ideia de que ele fique tão fascinado ou impactado com aquilo tudo. Afinal, estamos em uma era de notícias falsas, com imagens e vídeos virais aterrorizantes claramente fabricados (como a história do Slender Man), então é difícil embarcar na noção que as imagens e mensagens seriam o suficiente para levar uma pessoa normal a sair do sério.

Sim, fica implícito que essas imagens tem algum tipo de força sobrenatural que atrai aqueles que a olham, algo que remete a ideia de horror cósmico da literatura do H.P Lovecraft no qual a mera visão desses seres sobrenaturais seria o suficiente para acabar com a sanidade de alguém. No entanto, a trama nunca exatamente desenvolve de maneira clara a mitologia que envolve os elementos sobrenaturais que insere, então tudo soa frouxo e mal desenvolvido.

As imagens de feridas e insetos saindo de dentro delas parece funcionar como uma metáfora visual para a podridão interna do protagonista, cujo principal traço definido pela trama é seu desejo de trair a namorada. O filme até cria algumas imagens sinistras com feridas e corpos putrefatos, mas isso é muito pontual e não consegue construir um clima consistente de um universo sujo, corrompido e moralmente decadente, algo que filmes como O Cheiro do Ralo (2006) ou O Bar da Luva Dourada (2019) fizeram bem.

O filme tenta usar as imagens sobrenaturais que Will e Carrie veem, em especial as imagens de um túnel (ou portal) aparentemente infinito como uma metáfora para a incompletude do ser humano, sempre em busca de algo para se sentir pleno, mas nunca satisfeito com nada. O problema com essa proposta é que os personagens não são plenamente desenvolvidos ao ponto de soar convincente. Não sabemos quase nada sobre Carrie para que essa jornada faça sentido para a personagem e no que se refere a Will apenas seu desejo não concretizado por Alicia parece ser uma fonte de insatisfação, já que ele não parece ter nenhum problema em trabalhar em um bar de quinta categoria sem qualquer perspectiva de futuro. Desta maneira, o arco dos personagens soa mais como uma necessidade de roteiro e o texto nunca tem nada a dizer sobre os temas que propõe além dessas observações básicas sobre o ser humano e sua constante busca por significado, falhando em criar um senso de pavor existencial como fez o ótimo Midsommar (2019).

Contato Visceral tenta apresentar uma trama sobre o temor do vazio de nossa existência, mas é prejudicado por personagens rasos, uma narrativa superficial e uma mitologia frouxa, fazendo tudo soar vago ao invés de enigmático.

Nota: 3/10

Trailer

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