Apesar de adorar Breaking
Bad confesso que tive receio quando ouvi que este longa-metragem El Camino serviria como um epílogo para
a série focando no que aconteceu com Jesse Pinkman (Aaron Paul) depois de ter
saído do cativeiro, afinal Felina,
episódio final de Breaking Bad, é um
desfecho excelente que praticamente não exige um complemento. Por outro lado,
também tive o mesmo temor pela série Better Call Saul e o resultado final da série provou que eu não tinha razão para
ficar desconfiado da capacidade do diretor e roteirista Vince Gilligan. El Camino, no entanto, acaba ficando em
uma espécie de meio termo, mantendo a competência estética de Gilligan, mas
falhando em trazer novos olhares a personagens conhecidos como fez Better Call Saul.
A trama começa imediatamente depois dos eventos do episódio
final de Breaking Bad, com Jesse
fugindo do cativeiro depois de Walt (Bryan Cranston) matar a gangue do Uncle
Jack. Jesse vai para a casa de seus amigos Skinny Pete (Charles Baker) e Badger
(Matt Jones) para se abrigar, descobrindo através dos noticiários que a polícia
o considera o principal suspeito pelas mortes da gangue e de Walt. Assim, Jesse
precisa arranjar um meio de sair da cidade de Albuquerque em meio ao cerco
policial.
A estrutura do filme lembra bastante a maneira como Felina era estruturado. Se lá
acompanhávamos Walt amarrando as pontas soltas de sua vida, confrontando as
pessoas importantes e partindo para um último ato de vingança, aqui é Jesse
quem faz tudo isso. Vemos Jesse dar um último adeus a seus amigos, ter uma
conversa com os pais na qual admite ele próprio ser o culpado por seus
infortúnios ao invés deles (a cena lembra bastante a conversa entre Walt e
Skyler em Felina) e se vingar de
algumas pessoas que o maltrataram no cativeiro.
A trama da vingança é talvez a mais deslocada, já que nenhum
desses personagens tinha sido citado em Breaking
Bad e fica evidente que o confronto entre Jesse e eles existe como um
simulacro da gangue do Uncle Jack, da qual ele não pode mais se vingar por
todos já terem sido mortos por Walt. Do mesmo modo, boa parte dos longos flashbacks entre Jesse e Todd (Jesse
Plemons) acrescentam pouco ao que já sabíamos sobre a dolorida existência de
Jesse no cativeiro e poderiam ser reduzidas às informações relativas ao
dinheiro de Todd. Alguns flashbacks parecem
acontecer por puro fanservice como o
que envolve um personagem importante de Breaking
Bad.
Por outro lado, o filme continua a mostrar a capacidade de
Gilligan em contar a história através de imagens. Jesse mal fala durante os
primeiros quinze minutos, mas é possível perceber com muita clareza a dor e
trauma do personagem pela atuação de Aaron Paul e o modo como a montagem
alterna entre objetos e eventos que Jesse enxerga e momentos de tortura no
cativeiro, denotando o estresse pós-traumático experimentado pelo protagonista.
Como em Breaking Bad e
em Better Call Saul, o texto é
eficiente em criar significado mesmo para pequenos gestos. Um exemplo é o
momento em que Skinny Pete dá seu gorro a Jesse para que ele use como disfarce.
É evidente que o gorro terá pouca serventia, no entanto o gesto de Pete deixa
claro que ele sabe que provavelmente nunca mais verá Jesse e quer que o amigo
lembre dele. É um evento breve dentro da trama, mas que diz muito sobre a
amizade daqueles dois personagens.
Há também uma eficiente construção de tensão, com situações
de confronto sendo temporalmente estendidas conforme temos a impressão de que
um confronto violento pode irromper a qualquer momento. Breaking Bad e seus derivados sempre tiveram esse timing de um western e El Camino deixa
isso ainda mais evidente ao enquadrar o confronto final entre Jesse e Neil
(Scott McArthur) como um tradicional duelo do gênero.
Desta maneira, El
Camino funciona como uma despedida competente para Jesse Pinkman, ainda que
não acrescente muito ao que já sabíamos sobre o personagem.
Nota: 7/10
Trailer
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